54GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIApermitem <strong>de</strong>linear e a<strong>de</strong>quar as intervenções que, por um lado, diminuam o <strong>de</strong>sesperoe sofrimento e, por outro, possibilitem o apoio e ajuda necessária que permita ao adolescenteinverter o movimento <strong>para</strong> a morte ou <strong>para</strong> uma vida com grave perturbaçãomental ou mesmo doença mental.Neste contexto, Araújo et al. (2010) referem que os fatores <strong>de</strong> risco são elementos quepo<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar ou associar-se ao <strong>de</strong>senvolvimento do comportamento suicidário,não sendo, necessariamente, o fator causal. Por outro lado, os fatores <strong>de</strong> proteção sãorecursos pessoais ou sociais que atenuam ou neutralizam o impacto do risco <strong>de</strong> suicídio.Os comportamentos suicidários na adolescência ocorrem normalmente num contextocaracterístico <strong>de</strong>sta fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> sentimentos intensos <strong>de</strong> baixa autoestimae por vezes associa<strong>dos</strong> a quadros psiquiátricos <strong>de</strong> elevado risco (Sukiennik, 2000).O pedido <strong>de</strong> ajuda, <strong>de</strong> interiorização <strong>de</strong> limites, <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carinho, <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> dúvidas e angústias por parte do jovem muitas vezes não épercebido como tal, sendo frequentemente confundido como atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arrogância,rebeldia e confronto (Crepet, 2002; Werlang et al., 2005).Alguns estu<strong>dos</strong> referem como fatores preditores do suicídio a perda <strong>de</strong> objetos vinculativos,situações como o divórcio ou falecimento <strong>dos</strong> pais, abandono, adoção, mas tambémfatores como: antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> suicídio ou distúrbios mentais na família nuclear,complicações respiratórias à nascença, <strong>de</strong>pressão, personalida<strong>de</strong> bor<strong>de</strong>rline, abuso <strong>de</strong>álcool ou drogas, fugas, abandono escolar, perturbações psicossomáticas, problemas <strong>dos</strong>ono e sobrepopulação na casa.Os adolescentes po<strong>de</strong>m vivenciar um conjunto <strong>de</strong> manifestações como sintomas <strong>de</strong>pressivose i<strong>de</strong>ação suicida e que os expõem a riscos acresci<strong>dos</strong> <strong>de</strong> problemas emocionaisque po<strong>de</strong>m concorrer <strong>para</strong> a adoção <strong>de</strong> condutas <strong>de</strong>liberadamente danosas à sua integrida<strong>de</strong>(Brooks-Gunn e Petersen, 1991).Não havendo evi<strong>de</strong>nte consenso acerca <strong>de</strong> que fatores, contextos ou combinações <strong>de</strong>circunstâncias conduzem à opção suicida num jovem, Cassorla (1987) realça alguns fatores<strong>de</strong> risco <strong>para</strong> o suicídio da adolescência como a impulsivida<strong>de</strong>, a melancolia e a presença<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> morte. Shaffer et al. (2001) relatam que fatores <strong>de</strong>senvolvimentais esocio<strong>de</strong>mográficos são fundamentais <strong>para</strong> o aparecimento <strong>de</strong> comportamentos suicidasem crianças e adolescentes.Aten<strong>de</strong>ndo a da<strong>dos</strong> <strong>de</strong> evidência científica, existe um vasto conjunto <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> risco<strong>de</strong> suicídio na adolescência que a seguir apresentamos:• Existência <strong>de</strong> psicopatologiaDa<strong>dos</strong> da WHO (2002) revelam que as doenças mentais estão associadas a mais <strong>de</strong> 90%<strong>dos</strong> casos <strong>de</strong> suicídio, <strong>de</strong>stacando-se os transtornos do humor, a esquizofrenia, os transtornos<strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> e relaciona<strong>dos</strong> ao consumo <strong>de</strong> substâncias. Realçam ainda que
nos jovens há uma elevada incidência <strong>de</strong> transtornos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, sendo os maisfrequentes o transtorno da personalida<strong>de</strong> bor<strong>de</strong>rline e o transtorno da personalida<strong>de</strong>antissocial.Muitas das perturbações psiquiátricas com início na adolescência têm uma forte continuida<strong>de</strong><strong>para</strong> a vida adulta e, <strong>de</strong>ste modo, po<strong>de</strong>rão contribuir <strong>para</strong> a morbilida<strong>de</strong>psiquiátrica adulta (Kaplan e Sadock, 2005). A <strong>de</strong>pressão com início na adolescência temuma forte e específica relação com a <strong>de</strong>pressão no adulto e associa-se ao aumento damortalida<strong>de</strong> por suicídio e ao aumento da <strong>de</strong>terioração psicossocial pelo uso tanto <strong>de</strong>psicotrópicos, como <strong>dos</strong> serviços médicos na vida adulta (Fombonne, 1998).Murta (2007) refere que o prejuízo resultante <strong>de</strong>stes transtornos emocionais po<strong>de</strong> serelevado, incluindo défices no <strong>de</strong>sempenho académico, adoção <strong>de</strong> comportamentos violentos,dificulda<strong>de</strong>s em manter vínculos ou relações afetivas e sociais, <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>drogas e suicídio.Concretizando estes factos, um estudo <strong>de</strong> meta-análise realizado por Bertolote et al.(2004) revelou que cerca <strong>de</strong> 98% <strong>dos</strong> indivíduos que cometem suicídio apresentam uma<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m psiquiátrica no momento da morte. Os transtornos do humor representaram30,2% <strong>dos</strong> casos, segui<strong>dos</strong> pelos transtornos relaciona<strong>dos</strong> a substâncias (17,6%), pelaesquizofrenia (14,1%) e pelos transtornos da personalida<strong>de</strong> (13%).Reforçando estes da<strong>dos</strong>, Chabrol (1992), mencionado por Marcelli (2002), refere queestu<strong>dos</strong> epi<strong>de</strong>miológicos sobre as tentativas <strong>de</strong> suicídio revelaram a presença <strong>de</strong> 81% <strong>de</strong><strong>de</strong>pressão major e 10% <strong>de</strong> distimia numa população <strong>de</strong> adolescentes suicidas. Estes da<strong>dos</strong>alertam <strong>para</strong> a gravida<strong>de</strong> do contexto psicopatológico que acompanha o ato suicidae, particularmente, a frequência do estado <strong>de</strong>pressivo.Inúmeros autores, entre os quais Windfuher et al. (2008), reforçam que a presença <strong>de</strong>doença mental é comum entre os jovens suicidas, havendo pelo menos um diagnóstico<strong>de</strong> doença mental anterior ao suicídio, mais frequentemente o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão.De acordo com os resulta<strong>dos</strong> encontra<strong>dos</strong> num estudo que envolveu 1.722 casos <strong>de</strong>suicídio em jovens e adolescentes do Reino Unido, entre 1997 e 2003, evi<strong>de</strong>nciou que37% tinham o diagnóstico <strong>de</strong> distúrbio afetivo, 25% esquizofrenia e 23% distúrbio dapersonalida<strong>de</strong>.A <strong>de</strong>pressão surge então como a entida<strong>de</strong> nosológica mais frequentemente relatada,presente em mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>dos</strong> suicidas (Saraiva, 2006), sendo ainda <strong>de</strong> salientar queesta patologia, na última década, tem vindo a aumentar acentuadamente em ida<strong>de</strong>sjovens. Inúmeros autores salientam que a sintomatologia <strong>de</strong>pressiva po<strong>de</strong> ser expressapela anedonia, apatia, falta <strong>de</strong> apetite, alterações do sono, <strong>de</strong>sinteresse por ativida<strong>de</strong>sprazerosas, <strong>de</strong>créscimo do rendimento escolar, entre outros (King et al., 2006; Fordwoo<strong>de</strong>t al., 2007; Garlow et al., 2008).Outro aspeto importante é a existência <strong>de</strong> relação entre os esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong>pressivos, particularmentena <strong>de</strong>pressão major e na presença <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida.Também Garlow et al. (2008), num estudo que <strong>de</strong>correu entre 2002 e 2005 e que incidiuna avaliação da <strong>de</strong>pressão e i<strong>de</strong>ação suicida numa amostra constituída por 729 alunos,55GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA
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