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mas com excepcional radicalidade. Paulo Ferreira da Cunha é um desses casos.<br />
Deus o proteja. Ninguém mais conseguirá fazê-lo.<br />
Excepções à parte, nada disto tem, por tudo e para dizer o mínimo, qualquer<br />
qualificação possível face ao que quer que seja, mas sobretudo face à dinâmica<br />
de qualquer Universidade Europeia, começando já em Santiago de Compostela<br />
(aliás a maior universidade da Europa). As promessas de “novo modelo”, como<br />
a nova Faculdade de Direito do Porto e a Faculdade da Universidade Nova<br />
desbloquearam algumas coisas, é certo. Paulo Ferreira da Cunha teve iniciativas<br />
muito interessantes. Sim. Com reflexos internos nulos. E nula informação.<br />
Infelizmente. Mas com informação ou sem ela estamos muito longe do<br />
restabelecimento de quanto se perdeu. Teríamos de esperar, no mínimo, trinta<br />
anos, começando agora… Tal como os carvalhos, esse é o tempo para estas<br />
árvores se fazerem belas. Mas podem nascer onde menos se espera, é verdade,<br />
como no sonho do Patriarca, ao qual assistiu Victor Hugo – invocando talvez os<br />
direitos da poesia ante a qual todas as esferas se abrem – sonho onde um cedro<br />
se erguia do seu velho corpo aos céus. (Em baixo um Rei cantaria. Em cima<br />
morria um Deus).<br />
Enquanto estas árvores não surgem… A classe alta e média alta tende a<br />
abandonar as universidades locais, obviamente. No plano docente, aquilo não<br />
paga sequer os livros necessários, a comprar lá onde haja livrarias. E no plano<br />
da política fiscal, ignoram-se completamente as necessidades intelectuais dos<br />
universitários, como aliás se ignoram todas as especificidades de quaisquer<br />
sujeitos da vida cultural. Um Catedrático em dedicação exclusiva leva para casa<br />
uma irrelevância e, se tiver filhos crescidos, eles estão provavelmente<br />
desempregados… Como os Catedráticos conseguem estudar é um mistério. As<br />
despesas com livros têm o tratamento fiscal das demais restrições ao consumo<br />
(alucinadamente determinadas, segundo tudo indica). Mas as despesas de<br />
educação dos filhos, também. Há uma necessidade de não ler demais, portanto.<br />
Imagine-se. E uma necessidade de não educar tão bem quanto se pretenda,<br />
parece. Assim pensam indiciariamente os Ministros das Finanças locais,<br />
admitindo que pensam (admissão a título de mera hipótese e jamais<br />
concedendo quanto à imprescindibilidade de demonstração cabal). No plano<br />
discente – e não obstante - os miúdos devem ir estudar lá onde se estude e se<br />
discuta. Lá onde haja novidades. Livrarias e livreiros. Lá onde sobreviva a<br />
“gente normal”, para usar expressão cara aos correspondentes diálogos de<br />
família. Qualquer pai decidirá assim quando o possa fazer.<br />
A “educação nacional” – expressão mantida por Salazar e originária da tradição<br />
republicana francesa – a “educação nacional” a expressar, na sua origem, a<br />
reacção às correntes do cosmopolitismo de raiz kantiana, esta educação<br />
nacional, insistindo em formar o “cidadão nacional” por contraposição à<br />
cidadania do mundo, atingiu aqui o colapso à escala deste fiasco ainda<br />
chamado Estado, cujas patologias são hoje o primeiro problema da<br />
comunidade. O Estado deixou há décadas de ser instrumento para resolver<br />
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