50GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAdo ciclo vital:• Alteração da relação com os paisNesta fase o adolescente vê-se confrontado com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se autonomizar <strong>dos</strong>pais não só a nível cognitivo, mas também a nível emocional. Sentimentos, i<strong>de</strong>ias e valoresdo adolescente tornam-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>dos</strong> assumi<strong>dos</strong> pelos pais, fator que po<strong>de</strong>contribuir <strong>para</strong> uma maior tensão. Procurando concretizar o luto da relação com ospais da infância, este distanciamento <strong>dos</strong> pais é substituído por um narcisismo que compreen<strong>de</strong>uma atitu<strong>de</strong> egocêntrica, pensamentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za e uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sexualconfusa.• Alteração da relação com os paresO afastamento vivenciado na relação com os pais dá lugar ao estreitamento <strong>de</strong> relaçõescom os pares. Verifica-se a integração no grupo <strong>de</strong> pessoas que partilham expectativas,interesses, aspirações e dúvidas.• Alteração da relação com o próprio corpoNo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da adolescência está presente a relação que os jovensestabelecem com o próprio corpo, exprimindo essa relação através <strong>de</strong> amor, ódio,alegria, vergonha, prazer, raiva, sentimentos que influenciam <strong>de</strong> forma marcante asrelações com os pares, com os pais, com o mundo e consigo mesmo. A complexida<strong>de</strong>das alterações da imagem corporal po<strong>de</strong>m levar o adolescente a confundir a imagemcorporal com a sua própria personalida<strong>de</strong>. Assim sendo, o adolescente terá que integrarna sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, no seu Eu, um novo corpo, <strong>de</strong>sconhecido, mais maduro e que <strong>de</strong>terminaa sua pertença sexual. A <strong>de</strong>finição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sexual évigorosamente marcada pelas experiências grupais e relacionais, mas também pela integraçãoda i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da vivência da sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância.Stuart (2001) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o comportamento <strong>dos</strong> adolescentes po<strong>de</strong> ser interpretadocomo a filtração <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> sucessivas aprendizagens a serem integradasnaquilo que o estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong> proporcionar. Contudo, nem sempre astarefas <strong>de</strong>stinadas a cada estádio são satisfeitas, po<strong>de</strong>ndo até ser cumpridas em ida<strong>de</strong>scronológicas distantes da adolescência. Isto significa que a adolescência, entendida <strong>de</strong>uma forma mais global, po<strong>de</strong> trespassar todo o ciclo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo o seu fim daeficácia do sujeito, das suas capacida<strong>de</strong>s pessoais, da motivação, do tipo e da qualida<strong>de</strong><strong>dos</strong> recursos que o envolvem, bem como do sucesso na resolução <strong>de</strong> tarefas anteriores(Correia, 2008).Frasquilho (2009) refere que na adolescência a maioria <strong>dos</strong> agentes promotores <strong>de</strong> crisedizem respeito a questões relacionadas com a escola (mudança <strong>de</strong> escola, rendimentoescolar, exames, competição, transições entre graus escolares), a família (mudanças noequilíbrio familiar, conflitos, dificulda<strong>de</strong>s financeiras), relacionais (fazer amigos, conflitos,resistência a pressões, namorar) e intrapessoais (crescer, mudanças no corpo, previsões
do futuro, tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões).Consi<strong>de</strong>ramos que Saraiva (2006, p.17) <strong>de</strong>screve <strong>de</strong> uma forma bastante atual os obstáculose dificulda<strong>de</strong>s com que se <strong>de</strong>batem os jovens. Segundo este autor, a mensagemque prevalece na socieda<strong>de</strong> em que vivemos é que:«(…) to<strong>dos</strong> temos que ser ganhadores, belos e perfeitos. A irradiar autoestima<strong>de</strong>slumbrante, com uma armadura psicológica a toda a prova. Sempre na crista daonda. No frenesim da busca <strong>de</strong> ousadias e <strong>de</strong>safios. O céu é o limite…». O autorem análise afirma ainda que a socieda<strong>de</strong> em que vivemos «não autoriza a mágoa <strong>de</strong>qualquer luto, não ensina que amanhã haverá um novo dia e o sol voltará a nascer.Os jovens <strong>de</strong> hoje vivem apressa<strong>dos</strong> <strong>de</strong> mais, numa fúria <strong>de</strong> tudo ou nada, <strong>de</strong> pretoou branco. Sem equilíbrios, sem pontes <strong>para</strong> concórdias, vítimas <strong>de</strong> radicalismos e<strong>de</strong> inflexibilida<strong>de</strong> mental».Esta <strong>de</strong>scrição e abordagem fazem-nos refletir e permitem-nos perceber mais claramentea adolescência enquanto etapa do <strong>de</strong>senvolvimento, suscetível a pontos <strong>de</strong> ruturaque po<strong>de</strong>rão culminar em processos <strong>de</strong> autolesão.De facto, numa fase repleta <strong>de</strong> alterações fisiológicas, emocionais e sociais, a instabilida<strong>de</strong>emocional po<strong>de</strong>rá ser vivenciada como um período <strong>de</strong> crise com repercussõesna saú<strong>de</strong> mental <strong>dos</strong> adolescentes. Para além disso, a busca <strong>de</strong> emoções e o testar <strong>de</strong>novos limites po<strong>de</strong>m, se alia<strong>dos</strong> a um pensamento fatalista, egocentrismo predominante,impulsivida<strong>de</strong> latente, rigi<strong>de</strong>z cognitiva e a uma exacerbação <strong>de</strong> conflitos intere intrapessoais, exacerbar a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acontecimentos que po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>spoletar, noadolescente, a consi<strong>de</strong>ração da morte, uma alternativa <strong>de</strong>finitiva como resolução <strong>de</strong> umproblema temporário (Oliveira, 2008; Borges et al., 2008; Werlang et al., 2005).Baggio et al. (2009) <strong>de</strong>staca que o comportamento suicida ocorre, muitas vezes, comoreflexo <strong>de</strong> conflitos internos, sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e ansieda<strong>de</strong> que acompanham aprofunda reorganização física, psíquica e social que ocorre na adolescência.Claudino et al. (2006) consi<strong>de</strong>ram que, <strong>para</strong> minimizar o risco <strong>de</strong>stes pontos <strong>de</strong> ruturaocorrerem, torna-se fundamental a existência <strong>de</strong> suportes sociais como a família, ogrupo <strong>de</strong> amigos e a escola, que nesta fase se assumem como muito significativos <strong>para</strong>o adolescente.51GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAComportamento suicidário na adolescência: alguns da<strong>dos</strong> epi<strong>de</strong>miológicos,fatores <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong> proteção e intervenções preventivasO suicídio encontra-se entre as cinco principais causas <strong>de</strong> morte na faixa etária <strong>dos</strong> 15-19 anos, e se se cingir ao grupo etário <strong>dos</strong> 15-24 anos, correspon<strong>de</strong> à segunda causa <strong>de</strong>morte (WHO, 2009).Os adolescentes representam um grupo <strong>de</strong> elevada vulnerabilida<strong>de</strong> em diversos países,nomeadamente em Portugal. Os índices <strong>de</strong> suicídio nos jovens têm aumentado <strong>de</strong> formasignificativa, principalmente em países como Austrália, Canadá, Kuwait, Nova Zelân-
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