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Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...

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108<br />

Parece que na feira todo mundo tem uma história <strong>de</strong> intoxicação para<br />

contar. Os consumidores estavam assustados e procuravam comprar mais os<br />

legumes que “dão <strong>de</strong>baixo da terra”, achando que estariam imunes à contaminação.<br />

<strong>Um</strong> chacareiro me diz:<br />

– Eles evitam as verduras <strong>de</strong> folhas. Só tenho conseguido ven<strong>de</strong>r beterraba,<br />

cenoura e mandioca. A couve e a alface têm voltado todinha.<br />

Mesmo chacareiros localizados fora do alcance do veneno e que, aparentemente,<br />

não tiveram suas verduras afetadas, sofriam com o estigma da<br />

contaminação que tinha se abatido sobre a cida<strong>de</strong>.<br />

Entrevistei mais um produtor que narrou as perdas que seu vizinho sofreu:<br />

– Meu vizinho tinha uma plantação <strong>de</strong> mamão papaia que já tava dando,<br />

ficou tudo furado, ele per<strong>de</strong>u tudo. Os mamões murcharam e os <strong>pé</strong>s morreram.<br />

Ele relacionou os prejuízos sofridos e perguntou:<br />

– Quem vai pagar por isso?<br />

Senti que éramos observados por um sujeito alto e forte, tipo “italianão”.<br />

Olhei para ele. Com sotaque <strong>de</strong> gaúcho, mas tipicamente <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alguma<br />

colônia italiana, ele me perguntou se estávamos fazendo uma reportagem<br />

sobre o <strong>de</strong>ssecante:<br />

– Esse que jogaram por tudo sobre a cida<strong>de</strong>?<br />

Respondi que sim e ele me convidou para conhecer sua proprieda<strong>de</strong><br />

para ver que ele tinha perdido tudo que estava plantado. Me disse que viu o<br />

<strong>avião</strong> do vizinho pulverizando na hora que estava armando “aquele chuvão do<br />

outro lado do rio.” E acrescentou que o piloto fazia a volta em cima <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong><br />

“com tudo os tanque aberto”. Anotei seu nome: Ivo Casonato, e combinei<br />

uma entrevista para o dia seguinte. Havia <strong>de</strong>scoberto uma testemunha<br />

ocular da pulverização. Anotei também o nome <strong>de</strong> outro chacareiro: Nelson<br />

Kaefer, que entrevistaria no domingo <strong>de</strong> manhã.<br />

Parei em frente a outra banca, on<strong>de</strong> uma jovem loura, <strong>de</strong> uns 25 anos<br />

no máximo, muito bonita, vendia pães caseiros e mel. Perguntei a ela se havia<br />

algum risco <strong>de</strong> o mel estar contaminado com <strong>agrotóxico</strong>s. Ela sorriu e olhou<br />

para a câmera fazendo sinal para que <strong>de</strong>sligasse. Osmar olhou para mim e

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