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Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...

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Preparando-me para fazer a reportagem, longe das brigas acadêmicas,<br />

<strong>de</strong>parei-me novamente com o apaixonante assunto. Ciente do perigo das paixões<br />

em minha profissão, sabia que antes <strong>de</strong> mais nada não podia e não <strong>de</strong>via<br />

<strong>de</strong>ixar que elas tomassem conta <strong>de</strong> minha razão. Procurei organizar os pensamentos<br />

e ver em que medida esse processo histórico tinha a ver com minha<br />

pauta. Sabia <strong>de</strong> antemão que em Lucas essa polêmica representava dois lados<br />

que se opunham, aliás, como acontece em todo o país. De um lado os agricultores<br />

familiares, a agricultura orgânica, os pequenos produtores. De outro, os<br />

gran<strong>de</strong>s produtores, com o uso intensivo <strong>de</strong> capital e os interesses das megacorporações<br />

que fornecem insumos agrícolas, a monocultura e o agronegócio.<br />

Entre esses dois lados está o cidadão que geralmente não sabe o que está consumindo<br />

por não dispor <strong>de</strong> informações suficientes sobre as formas utilizadas<br />

pela agricultura para produzir os alimentos. Em minha reportagem, <strong>de</strong>veria<br />

abordar todos os lados da questão, os interesses contraditórios, não do ponto<br />

<strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>ológico, mas na prática, no cotidiano, nos fatos objetivos da realida<strong>de</strong><br />

do aci<strong>de</strong>nte. Meu <strong>de</strong>safio era fornecer as informações necessárias para que<br />

o público tirasse suas conclusões.<br />

Confesso que naquela tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sexta-feira, a poucas horas <strong>de</strong> embarcar<br />

para Lucas do Rio Ver<strong>de</strong>, senti medo. Cheguei a pensar que o <strong>de</strong>safio era gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mais para mim. Comecei a entrar em pânico. Procurei me acalmar – “não<br />

sou candidato a herói, vou fazer o que for possível”, pensei comigo mesmo. A<br />

realida<strong>de</strong> que iria documentar, <strong>de</strong> repente se tornou tão ampla que me senti<br />

ínfimo em relação a ela. “<strong>Um</strong> passo <strong>de</strong> cada vez” – me aconselhei. Refeito do<br />

susto intelectual, comecei a preparar a segunda matéria da Voz do Brasil, que<br />

<strong>de</strong>ixaria gravada para ir ao ar naquela noite, no momento em que estaria me<br />

dirigindo para o aeroporto.

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