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Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...

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(esse ingrediente que, aos olhos do jornalismo convencional, torna qualquer<br />

inci<strong>de</strong>nte muito mais espetacular), o episódio po<strong>de</strong>ria revelar como operam<br />

as engrenagens ocultas da linha produtiva do agronegócio, trazendo riscos,<br />

nada <strong>de</strong>sprezíveis, para quem transita pelas proximida<strong>de</strong>s dos pulverizadores<br />

aéreos. Como não havia cadáveres boiando na correnteza do Rio Ver<strong>de</strong>, o caso<br />

teria passado em branco, não fosse a persistência <strong>de</strong> Paulo Machado. Logo ele<br />

rumou para Lucas do Rio Ver<strong>de</strong>. Logo ouviria essa história diretamente <strong>de</strong> Seu<br />

Ivo – e <strong>de</strong> muitos outros.<br />

Este livro conta, em <strong>de</strong>talhes, como evoluiu a investigação que Paulo<br />

levou adiante. Sua apuração ren<strong>de</strong>u matérias <strong>de</strong> rádio, televisão e internet, que<br />

alcançaram boa repercussão, não por narrar um <strong>de</strong>sastre passado – pois <strong>de</strong>sastre,<br />

propriamente, não houve – mas por prevenir, e ajudar a evitar, <strong>de</strong>sastres<br />

futuros. Agora, o presente volume vai muito além das reportagens publicadas<br />

em 2006. Ao longo <strong>de</strong>stas páginas, a gente se sente acompanhando a saga do<br />

repórter; a narrativa se constrói no mesmo ritmo em que os fatos são <strong>de</strong>tectados<br />

e <strong>de</strong>scritos pelo seu investigador. O leitor <strong>de</strong>sfruta <strong>de</strong> uma sensação rara,<br />

que é a <strong>de</strong> entrar na pele do jornalista e <strong>de</strong>sbravar o acontecido. É emocionante.<br />

O autor teve o capricho <strong>de</strong> transcrever muitas das conversas que manteve<br />

com as fontes e que não foram aproveitadas na íntegra nas reportagens que ele<br />

escreveu em 2006. Ele também reproduz suas anotações, como quem abre um<br />

diário confi<strong>de</strong>ncial, e faz isso <strong>de</strong> um modo envolvente, revelando-se suficientemente<br />

hábil na difícil arte <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r a atenção <strong>de</strong> quem o lê. Com isso, consegue<br />

um efeito notável: o material que ele traz a público, e que permanecera<br />

inédito até a edição <strong>de</strong>ste livro, transforma um caso que foi objeto <strong>de</strong> tantas<br />

reportagens da Radiobrás num livro cheio <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s. Absolutamente interessantes.<br />

Interessantes porque graves. Sem <strong>de</strong>mérito nenhum para a pujança do<br />

agronegócio no Brasil, o que não está em questão, este livro põe em relevo o<br />

uso indiscriminado <strong>de</strong> <strong>agrotóxico</strong>s nas plantações <strong>de</strong> larga escala, uma prática<br />

silenciosa que é uma es<strong>pé</strong>cie <strong>de</strong> submundo do trabalho e da indústria e que<br />

ainda está por ser <strong>de</strong>scortinada e <strong>de</strong>vidamente conhecida. Neste trabalho, aparecem<br />

com crueza o <strong>de</strong>scontrole e o abuso. Aparece também o modo como a<br />

comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> agir – e age, ao menos em Lucas do Rio Ver<strong>de</strong> – para se dar<br />

conta do problema e para se proteger do mal que ele carrega. Este livro não se<br />

resume a uma reles “<strong>de</strong>núncia”, essa coisa tão banal e, quando banalizada, tão<br />

estéril. Ele reconstitui e narra um fato, buscando os diversos lados a ele relacionados,<br />

além <strong>de</strong> estudar suas raízes e iluminar suas conseqüências. Mais que<br />

isso, acaba registrando o impacto que as próprias reportagens – principalmente<br />

aquelas veiculadas na “Voz do Brasil” – tiveram sobre os <strong>de</strong>bates e as ações

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