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Gui Bonsiepe<br />

a situação atual. Advoga-se a favor de um design clinicamente antisséptico,<br />

perfeitamente condizente com a política do status quo que dominou – e ainda em<br />

boa medida domina – o discurso nas últimas três décadas.<br />

É sintomático que hoje seja necessário relembrar essas relações do design com<br />

seu contexto social, que foram silenciadas pelo peso dos rigorosos critérios do<br />

marketing, do branding e da competitividade. Considermos que a atual crise mundial<br />

acabou motivando essa redescoberta das mais dignas tradições do projeto moderno,<br />

que foram vilipendiadas pelas posturas pós-modernas, com suas duas principais<br />

variantes: pós-estruturalismo e neo-conservadorismo, segundo Hal Foster (1985).<br />

Embora a palavra “crise” tenha começado a ocupar as manchetes na mídia<br />

somente a partir do ano 2008, como consequência do cataclismo financeiro, os<br />

sintomas de uma crise mais ampla e mais profunda se manifestavam há bastante<br />

tempo. Essa crise, na visão do Centro – nesse caso a Europa – tem sido atribuída<br />

aos “quatro cavaleiros do Apocalipse do século 21”. Slavoj Zizek (2010) formula<br />

a seguinte lista:<br />

- a crise ambiental;<br />

- as consequências da revolução biogenética;<br />

- os desequilíbrios dentro do sistema social (sobretudo, a exploração dos recursos<br />

naturais);<br />

- o crescimento explosivo da exclusão (vale dizer: bipolarização das sociedades).<br />

Olhando-se da periferia ou, se preferimos, da semiperiferia, precisamos agregar<br />

um quinto cavaleiro, representado pelos interesses hegemônicos que esmagam as<br />

necessidades da população local, representados, entre outros, pelos desmatamentos,<br />

as monoculturas com uso intensivo de agrotóxicos, a mineração a céu aberto e a<br />

contaminação dos recursos hídricos. Eles tendem a solapar as bases da sobrevivência<br />

biológica e econômica da população.<br />

Inevitavelmente, essas crises se refletem também no design, incluindo seu<br />

discurso, seu ensino e sua prática profissional. Não nos inclinamos a formular<br />

previsões apocalípticas, que poderiam provocar desânimo e fatalismo. Esse tipo de<br />

atitude seria inaceitável para um projetista, que deve preservar sua autoconfiança,<br />

para que possa intervir na realidade com as suas ações projetuais, mesmo que sejam<br />

limitadas as possibilidades de uma contribuição concreta. Recorremos ao significado<br />

62<br />

Cadernos de Estudos Avançados em Design - design e humanismo - 2013 - p. 61-69

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