Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...
Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...
Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
100<br />
tra. Aplicavam tudo como mandava o figurino: sementes híbridas, fertilizantes<br />
químicos, inseticidas, fungicidas e herbicidas. Rodolfo, conhecido como um<br />
cara chato, daqueles que gostam <strong>de</strong> perguntar os porquês das coisas, conseguiu<br />
convencer sua equipe a não usar nada daquilo. Sua tese era <strong>de</strong> que, se o produtor<br />
usasse tudo que a “mo<strong>de</strong>rna tecnologia” recomendava, o lucro da plantação<br />
ficaria para a indústria <strong>de</strong> insumos agrícolas, e o produtor ou teria prejuízo ou,<br />
no máximo, conseguiria empatar <strong>de</strong>spesa com receita.<br />
Dito e feito. Os que usaram o receituário agronômico da indústria colheram<br />
frutos bonitos, comercialmente valorizados, em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, mas na<br />
hora <strong>de</strong> contabilizar os custos mal conseguiram cobrir as <strong>de</strong>spesas. A equipe do<br />
meu amigo não colheu frutos tão bonitos nem em quantida<strong>de</strong> equivalente à experiência<br />
das <strong>de</strong>mais equipes, mas a contabilida<strong>de</strong> da lavoura ficou favorável ao<br />
produtor. Ele teve lucro pois investiu menos, usou adubação orgânica e <strong>de</strong>ixou<br />
que a natureza fizesse seu papel com relativo controle das pragas.<br />
Celito Trevisan foi contun<strong>de</strong>nte. Aproveitou a <strong>de</strong>ixa da minha história e a<br />
<strong>de</strong>claração da secretária <strong>de</strong> Agricultura e Meio Ambiente sobre os prejuízos dos<br />
agricultores e questionou o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> agricultura baseado na monocultura:<br />
– Por que não diversificam? Por que continuam plantando sempre a<br />
mesma coisa? Por que não plantam <strong>de</strong> maneira ecologicamente correta?<br />
Ele perguntou e ele mesmo respon<strong>de</strong>u:<br />
– Porque quando tomam prejuízo apertam o governo e o governo perdoa<br />
as dívidas com dinheiro do povo. Repartem o prejuízo com todo o povo<br />
brasileiro. E continuou - mas quando a saca <strong>de</strong> soja estava a 45 reais veja se<br />
eles chamaram o povo para repartir os lucros? Fizeram comprar caminhonetes<br />
importadas, compraram mais terras e expulsaram os pequenos agricultores<br />
- esse mo<strong>de</strong>lo só consegue concentrar mais ainda a proprieda<strong>de</strong> e expulsar o<br />
homem do campo.<br />
Celito complementou:<br />
– Esse pessoal do agronegócio não percebe que está cavando a própria<br />
sepultura. Se é que esse mundo vai ter um fim, não vai ser preciso nem a bomba<br />
atômica. Estamos plantando a cada dia nossa própria bomba atômica.<br />
Nilffo aproveitou a <strong>de</strong>ixa do companheiro e questionou:<br />
– Esse país sempre viveu <strong>de</strong> ciclos: primeiro foi o ciclo do Pau-Brasil,<br />
<strong>de</strong>pois do ouro, da cana-<strong>de</strong>-açúcar, do café e sempre tem uma elite que se be-