24GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA4 - Desenvolver uma equipa ampla <strong>para</strong> a prevenção do suicídioSendo o suicídio um fenómeno complexo e multifacetado, parece evi<strong>de</strong>nte que só aconjugação <strong>de</strong> diversos saberes permitirá uma abordagem completa <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> comportamento.A criação <strong>de</strong> equipas multidisciplinares <strong>para</strong> a prevenção do suicídio é <strong>de</strong>fendidacomo uma medida eficaz em diversos planos nacionais <strong>de</strong> prevenção do suicídioe pela OMS (WHO, 2009).5 - Educação pública / comunitária, combate ao estigma em torno da doença mentale comportamentos suicidáriosOs estu<strong>dos</strong> realiza<strong>dos</strong> apontam <strong>para</strong> uma eficácia mo<strong>de</strong>sta da educação pública em tornodo reconhecimento <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio e procura <strong>de</strong> ajuda através do conhecimento<strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco, particularmente na doença mental (Mann et al., 2005). Contudo,quando falamos <strong>de</strong> literacia em Saú<strong>de</strong> Mental e no combate ao estigma verificamos umarelação entre o agudizar <strong>de</strong> problemas e os reduzi<strong>dos</strong> índices <strong>de</strong> conhecimentos (Jorm,2000; Ricwood et al., 2005; Loureiro, 2009).6 - Formação <strong>dos</strong> mediaOs media po<strong>de</strong>m ter um efeito <strong>de</strong>vastador na contaminação <strong>de</strong> comportamentos suicidasatravés do efeito Werther (Pirkis e Blood, 2001; Pirkis, 2009). Des<strong>de</strong> 2000 que aOMS elabora um guia <strong>para</strong> os media on<strong>de</strong> apresenta gui<strong>de</strong>lines <strong>para</strong> o tratamento noticioso<strong>dos</strong> comportamentos suicidários, tendo atualizado o documento em 2008 (WHO,2008), em colaboração com a Associação Internacional <strong>para</strong> a Prevenção do Suicídio.Também os Samaritanos elaboraram linhas <strong>de</strong> orientação <strong>para</strong> jornalistas (Samaritans,2008). Destacamos, <strong>de</strong> forma resumida, os seguintes princípios: dar conta do fenómenopromovendo a educação em Saú<strong>de</strong> Pública; evitar linguagem que motive ou apresenteo suicídio como uma solução; evitar <strong>de</strong>stacar notícias sobre o suicídio; evitar <strong>de</strong>screveros méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> forma pormenorizada; evitar <strong>de</strong>screver o local exato do suicídio ou tentativa<strong>de</strong> suicídio; ter cuidado na divulgação <strong>de</strong> fotos ou ví<strong>de</strong>os acerca do suicida; terparticular cuidado no suicídio <strong>de</strong> celebrida<strong>de</strong>s; dar voz às pessoas em luto pelo suicida;divulgar informação sobre locais <strong>de</strong> ajuda. Ter em atenção que também os profissionais<strong>dos</strong> media po<strong>de</strong>m ser afeta<strong>dos</strong> pelo suicídio.
6. RECOMENDAÇÕES PARA A PRÁTICA DE CUIDADOSNeste capítulo serão enuncia<strong>dos</strong> princípios prioritários <strong>para</strong> a prática <strong>de</strong> cuida<strong>dos</strong>, acompanha<strong>dos</strong>com a fundamentação possível associada. Ao longo <strong>de</strong>stas recomendaçõesteremos diversos níveis <strong>de</strong> evidência, tendo-se procurado eleger sempre a mais elevada,exercício nem sempre fácil <strong>para</strong> uma área do saber on<strong>de</strong> a dificulda<strong>de</strong> <strong>dos</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong>investigação e questões metodológicas tornam mais difícil a generalização das conclusões.6.1 - VALORIZAR A PERCEÇÃO E COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUOToda e qualquer manifestação que, direta ou indiretamente, indique risco <strong>de</strong> suicídio oucomportamento da esfera suicidária tem <strong>de</strong> ser valorizada pelos enfermeiros, enquantorecurso fundamental na gestão do estado <strong>de</strong> crise.Ao abordar a recomendação <strong>para</strong> a prática <strong>de</strong> cuida<strong>dos</strong> «Valorizar a perceção e comportamentodo indivíduo» iremos reforçar dois pontos <strong>de</strong> vista que nos parecem <strong>de</strong> sumaimportância: em primeiro lugar, perceber porque é que a perceção e o comportamentodo indivíduo são tão importantes. Por outro, perceber o que tem sido feito pelos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ao nível da valorização / <strong>de</strong>svalorização <strong>dos</strong> comportamentos suicidários.Em relação à importância da perceção e comportamento do indivíduo, sabemos queindivíduos que morrem por suicídio expressam muitas vezes pensamentos suicidas e / oumanifestam sinais <strong>de</strong> alerta junto <strong>de</strong> familiares ou profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (NZGG, 2003).Cerca <strong>de</strong> 77% das pessoas que cometem suicídio tiveram contacto com o médico <strong>de</strong>família um ano antes da sua morte e mais <strong>de</strong> 66% durante o mês anterior (An<strong>de</strong>rsen etal., 2000; Luoma et al., 2002).A adoção <strong>de</strong> comportamentos suicidários, especialmente em adolescentes, nunca <strong>de</strong>veser analisada <strong>de</strong> «ânimo leve» ou incorrer na <strong>de</strong>svalorização, mesmo quando parecemser superficiais ou manipuladores. Po<strong>de</strong>m ser indicador <strong>de</strong> perturbação mental grave eum sinal premonitório <strong>de</strong> doença mental.O adolescente possui a tendência natural <strong>para</strong> comunicar através da ação, em <strong>de</strong>trimentoda palavra. Na busca <strong>de</strong> uma solução <strong>para</strong> os seus conflitos, os jovens po<strong>de</strong>m recorreràs drogas, ao álcool ou à sexualida<strong>de</strong> precoce ou promíscua na tentativa <strong>de</strong> aliviara dor ou <strong>de</strong> reencontrar a harmonia infantil perdida. Isto porque sentem que é mais fáciltolerar a dor física do que o sofrimento da alma. Vivemos hoje o que alguns autores <strong>de</strong>nominam<strong>de</strong> «Conspiração do Silêncio», em que se <strong>de</strong>svaloriza um assunto <strong>de</strong> extremaimportância e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za por ser socialmente incómodo e sobrecarregado <strong>de</strong> mitos.A comunicação da intenção <strong>de</strong> cometer suicídio po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> forma direta – comfrases como «vou-me matar», «qualquer dia mato-me» – ou indiretas – com expressõesdo tipo «não aguento mais isto», «é impossível aguentar isto», ou «qualquer dia voumeembora». As expressões indiretas po<strong>de</strong>m ainda ser do tipo comportamental e nãoverbal,tais como oferecer bens valiosos ou com gran<strong>de</strong> valor sentimental, compraruma arma, fazer um testamento, doar o corpo <strong>para</strong> a ciência, mudança brusca <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>terioração e <strong>de</strong>sinteresse pelo estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e exacerbação <strong>de</strong> queixas25GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA
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