Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa ...
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Lucas do Rio Ver<strong>de</strong> – segunda-feira, 03 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2006 – 17h.<br />
Para Lindonésia Andra<strong>de</strong>, bióloga, responsável pelo Horto <strong>de</strong> Plantas Medicinais<br />
da Fundação Instituto Padre João Peter, o dia 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong>ste ano ficará<br />
na história como o dia em que ela per<strong>de</strong>u anos <strong>de</strong> sua pesquisa sobre plantas<br />
medicinais e seus efeitos fitoterápicos. Segundo ela, “anos <strong>de</strong> pesquisa foram por<br />
água abaixo, num só dia, <strong>de</strong>vido à irresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sujeito que passa<br />
pulverizando numa área muito próxima à cida<strong>de</strong>”, referindo-se à pulverização<br />
por uma <strong>nuvem</strong> <strong>de</strong> <strong>agrotóxico</strong>s que atingiu a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lucas do Rio Ver<strong>de</strong>.<br />
As plantas medicinais eram utilizadas pelo instituto para o preparo <strong>de</strong><br />
medicamentos servidos gratuitamente a doentes carentes da cida<strong>de</strong>. Segundo<br />
a bióloga, “muitos doentes que estavam fazendo tratamento com nossos remédios<br />
tiveram que interromper”.<br />
Lindonésia disse que o efeito do veneno foi bem rápido. No dia seguinte<br />
à pulverização [dia 2 <strong>de</strong> março], o efeito já era visível em toda a cida<strong>de</strong>: hortas,<br />
quintais e a vegetação ornamental da cida<strong>de</strong> foram atingidas. Ela <strong>de</strong>screve: “As<br />
folhas ficavam como um papel amassado e queimado, outras ficavam todas<br />
perfuradas e em volta dos furos logo começava a necrosar [apodrecer]. No<br />
quarto dia as folhas entraram em necrose total e começaram a cair”.<br />
A bióloga explica que esse veneno também tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> diminuir<br />
a ação <strong>de</strong> crescimento das plantas. “Nós tivemos que fazer uma poda radical<br />
e só agora [dia 1º <strong>de</strong> abril] as plantas estão começando a soltar novas gemas<br />
[brotos]. Nós vamos acompanhar para ver o que vai ser possível aproveitar ou<br />
o que teremos que erradicar e plantar novamente”.<br />
O horto medicinal conta com mais <strong>de</strong> 200 es<strong>pé</strong>cies <strong>de</strong> plantas catalogadas,<br />
<strong>de</strong>ntre elas muitas ervas ocupavam canteiros inteiros que hoje estão limpos. As<br />
plantas tiveram que ser arrancadas. Os olhos <strong>de</strong> Lindonésia se enchem <strong>de</strong> lágrimas<br />
quando ela relembra o caminhão saindo carregado <strong>de</strong> galhos, ramos e folhas<br />
mortos, <strong>de</strong>pois da poda radical. Ela explica que muitas varieda<strong>de</strong>s são bastante<br />
raras, só dão sementes uma vez ao ano e <strong>de</strong>morarão muito para se recuperar.<br />
A responsável pelo horto medicinal suspeita que o veneno utilizado tenha<br />
sido o paraquat, um po<strong>de</strong>roso <strong>agrotóxico</strong> utilizado para <strong>de</strong>ssecar as folhas<br />
da soja e apressar a colheita. “<strong>Um</strong> veneno que nos países <strong>de</strong>senvolvidos nem se<br />
utiliza mais, porque é do Tipo <strong>Um</strong>, é muito tóxico, além <strong>de</strong> prejudicar a vegetação,<br />
ainda prejudica outros seres vivos, inclusive nós.”