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Tendências e antitendências no design industrial<br />
diminuir a heteronímia? Nesse ponto se coloca a diferença fundamental entre Design<br />
Periférico e Design Central. Deve estar claro que essa afirmação não implica um juízo<br />
de valor. Trata-se de distinções e não de juízos. Não está excluída a possibilidade de<br />
que também o Design Periférico desenvolva um projeto de um telefone celular coberto<br />
por diamantes – provavelmente um projeto de baixa relevância social.<br />
No processo de diversificação do design surgiu, nas décadas passadas, uma<br />
multiplicidade de novas especializações de design, em parte como consequência<br />
e ao mesmo tempo causa do crescimento na oferta de cursos e programas de<br />
ensino de design. Os imperativos do marketing forçaram as instituições de ensino<br />
a se diferenciarem. O entusiasmo provocou o design de experiências (experience<br />
design), pois parecia abrir novos espaços para o design e ir além do design<br />
tradicional de produtos. Queriam mais em diversão, mais em emoções, mais em<br />
paixão, mais em imaterialidade. Não se deve duvidar das boas intenções dos<br />
promotores de design de experiências, porém nota-se um resíduo de desconforto<br />
quando se lembra o substrato físico e perceptível (sobretudo nos artefatos digitais<br />
interativos), imprescindível para provocar emoções. A pretensão de querer projetar<br />
experiências e emoções assemelha-se ao intento de enfrentar a tarefa projetual<br />
pelas costas. Assemelha-se ao intento de querer cozinhar sem ingredientes. Isso<br />
não nos leva muito longe e não veste os produtos com a desejada aura de emoção<br />
e experiência profunda.<br />
Aqueles que pretendem entronizar o design de experiências como uma primadona<br />
e estabelecê-lo num campo próprio cometem o mesmo erro daqueles que<br />
transformaram a estética no principal ponto de atenção do designer. O tema central<br />
do design é aquela camada da realidade, aquele substrato que permite mediar<br />
experiências e emoções.<br />
Tenho dúvidas sobre a validade da afirmação apoteótica de que hoje vivemos<br />
numa economia movida pelas emoções (emotion driven economy), pelas<br />
experiências e não pelos produtos propriamente. O principal motor da economia<br />
atual continua sendo lucro, por bem ou por mal. Ou talvez se possa afirmar agora:<br />
a emoção que produz lucro é a experiência que produz lucro. Resta saber se os<br />
dirigentes das empresas se contentarão com isso.<br />
Há alguns anos começou-se a divulgar o termo “design thinking” como novo<br />
Cadernos de Estudos Avançados em Design - design e humanismo - 2013 - p. 61-69<br />
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