Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...
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e que esse tipo <strong>de</strong> reportagem que estávamos fazendo estava prejudicando os<br />
negócios. Disse-lhe que não era nossa intenção prejudicar os negócios, mas<br />
que era nossa obrigação informar ao cidadão sobre os riscos que estava correndo.<br />
O prefeito retrucou dizendo que essa matéria estava difamando a cida<strong>de</strong>.<br />
Fui obrigado a interrompê-lo:<br />
– O senhor não acha que o que está difamando a cida<strong>de</strong> é a pulverização<br />
com <strong>agrotóxico</strong>s que a população sofreu? Nós estamos aqui simplesmente para<br />
documentar, para noticiar o aci<strong>de</strong>nte, não estamos aqui para difamar. Nossas matérias<br />
são todas feitas com fontes i<strong>de</strong>ntificadas que po<strong>de</strong>m ser responsabilizadas<br />
civil e criminalmente por suas <strong>de</strong>clarações, caso o senhor tenha alguma reclamação<br />
contra elas. Não usamos informações <strong>de</strong> fontes que não se i<strong>de</strong>ntifiquem<br />
ou que não nos autorizem a publicá-las. Por exemplo: o senhor po<strong>de</strong> dizer o que<br />
quiser para mim aqui mas, se não autorizar, não plubicarei uma só palavra.<br />
O prefeito continuou insistindo, dizendo que era um exportador <strong>de</strong> soja<br />
e que o estado inteiro <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> financiamentos <strong>de</strong> bancos estrangeiros para<br />
po<strong>de</strong>r exportar. Disse que esse tipo <strong>de</strong> reportagem po<strong>de</strong>ria atrapalhar o negócio,<br />
pois os acionistas dos bancos europeus controlavam em que era aplicado<br />
o seu dinheiro. Vi que <strong>de</strong>via ser mais claro com o prefeito. Disse a ele nós estávamos<br />
ali para reportar o que aconteceu e se ele não tomasse as providências<br />
que <strong>de</strong>veriam ser tomadas e, se no próximo ano a cida<strong>de</strong> fosse novamente<br />
pulverizada com <strong>agrotóxico</strong>s, provavelmente, nós voltaríamos para mais uma<br />
reportagem.<br />
Acho que sentindo minha <strong>de</strong>terminação ele resolveu mudar <strong>de</strong> assunto.<br />
Disse que era agrônomo havia mais <strong>de</strong> 15 anos e que o acontecido não era tão<br />
sério assim, que o veneno era inofensivo. Resolvi interrompê-lo novamente:<br />
– O senhor quer discutir a toxida<strong>de</strong> do veneno, vamos discutir, mas<br />
gravando. O senhor concorda?<br />
O prefeito pensou um pouco e respon<strong>de</strong>u:<br />
– Acho melhor <strong>de</strong>ixar esse assunto <strong>de</strong> lado.<br />
Resolvi dar uma sugestão ao prefeito, para quebrar seu constrangimento:<br />
– Olha, se o senhor se colocar contra o trabalho da imprensa provavelmente<br />
o senhor vai sair per<strong>de</strong>ndo, politicamente falando, pois o assunto já<br />
ganhou repercussão nacional.<br />
Sugeri que ele capitalizasse o acontecimento a seu favor. Elogiei o fato<br />
<strong>de</strong> que Lucas não jogava para <strong>de</strong>baixo do tapete suas mazelas. Lembrei-lhe que