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Flaviano Celaschi, Dijon De Moraes<br />
inseridas contribuições de várias disciplinas de aspectos e caracteres múltiplos.<br />
Valor é, então, aquilo que é relevante e, por isso mesmo, contempla as cargas<br />
afetivas, simbólicas e, de igual maneira, as culturais. A possibilidade de inserir<br />
valores intangíveis em um produto nos coloca diante de um grande desafio, pois<br />
nos remete a uma aproximação com as disciplinas psicológicas e comportamentais,<br />
sociais e humanas e, do mesmo modo, as de cunho mercadológico que melhor<br />
nos embasaria em relação às necessidades e desejos dos consumidores. Esses<br />
mesmos consumidores representam, por vez, um grande papel para a continuidade<br />
e sucesso da rede valor.<br />
O conceito de valor ganhou força no âmbito da concepção dos produtos quando<br />
o problema do design deixou de habitar somente a esfera da produção industrial e<br />
atingiu a da relação entre mercado e cliente, açambarcando as dimensões sociais,<br />
de identidades culturais e enfoques ambientais de difícil mensuração, alterando o<br />
habitual processo de consumo até então existente. Na verdade, o caráter mutante<br />
do nível de exigência do consumidor atual nos indica que devam ser ofertados<br />
hoje produtos que transmitam mais emoção, maior “valor de estima” e melhor<br />
interatividade. Novas formas de sensibilidade por meio da visão (cores), do tato<br />
(textura) e do olfato (cheiro) favorecem, em muito, a capacidade de interação do<br />
usuário com o produto. Deve também ser previsto, de igual forma, o conceito de<br />
“valor de estética” que hoje se desvincula, cada vez mais, do tradicional dualismo<br />
entre bonito e feio. Tempos atrás, a estética era considerada no design somente<br />
pelo viés de conceitos como a teoria da forma, mas, hoje, usando as palavras de<br />
Baudrillard (2003), podemos dizer que a estética se tornou uma teoria dos signos<br />
e das suas coerências internas por meio de novos significados e significâncias que<br />
estão intimamente relacionadas à semiótica.<br />
Muitas vezes, o valor não está somente no produto, mas em nossa relação<br />
psicológica e social com ele; daí a importância inconteste do consumidor dentro<br />
da constelação de valor. Existe também o poder do fetichismo e referência ao cult<br />
proporcionado por alguns produtos, enaltecendo o seu sentido e a sua existência,<br />
aquilo que Carmagnola e Ferraresi (1999) denominam de animadvertising (um<br />
artefato dotado de intencionalidade formal e de linguagem, dando alma a um ser<br />
inanimado) referindo-se aos “objetos de culto”. Tudo isso nos faz refletir sobre a<br />
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Cadernos de Estudos Avançados em Design - design e humanismo - 2013 - p. 35-60