Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
julgamentos erigidos… E para tanto não voltar a ocorrer pediram a outorga<br />
régia do Direito de Petição (concedida, evidentemente). Voltaire, no Século de<br />
Luís XIV, sublinha que já este Rei havia reconhecido aos seus súbditos o direito<br />
de lhe dirigirem petições, como o de lhe dirigirem projectos e até sugestões…<br />
Houve hesitações; não as há sempre? … George III perdeu a sua augusta<br />
paciência com John Wilkes e este, por seu turno, tinha perdido a dele com o<br />
Tratado de Paris, publicando quanto lhe parecia de tal coisa… O Rei sentiu-se<br />
insultado, ordenando a perseguição penal e política de Wilkes e uma vez mais é<br />
a House of Lords quem vem interpor-se. William Pitt, Primeiro-Ministro<br />
(daquele Rei) desde os 24 anos, vem à Câmara, debilitado e doente, mas exigir a<br />
fidelidade ao Direito, porque a paciência pode acabar, bem entendido, mas o<br />
Direito não. Esta alocução é hoje um monumento do legado cultural comum:<br />
A questão da verdade e da mentira<br />
“These three words, nullus liber homo, have a meaning<br />
which interests us all; they deserve to be remembered they<br />
are worth all the classics. Let us not, then, degenerate from<br />
the glorious example of our ancestors. Those iron barons<br />
(for so I may call them when compared with the silken<br />
barons of modern days) were the guardians of the people;<br />
yet their virtues, my lords, were never engaged in a question<br />
of such importance as the present. A breach has been made<br />
in the constitution—the battlements are dismantled—the<br />
citadel is open to the first invader—the walls totter—the<br />
place is no longer tenable. What then remains for us but to<br />
stand foremost in the breach, to repair it, or to perish in it ?”<br />
Outra hesitação, profunda e nada colérica, foi a de Frederico II da Prússia.<br />
Enunciou-a no Discours sur les Libellles (Oeuvres Philosophiques, Fayard, 85).<br />
Conta ter estado incógnito na Holanda (onde mais poderia ter sido, não é?)<br />
tendo ali encontrado, numa estalagem, um panfletário com quem estabeleceu<br />
diálogo de onde viriam a emergir as suas profundas dúvidas sobre a liberdade<br />
de imprensa (como hoje diríamos). Era um caluniador a soldo, um mercenário<br />
da pena, com a sordidez de olhar de um polícia contemporâneo. (Homem não<br />
apenas capaz de acusar pela citação de St.º Agostinho, mas o próprio Santo<br />
Agostinho, está visto) -“Todos os homens são maus”, dizia ele. E portanto dizer<br />
mal de alguém traduziria apenas e quando muito alguma incorrecção em<br />
detalhe, substancialmente irrelevante… (isto é-nos familiar, não é?) e a<br />
Frederico, bom protestante, isto lembrava-lhe o monstruoso cardeal de Polignac<br />
a vender bispos jansenistas ao papa (reais ou fictícios… eles não eram, como<br />
hoje não são, especialmente exigentes com a disciplina da prova). É o que<br />
penso… um inquisideiro, sem mais. O acusador de Aquilino. Hoje eles são<br />
todos funcionários, porque já não há Frederico II (a falta que um homem pode<br />
fazer…).<br />
73