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Flaviano Celaschi, Dijon De Moraes<br />
em xeque a velha dicotomia entre Centro-Periferia, agora denominada de eixo<br />
Norte-Sul (APPADURAI, 1990; BECK, 2000; FEATHERSTONE, 1990; HABERMAS,<br />
1999). Com este novo cenário que se prefigura, o mundo deixa de ser dividido<br />
em espaços visivelmente delimitados entre ricos e pobres, cultos e ignorantes,<br />
civilizados e bárbaros, doutos e analfabetos. É como se os containers, uma vez<br />
rígidos e protegidos, fossem abertos e seus conteúdos misturados entre si, como<br />
nos atesta Manzini (2004). O mundo, em consequência, ficou rapidamente muito<br />
mais complexo, como nos demonstram os estudos de Andrea Branzi (2006) e<br />
Zygmunt Bauman (2002) nos âmbitos da cultura do projeto e do estilo de vida<br />
respectivamente.<br />
Necessário se faz, portanto, entender que passamos da técnica para a cultura<br />
tecnológica, da produção para a cultura produtiva e do projeto para a cultura<br />
projetual. Tudo isso ampliou o raio de ação dos designers, ao mesmo tempo em<br />
que aumentou também a complexidade de sua atuação. A complexidade tende a<br />
se caracterizar pela inter-relação recorrente entre a abundância das informações,<br />
hoje facilmente disponíveis e desconexas. De igual forma, essa complexidade se<br />
caracteriza pela inter-relação recorrente entre empresa, mercado, produto, consumo<br />
e cultura (esta, por sua vez, age de forma interdependente em seu contexto<br />
ambiental). A complexidade tende a tensões contraditórias e imprevisíveis e, por<br />
meio de bruscas transformações, impõe contínuas adaptações e a reorganizações<br />
do sistema no nível da produção, das vendas e do consumo nos moldes conhecidos.<br />
O design, nesse contexto, repensa seu percurso e novos desafios lhe são postos:<br />
a questão do alinhamento socioeconômico-ambiental, que interessa tanto aos<br />
países ricos como aos países pobres, a questão da identidade local, que passa<br />
a ter valor percebido por preservar estilos de vida ameaçados pelo processo de<br />
aculturamento e pela massificação global. Os valores, antes tidos como intangíveis<br />
e imateriais, ganham novos espaços junto às disciplinas projetuais e chegam mesmo<br />
a superar os valores técnicos e objetivos por meio das relações cognitivas e dos<br />
fatores sensoriais. Novos modelos surgem como linhas-guia para a cultura do<br />
projeto no qual o velho briefing deixa de ser uma certeza, com demandas precisas<br />
e respostas exatas, para ceder lugar ao modelo metaprojetual que encontramos nos<br />
estudos de Deserti (2007), Celaschi (2000) e Moraes (2010), que indicam caminhos<br />
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Cadernos de Estudos Avançados em Design - design e humanismo - 2013 - p. 35-60