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Tendências e antitendências no design industrial<br />
temáticas para exposições, além da tipologia estabelecida em forma de pinturas,<br />
esculturas, instalações e artes digitais. Elevando o status cultural dos produtos,<br />
elevam-se também seus preços. No final das contas, uma réplica do mictório de<br />
Duchamp – o original sumiu e nunca mais foi exposto – tem hoje um valor comercial<br />
estimado em três milhões de euros. Como acontece com as obras de arte, design<br />
tornou-se também um bem de investimento.<br />
Outro ponto crítico do design é a demasiada academização do ensino. Por<br />
um lado, houve um crescimento quantitativo da oferta de cursos de mestrado e<br />
doutorado, em boa parte como resultado da pressão institucional de adaptar-se<br />
aos critérios vigentes de excelência acadêmica e de remuneração dos docentes – e<br />
também por fornecer uma nova fonte de receita para as universidades. A indústria<br />
dos mestrados e doutorados é um negócio não desprezível. Por outro lado, essa<br />
oferta, em geral, aceitou acriticamente os critérios e tradições de outros campos<br />
do saber, já estabelecidos, que são diferentes do campo projetual. Em geral, exigese<br />
que um candidato a doutorado defenda uma tese baseada em um trabalho de<br />
pesquisa, demonstrando uma dose própria de inovação cognitiva. Trata-se de um<br />
texto, um resultado discursivo.<br />
A área de design, pelo contrário, caracteriza-se por resultados não-discursivos.<br />
É nesse ponto que o design foge do padrão tradicional, formulado pelos principais<br />
órgãos normativos do ensino superior. Se não houver uma reorganização dos<br />
padrões de cursos de mestrado e doutorado, adequando-os às disciplinas projetuais,<br />
a área de design poderá debilitar-se e atrofiar-se.<br />
Voltando à lista das tendências inicialmente mencionadas, podemos perceber<br />
hoje, além das tendências principais, algumas tendências secundárias (a lista não é<br />
exaustiva, servindo apenas como exemplificação). Não nos referimos a tendências<br />
de estilo, mas a tendências de enfoque:<br />
- primeira: o design socialmente responsável, vale dizer, o design com utilidade,<br />
que facilite a vida quotidiana nos mais diversos campos: trabalho, transporte,<br />
habitação, educação, saúde e lazer;<br />
- segunda: o design ecológico, que requer imperiosamente um trabalho<br />
interdisciplinar, devido à extrema complexidade da temática, não devendo ser<br />
tratado de forma superficial ou apenas como modismo passageiro;<br />
Cadernos de Estudos Avançados em Design - design e humanismo - 2013 - p. 61-69<br />
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