44GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAimportância da esperança na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e facilitação do processo <strong>de</strong>recuperação nos mais diversos contextos <strong>de</strong> doença.Por sua vez, Clarke (2003) afirma que a esperança sustenta a pessoa através do processo<strong>de</strong> ajustamento psicológico à doença ou ameaça, acrescentando que a perda <strong>de</strong> esperançaconduz ao sofrimento físico e emocional.Para Cutcliffe (2004), a esperança é assumida enquanto componente complexa e multidimensionalna vivência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> doença e sofrimento e que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementeda área <strong>de</strong> atuação, cabe aos enfermeiros facilitarem o fortalecimento da esperança nosclientes, explorando os seus recursos e habilida<strong>de</strong>s pessoais. Salienta, ainda, que clientese público em geral reconhecem que os enfermeiros são catalisadores <strong>de</strong> esperança duranteos perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong> doença e vulnerabilida<strong>de</strong>.Na prática da Enfermagem é <strong>de</strong>fendido o valor terapêutico da esperança em relação àsaú<strong>de</strong> e bem-estar, sendo traduzido pelo recordar os indivíduos <strong>de</strong> que, apesar da adversida<strong>de</strong>ou circunstâncias penosas, é possível ultrapassar as dificulda<strong>de</strong>s e ter uma vidapreenchida <strong>de</strong> significado e objetivos (Cutcliffe, 1995).Num contexto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental, o enfermeiro é muitas vezes confrontado com situaçõesem que a recuperação nem sempre é alcançada e torna-se evi<strong>de</strong>nte que a esperançaé um fenómeno central <strong>para</strong> os clientes e as suas famílias lidarem com o impactoda doença mental. O uso intencional da esperança nas abordagens centradas nos clientese famílias portadoras <strong>de</strong> doença mental tem-se revelado bastante positivo, permitindoaos enfermeiros atuar <strong>de</strong> forma diferenciada e serem reconheci<strong>dos</strong> como fontes <strong>de</strong>esperança.As pessoas com conduta suicida experienciam frequentemente falta <strong>de</strong> esperança ou<strong>de</strong>sesperança (Walsh e Eggert 2007; Thompson et al., 2005; Wyeth, 2008; King et al.,2006 e Tsai et al., 2010).Neste sentido, os enfermeiros estão numa posição privilegiada <strong>para</strong> <strong>de</strong>senvolver umarelação <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> confiança, propícia ao fortalecimento da esperança. Osenfermeiros <strong>de</strong>vem imprimir na relação terapêutica a intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incutir esperança,recorrendo a esta como ferramenta <strong>para</strong> ajudar o cliente a vislumbrar alternativaspossíveis à sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> morrer como forma <strong>de</strong> resolver problemas e terminar como sofrimento.Para Carlton e Deane (2000), incutir esperança nos jovens assume-se também comouma estratégia importante na prevenção do suicídio neste grupo. Os adolescentes comcomportamentos suicidas evi<strong>de</strong>nciam estratégias <strong>de</strong> coping e <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas<strong>de</strong>ficitárias e também revelam incapacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> encontrar alternativas quando vivenciamsituações <strong>de</strong> stresse. A esperança <strong>de</strong>ve ser incutida nos adolescentes, assistindo-osna atribuição <strong>de</strong> significado e <strong>de</strong> objetivos <strong>para</strong> a vida, assim como no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> estratégias que permitam alcançar esses objetivos.Moore (2005) apresenta uma estratégia útil <strong>para</strong> promover a esperança em clientes. O«Kit <strong>de</strong> Esperança» é uma ferramenta que os enfermeiros especialistas em Saú<strong>de</strong> Mentalpo<strong>de</strong>m utilizar com os clientes enquanto estratégia intencional <strong>para</strong> os ajudar a i<strong>de</strong>ntificarimagens ou representações significativas <strong>de</strong> esperança. Este «Kit <strong>de</strong> Esperança» po<strong>de</strong>
conter itens que representam esperança <strong>para</strong> o cliente, tais como fotografias <strong>de</strong> família,música, objetos ou imagens com simbolismo ou significativas, relatos <strong>de</strong> experiência,entre outros.Os clientes experienciam o processo <strong>de</strong> doença e recuperação com a esperança diminuída,pelo que <strong>de</strong>vem ser incentiva<strong>dos</strong> a criar os seus próprios «kits <strong>de</strong> esperança»,tendo ao seu alcance um recurso significativo e disponível que permite fortalecer essaesperança diminuída e mo<strong>de</strong>rar ou atenuar o sofrimento e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer.O mesmo autor apresenta ainda uma outra estratégia, <strong>de</strong>scrita por Jevne e Miller (1996)como «Empréstimo <strong>de</strong> Esperança» (Borrow Hope). Esta técnica assenta na premissa <strong>de</strong>que a esperança po<strong>de</strong> ser emprestada e compartilhada, não estando completamente<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>dos</strong> recursos pessoais do cliente. Realçando a importância da relação e dascompetências individuais do enfermeiro, a promoção da esperança exige ao enfermeirocomprometimento pessoal e autoconhecimento. Moore (2005) salienta que o enfermeiro<strong>de</strong>ve propor-se a uma reflexão e <strong>de</strong>senvolvimento pessoal que o conduza à compreensãodo que é a esperança e da sua importância, bem como ao reconhecimento daesperança na sua vida e das estratégias pessoais que mobiliza <strong>para</strong> a manter e repor, <strong>para</strong>ser eficaz na prática quando tem como objetivo nutrir e sustentar esperança na vida <strong>dos</strong>utentes. Refletir com os utentes sobre a esperança e a sua importância no processo <strong>de</strong>doença e recuperação, bem como partilhar vivências superadas através e com esperançasão estratégias assumidas por utentes e enfermeiros como facilitadoras do reencontro efortalecimento da esperança (E<strong>de</strong>y e Jevne, 2003).Para além da já referida falta <strong>de</strong> esperança ou <strong>de</strong>sesperança, Kessler et al. (2005) ePagura et al. (2009) salientam que as pessoas portadoras <strong>de</strong> doença mental têm umamenor perceção <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda e / ou tratamento e evi<strong>de</strong>nciam menos comportamentos<strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda. Este fenómeno pren<strong>de</strong>-se não só com as incapacida<strong>de</strong>sinerentes à própria doença, mas sobretudo à incompreensão da doença mental eao estigma a ela associado.Inúmeros estu<strong>dos</strong> revelam que os jovens comunicam a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer. Contudo,a sua mensagem não é percebida muitas vezes por pais, amigos, professores, profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou outros. Sentindo-se sem atenção ou apoio, os jovens sentem que nãorecebem ajuda e a opção por ameaçar e por colocar em risco a própria vida torna-seatrativa (Roswarski e Dunn, 2009).O sucesso <strong>de</strong> algumas intervenções e programas <strong>de</strong> prevenção do suicídio resi<strong>de</strong> namensagem veiculada <strong>de</strong> que a ajuda eficaz e imediata está disponível. Isso incentiva oscomportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda a<strong>de</strong>quada.Para Goldston et al. (2008) esta mensagem <strong>de</strong>ve alcançar as pessoas em risco <strong>de</strong> suicídio,sobretudo os jovens, que <strong>de</strong>vem perceber que a ajuda está disponível e que a procura<strong>de</strong>ssa ajuda é a resposta <strong>de</strong>sejável <strong>para</strong> o problema que vivencia. O autor acrescenta queas expectativas culturais po<strong>de</strong>m aumentar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os jovens recorreram aoscuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental.Vários autores, entre os quais Carlton e Deane (2000), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que uma das estratégiaseficazes na diminuição das taxas <strong>de</strong> suicídio passa por encorajar nos adolescentes os45GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA
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