Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...
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15 A Viagem <strong>de</strong> Volta ao Passado<br />
O cinegrafista Osmar Ferreira Nascimento e eu embarcamos e tomamos<br />
assento em poltronas separadas, no vôo <strong>de</strong> Brasília para Cuiabá. De on<strong>de</strong><br />
estava, podia observar os passageiros entrarem no <strong>avião</strong> lotado e disputarem<br />
seus lugares com outros que, inadvertidamente, sentavam em qualquer lugar.<br />
<strong>Um</strong> dos últimos a entrar era um baixinho com cara <strong>de</strong> invocado. Cabelos lisos,<br />
castanho-escuros, que caíam até o ombro, quase emendados a uma espessa<br />
barba negra, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> fora apenas as grossas lentes dos óculos redondos e<br />
pequenos com aro <strong>de</strong> metal. Sentou-se na terceira fila entre um homem e uma<br />
mulher. Vi que na sua entrada cumprimentava diversas pessoas que passavam<br />
por ele e por quem passava – era um cara conhecido. A porta do <strong>avião</strong> se fechou<br />
logo em seguida e as comissárias <strong>de</strong> bordo apressavam-se em distribuir<br />
balinhas enquanto verificavam se todos estavam com as poltronas na posição<br />
vertical e com os cintos atados. Logo o <strong>avião</strong> pôs-se em movimento, primeiro<br />
empurrado para traz e em seguida para frente, com suas próprias forças.<br />
Demoramos a levantar vôo. Nossa aeronave teve que esperar na longa fila <strong>de</strong><br />
aviões que <strong>de</strong>colam <strong>de</strong> Brasília na sexta-feira à noite. Passaram-se uns quinze<br />
minutos até que atingisse a cabeceira da pista, enchesse os canos <strong>de</strong> combustível,<br />
roncasse os motores no pleno <strong>de</strong> sua potência e ganhássemos o céu percorrendo<br />
uma longa curva rumo ao oeste.<br />
Aguar<strong>de</strong>i ansioso até que as luzes que nos retinham obrigatoriamente<br />
nas poltronas se apagassem. Assim que fui autorizado me levantei para encontrar<br />
o “baixinho invocado”.<br />
Pedi licença para meu vizinho <strong>de</strong> poltrona e avancei pelo corredor. Enquanto<br />
caminhava pensava na incrível coincidência – nunca tinha ido a Cuiabá<br />
e logo na primeira vez encontro alguém que não via há anos. Cheguei à<br />
poltrona on<strong>de</strong> o Pig estava sentado. Olhei em seus olhos e lhe perguntei:<br />
– O que você está fazendo aqui?<br />
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