48GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAShain and the Committee on Adolescence (2007) consi<strong>de</strong>ram que além <strong>de</strong> uma avaliaçãopsicológica profunda do adolescente, os familiares <strong>de</strong>vem ser entrevista<strong>dos</strong> <strong>para</strong> obterinformações adicionais <strong>para</strong> ajudar a explicar os pensamentos suicidas ou tentativa <strong>de</strong>suicídio do adolescente. Estas informações incluem da<strong>dos</strong> <strong>de</strong>talha<strong>dos</strong> sobre a históriamédica, emocional, social e familiar, com especial atenção aos sinais e sintomas <strong>de</strong> transtornodo humor, stresse, abuso <strong>de</strong> substâncias, impulsivida<strong>de</strong> e raiva. Des<strong>de</strong> que existaautorização <strong>dos</strong> pais e parecer favorável do adolescente, outros elementos <strong>de</strong> referênciacomo professores e amigos também po<strong>de</strong>rão ser envolvi<strong>dos</strong> e fornecerem informaçõesúteis.Para estes autores, to<strong>dos</strong> os adolescentes que adotam comportamentos da esfera suicidária<strong>de</strong>vem ser submeti<strong>dos</strong> a um abrangente plano <strong>de</strong> tratamento ambulatório, antesda alta. Estes planos têm <strong>de</strong> ser específicos e direciona<strong>dos</strong>, dado que a a<strong>de</strong>são às intervençõesneste regime <strong>de</strong> tratamento ambulatório é geralmente pobre.Para Steele e Doey (2007), num estudo que realizaram acerca do comportamento suicidaem crianças e adolescentes, a terapia familiar é uma das intervenções indicadas dadoque visa alterar, ao nível da família, as técnicas <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong>sajustadas,incentivando interações familiares positivas. Byford et al. (2003) levaram a cabo um programaaplicado a adolescentes que realizaram uma tentativa <strong>de</strong> suicídio e sem perturbação<strong>de</strong>pressiva major. O programa foi constituído por cinco sessões (uma no hospital equatro em casa), com o objetivo <strong>de</strong> diminuir a i<strong>de</strong>ação suicida. Concluíram o programa397 adolescentes. A intervenção foi focada na comunicação intrafamiliar, nas técnicascomportamentais e na resolução <strong>de</strong> problemas e foi utilizada como um complemento<strong>para</strong> «os cuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> rotina». A intervenção teve como resulta<strong>dos</strong> um aumento da satisfação<strong>dos</strong> pais, uma redução da i<strong>de</strong>ação suicida em indivíduos sem <strong>de</strong>pressão major eminimização da perturbação <strong>para</strong> as famílias, reduzindo o tempo <strong>de</strong> permanência emacompanhamento, logo sendo mais efectiva.Steele e Doey (2007) também referem um outro estudo, centrado na família, conhecidocomo Multissistemic Therapy (MST). Teve a duração <strong>de</strong> três a cinco meses, foi aplicadopor terapeutas treina<strong>dos</strong> que com<strong>para</strong>ram os efeitos do internamento hospitalar com osserviços presta<strong>dos</strong> habitualmente num estudo controlado randomizado. A aplicação doMST reduziu significativamente as taxas <strong>de</strong> tentativas <strong>de</strong> suicídio no período <strong>de</strong> um ano,mas 44% <strong>dos</strong> indivíduos necessitaram <strong>de</strong> internamento hospitalar <strong>para</strong> reiniciar o MSTdurante o período <strong>de</strong> follow-up. A alta do serviço <strong>de</strong> urgência não <strong>de</strong>ve ter lugar sem ocuidador ser envolvido na alta.Adolescentes e suas famílias <strong>de</strong>vem ser alerta<strong>dos</strong> sobre os efeitos <strong>de</strong>sinibidores do álcoole outras drogas, sendo-lhes recomendado o acesso limitado. O acesso a armas <strong>de</strong> fogotambém <strong>de</strong>ve ser abordado.As abordagens psico-educativas dirigidas aos pais <strong>de</strong> adolescentes com comportamentosuicida permitem uma maior compreensão do comportamento adotado, assim comopermitem clarificar aspetos relaciona<strong>dos</strong> com a adolescência e a sua associação aos comportamentossuicidas. Também permitem i<strong>de</strong>ntificar alterações no estado mental e reduziro grau <strong>de</strong> emoção expressa na família (Steele e Doey, 2007; Santos, 2007), fator <strong>de</strong>
isco já i<strong>de</strong>ntificado por Santos (2007) em jovens com comportamentos <strong>para</strong>-suicidários.Para estes autores é necessária a realização <strong>de</strong> mais estu<strong>dos</strong> que envolvam estas variáveis<strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar a eficácia <strong>de</strong> intervenções dirigidas à família no tratamento <strong>de</strong> adolescentescom comportamento suicida.Quadro nº 7 - Intervenção Sistémica Pós-comportamento da Esfera Suicidária:i<strong>de</strong>ias-chaveAlém do indivíduo com comportamento da esfera suicidária e, sempre que possível, os profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem envolver todas as pessoas que constituem o suporte familiar e social <strong>de</strong>ste indivíduo naavaliação, gestão <strong>de</strong> crises e no tratamento subsequente.As abordagens psico-educativas dirigidas aos pais <strong>de</strong> adolescentes com comportamento suicida, focadasna comunicação intrafamiliar, nas técnicas comportamentais e na resolução <strong>de</strong> problemas, permitem umamaior compreensão do comportamento adotado, assim como permitem clarificar aspetos relaciona<strong>dos</strong>com a adolescência e a sua associação aos comportamentos suicidas. Também permitem i<strong>de</strong>ntificaralterações no estado mental e reduzir o grau <strong>de</strong> emoção expressa na família.6.9 - POPULAÇÕES ESPECIAIS: ADOLESCENTES49GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAA adolescência é consi<strong>de</strong>rada uma etapa do <strong>de</strong>senvolvimento que ocorre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a puberda<strong>de</strong>até à ida<strong>de</strong> adulta.Segundo a OMS (WHO, 2011), o adolescente é o indivíduo que se encontra entre os 10e os 19 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>terminação rigorosa do início e do fim da adolescência não éconsensual, existindo algumas variações <strong>de</strong>ste período etário impostas pelos contextossocio<strong>de</strong>mográfico e cultural (Saraiva, 2006; Batista, 2010).Esta etapa do ciclo vital é caracteristicamente marcada por profundas mudanças a nívelfísico, psíquico e social que assumem interpretações e significa<strong>dos</strong> diferentes consoanteos contextos socioculturais em que os adolescentes se encontram inseri<strong>dos</strong> (Correia,2008). Para Saraiva (2006, p. 141), a adolescência surge após a puberda<strong>de</strong> e po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong>finida como um «estado imaturo e crítico do <strong>de</strong>senvolvimento humano propício aodistresse».A adolescência tem sido entendida como uma passagem que implica o distanciamento dainfantilida<strong>de</strong> e a busca <strong>de</strong> um estado adulto e maturo. Constitui um marco importante naformação da personalida<strong>de</strong> e <strong>dos</strong> diferentes sistemas que a integram (Lopes et al., 2001),sendo extremamente relevante <strong>para</strong> a construção do indivíduo, quer a nível físico, quera nível psicossocial.Neste percurso, o adolescente é confrontado com uma série <strong>de</strong> problemas e <strong>de</strong>safios anível pessoal, familiar, grupal e social que exigem um esforço <strong>de</strong> reorganização <strong>para</strong> a suaresolução, cumprindo assim as várias tarefas <strong>de</strong>senvolvimentais. De uma forma breve,com base em inúmeros autores (Sampaio, 2002; Saraiva, 2006; Oliveira, 2006, 2008;Batista, 2010), apontamos as três tarefas <strong>de</strong>senvolvimentais que caracterizam esta fase
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