46GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAcomportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda. Os comportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda <strong>de</strong>vemser incentiva<strong>dos</strong> e po<strong>de</strong>m ser mo<strong>de</strong>la<strong>dos</strong> ou ensina<strong>dos</strong> aos jovens em geral, e em particularaos jovens em risco <strong>de</strong> suicídio. Os autores reforçam que aumentando as atitu<strong>de</strong>spositivas em relação à procura e disponibilida<strong>de</strong> da ajuda promove-se os comportamentos<strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda real, o que, por sua vez, diminui significativamente as taxas <strong>de</strong>suicídio (Carlton e Deane, 2000).Campbell et al. (2004) mencionam o Programa LOSS (Local Outreach to Suici<strong>de</strong> Survivors)que disponibiliza assistência <strong>de</strong> técnicos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental e voluntários <strong>para</strong> cenários <strong>de</strong>suicídio. Estes técnicos e voluntários prestam apoio e ajuda imediata aos jovens e outraspessoas próximas, incentivando os comportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda. O sucesso<strong>de</strong>ste programa evi<strong>de</strong>ncia-se pela redução do tempo <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda <strong>de</strong> 880 dias<strong>para</strong> 39 dias.Um outro exemplo praticado em Londres, e <strong>de</strong>scrito por Souter e Kraemer (2004),contempla uma abordagem proativa em adolescentes com comportamentos automutilatórios,que opta por um acompanhamento próximo em <strong>de</strong>trimento do internamento. Seo adolescente exibe sintomas <strong>de</strong> doença mental ou i<strong>de</strong>ação suicida são disponibilizadassessões <strong>de</strong> acompanhamento com avaliações psiquiátricas e entrevistas regulares comos jovens e pais. Esta experiência revelou efeitos muito positivos, em que apenas umcliente foi internado no prazo <strong>de</strong> um ano e apenas dois cometeram suicídio num período<strong>de</strong> 10 anos.Estes exemplos comprovam que a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda direta e imediata aos jovenssuicidas tem resulta<strong>dos</strong> eficazes não só pelo aumento <strong>dos</strong> comportamentos <strong>de</strong> procura<strong>de</strong> ajuda, como pela redução <strong>dos</strong> comportamentos suicidas e pela assistência efetiva àsfamílias vulneráveis.Num estudo realizado por Pagura et al. (2009), que envolveu cerca <strong>de</strong> 37.000 pessoasno Canadá, foram encontra<strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> que colocam em evidência a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> privilegiaro atendimento precoce e o acompanhamento <strong>dos</strong> indivíduos com comportamentossuicidas. Cerca <strong>de</strong> 5.000 pessoas tinham doença mental sem i<strong>de</strong>ação suicida, cerca<strong>de</strong> 1.200 tinham i<strong>de</strong>ação suicida e 230 tinham história <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> suicídio no últimoano. Os resulta<strong>dos</strong> traduziram que cerca <strong>de</strong> 60% <strong>dos</strong> indivíduos com i<strong>de</strong>ação suicida ecerca <strong>de</strong> 40% com tentativa <strong>de</strong> suicídio prévia no último ano não procuraram ajuda nemtinham perceção da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda e tratamento.Acrescentam ainda que estes indivíduos apresentam níveis inferiores <strong>de</strong> satisfação emrelação aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e são mais sensíveis às barreiras ou dificulda<strong>de</strong>s noacesso aos cuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. As barreiras mais referenciadas são a falta <strong>de</strong> conhecimentosobre os cuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> disponíveis, formas <strong>de</strong> obter e a indisponibilida<strong>de</strong> <strong>dos</strong>profissionais no momento necessário. Estes da<strong>dos</strong> revelam que o grupo <strong>de</strong> pessoas comcomportamentos suicidários é um grupo bastante vulnerável, sendo fulcral a promoção<strong>dos</strong> comportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda e <strong>de</strong> perceção da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda. Destaforma, torna-se evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divulgação e implementação <strong>de</strong> programaseducativos <strong>para</strong> a população em geral – nomeadamente formação <strong>de</strong> gatekeepers– direciona<strong>dos</strong> aos grupos em risco <strong>de</strong> suicídio. Estes programas <strong>de</strong>vem aumentar os
conhecimentos acerca da <strong>de</strong>pressão e do suicídio, facilitando a i<strong>de</strong>ntificação precoce eseguimento, e, simultaneamente, <strong>de</strong>vem promover os comportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong>ajuda pela veiculação da mensagem <strong>de</strong> que ajuda existe e está disponível e que a procura<strong>de</strong> ajuda é a resposta mais <strong>de</strong>sejável em situação <strong>de</strong> crise. Outro aspeto a salientar é aimportância <strong>de</strong> incutir esperança na ajuda, a esperança po<strong>de</strong> ser fortalecida e restauradacom a crença <strong>de</strong> que a ajuda está disponível e acessível.Quadro nº 6 – Promoção <strong>de</strong> esperança: i<strong>de</strong>ias-chaveNa prática da Enfermagem é <strong>de</strong>fendido o valor terapêutico da esperança em relação à saú<strong>de</strong> ebem-estar, sendo traduzido pelo recordar os indivíduos <strong>de</strong> que, apesar da adversida<strong>de</strong> ou circunstânciaspenosas, é possível ultrapassar as dificulda<strong>de</strong>s e ter uma vida preenchida <strong>de</strong> significado e objetivos.Estratégias«Kit <strong>de</strong> Esperança». Po<strong>de</strong> conter itens que representam esperança <strong>para</strong> o cliente, taiscomo fotografias <strong>de</strong> família, música, objetos ou imagens com simbolismo ou significativas,relatos <strong>de</strong> experiência, entre outros.«Empréstimo <strong>de</strong> Esperança» (Borrow Hope). Esta técnica assenta na premissa <strong>de</strong> quea esperança po<strong>de</strong> ser emprestada e compartilhada, não estando completamente<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>dos</strong> recursos pessoais do cliente. Realçando a importância da relação edas competências individuais do enfermeiro, a promoção da esperança exige aoenfermeiro comprometimento pessoal e autoconhecimento.47GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA6.8 - IDENTIFICAÇÃO DAS PESSOAS AFETADAS PELO COMPORTAMENTO E IN-TERVENÇÃO SISTÉMICAA família encontra-se fortemente <strong>de</strong>scrita e associada aos comportamentos da esferasuicidária, quer como fator <strong>de</strong> risco, quer como fator <strong>de</strong> proteção, já que as variáveisfamiliares costumam estar fortemente associadas aos comportamentos da esfera suicidária.Algumas <strong>de</strong>ssas variáveis dizem respeito à estrutura familiar, bem como àsrelações entre os membros da família e po<strong>de</strong>m estar relacionadas com as mudanças noequilíbrio familiar, os conflitos e as dificulda<strong>de</strong>s financeiras, entre outros.Adotando uma visão sistémica da família, referimo-nos a esta como um sistema, consi<strong>de</strong>randoa existência <strong>de</strong> um conjunto complexo <strong>de</strong> elementos em interação entre si, cujoproduto é maior que a soma <strong>dos</strong> componentes. Este aspeto significa, portanto, que aointeragirem entre si, os membros da família produzem algo que servirá <strong>para</strong> manter oequilíbrio da família e a saú<strong>de</strong> <strong>dos</strong> seus membros ou, contrariamente, po<strong>de</strong>rá provocar o<strong>de</strong>sequilíbrio, mal-estar e distúrbios <strong>para</strong> os seus membros (Alarcão, 2000).Segundo a RNAO (2009), além do indivíduo com comportamento da esfera suicidáriae, sempre que possível, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem envolver todas as pessoas queconstituem o suporte familiar e social <strong>de</strong>ste indivíduo na avaliação, gestão <strong>de</strong> crises e notratamento subsequente.
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