16.06.2013 Views

PARANÁ (1920-1930). 2006 - Universidade Federal do Paraná

PARANÁ (1920-1930). 2006 - Universidade Federal do Paraná

PARANÁ (1920-1930). 2006 - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A fundamentação da denúncia <strong>do</strong> Adjunto de Promotor (Ernesto de Araújo<br />

Góes), baseia-se inicialmente nos “boatos” que a justiça (instrumento: autoridades,<br />

magistra<strong>do</strong>s etc.) deve (e é seu dever enquanto Promotor), averiguar em nome da<br />

ordem e da própria justiça (no senti<strong>do</strong> de dar a cada um o que lhe é de direito), e se<br />

for a situação aplicar a lei (instrumento máximo de normalização e de vida). Tais<br />

boatos devem ser postos sob investigação jurídica de verdade e aplicação da punição<br />

– que segun<strong>do</strong> o promotor – deve acontecer pelas provas de que ele efetivamente<br />

agrediu Joaquim Félix (e o Auto de Corpo Delicto comprovaria esse argumento), e<br />

que o comportamento (detalhe para que apenas Pacifico é cita<strong>do</strong>), de Pacifico é<br />

desordeiro e violento “com algumas pessoas”.<br />

Denúncia feita, o próximo passo é a inquirição das testemunhas, ao to<strong>do</strong> sete<br />

são solicitadas pelo Promotor. Essa “fase” <strong>do</strong> processo se inicia em 27/02 (três dias<br />

após a queixa na delegacia). A Primeira testemunha (“informante”) é:<br />

Severiano Barbosa de Oliveira, com trinta annos de edade, casa<strong>do</strong>, lavradôr, natural <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> de Santa Chatharina residente neste termo, não sabe ler nem escrever, e aos<br />

costumes disse nada testemunha que ten<strong>do</strong> presta<strong>do</strong> o comprisso da lei prometeu dizer a<br />

verdade <strong>do</strong> que soubesse e lhe fosse pergunta<strong>do</strong>, e sen<strong>do</strong> inqueri<strong>do</strong> sobre o facto constante<br />

na portaria de folhas duas, que lhe foi lida Disse 79 : que no dia quinze <strong>do</strong> corrente mêz, pela<br />

tarde estava em sua casa quan<strong>do</strong> ali chegou o offendi<strong>do</strong>, appresentan<strong>do</strong> um braço<br />

destronca<strong>do</strong> e lhe disse, que, estan<strong>do</strong> a ajudar aos accusa<strong>do</strong>s a assignalar uns porcos, estes<br />

sem motivo plausível, pois entre elles não havia ti<strong>do</strong> discussão de espécie alguma, foi<br />

rapidamente aggredi<strong>do</strong> a relho e a rabo de tatu pelos accusa<strong>do</strong>s pacífico Pinto de Lima e seu<br />

filho Jose, que para defender-se levantou obraço direito; que o offendi<strong>do</strong> contou-lhe mais<br />

que ao saltar a cerca para escapar-se Jose Pinto de Lima saccou <strong>do</strong> revolver com o intuito<br />

de atiral-o, o que não levou a effeito devi<strong>do</strong> a intervenção da mulher <strong>do</strong> mesmo José 80 .<br />

79 Essa estrutura discursiva se manterá durante toda inquirição das testemunhas, ela é condição<br />

suficiente e indispensável para que se afirme a legitimidade daquilo que o <strong>do</strong>ente estará afirman<strong>do</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> que pode-se atribuir a essa estrutura discursiva a mesma função <strong>do</strong> encerramento de to<strong>do</strong><br />

depoimento onde basicamente e com pouca ou nenhuma alteração o seguinte: “E como nada mais<br />

disse nem lhe foi pergunta<strong>do</strong>, deu-se por fin<strong>do</strong> seu depoimento que depois de lhe sêr li<strong>do</strong> e acha<strong>do</strong><br />

conforme o assigna o Cidadão (...), por não saber lêr nem escrevêr, com o Delega<strong>do</strong>, <strong>do</strong> que tu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>u fé! Eu Pedro Augusto Car<strong>do</strong>so, o Escrivão o escrevi”. Essa estrutura sofre pequena alteração no<br />

caso <strong>do</strong> depoente saber ler e escrever. Observe-se que a validade <strong>do</strong> depoimento realizada é<br />

afirmada pela presença das autoridades e de sua conformidade com o méto<strong>do</strong>, a forma e as<br />

condições com que o depoente declarou o seu conhecimento e sua opinião dentro da “objetividade”<br />

da pergunta que lhe foi feita.<br />

80 COMARCA DE PALMAS. JUÍZO DO TERMO DE CLEVELÂNDIA. Processo-crime contra<br />

Pacifico Pinto de Lima e José de Pinto Lima. <strong>1920</strong>. p.10-11.<br />

43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!