34GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAabuso sexual ou vítimas <strong>de</strong> violência, situações <strong>de</strong> sofrimento intenso e doenças gravessão frequentemente referenciadas como fatores <strong>de</strong> risco <strong>para</strong> comportamentos suicidários(Lifeline Australia et al., 2010; Abreu et al., 2010; Viana et al., 2008).São evi<strong>de</strong>ntes as diversas conjugações multifatoriais que po<strong>de</strong>m levar à adoção <strong>de</strong> comportamentossuicidários e que, tal como <strong>de</strong>monstra a evidência científica, é importanteconhecer <strong>para</strong> intervir e, simultaneamente, constituir como base <strong>de</strong> análise no planeamento<strong>de</strong> intervenções preventivas a implementar.6.4 - AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIOMesmo na ausência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida expressa, os enfermeiros <strong>de</strong>vem reconhecer osfatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio, i<strong>de</strong>ntificando os indivíduos em risco <strong>de</strong> comportamentosuicida. A estes <strong>de</strong>ve ser realizada e documentada uma avaliação <strong>de</strong> risco por meio <strong>de</strong>instrumentos <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong>.Os fatores protetores e <strong>de</strong> risco encontram-se <strong>de</strong>scritos no ponto anterior e, sendoleva<strong>dos</strong> em consi<strong>de</strong>ração na avaliação <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio, permitem reforçar ou atenuaressa avaliação, tornando possível uma intervenção dirigida e uma diminuição <strong>de</strong>sse risco.Não existe evidência científica que permita afirmar que perguntar diretamente a umapessoa o que pensa sobre o suicídio, a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer ou plano <strong>de</strong> suicídio, aumentaa probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação e comportamento suicida (NZGG, 2003). Para estesautores, uma avaliação específica <strong>dos</strong> fatores relaciona<strong>dos</strong> com o suicídio permite perceberos objetivos e o significado do comportamento suicida, ajudando os profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão acerca das intervenções a colocar em prática.Para uma avaliação abrangente do risco <strong>de</strong> suicídio é fundamental a realização <strong>de</strong> umaentrevista e po<strong>de</strong> ser útil a utilização <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> avaliação do risco <strong>de</strong> suicídio<strong>de</strong>vidamente valida<strong>dos</strong> <strong>para</strong> a população portuguesa. De consi<strong>de</strong>rar que os instrumentos<strong>de</strong> avaliação do risco <strong>de</strong> suicídio (enumera<strong>dos</strong> noutro capítulo) apenas <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>dos</strong>como parte <strong>de</strong> uma avaliação abrangente e não <strong>de</strong>vem ser usa<strong>dos</strong> isoladamente – jáque facilitam a comunicação e recolha <strong>de</strong> informações no contexto <strong>de</strong> entrevista, mas osseus resulta<strong>dos</strong> não substituem o julgamento clínico (NZGG, 2003).Quando o comportamento suicidário ocorre num contexto <strong>de</strong> sobre<strong>dos</strong>agem <strong>de</strong> medicamentosou outras substâncias, a avaliação do risco <strong>de</strong> suicídio <strong>de</strong>ve ser realizada apósos cuida<strong>dos</strong> médicos imediatos relaciona<strong>dos</strong> com o abuso <strong>de</strong> substâncias. É essencialsalientar a importância da gestão da segurança do indivíduo, dado que o abuso <strong>de</strong> substânciaspo<strong>de</strong> aumentar a impulsivida<strong>de</strong> e a agressivida<strong>de</strong>.Shain and the Committee on Adolescence (2007) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a gestão do risco <strong>de</strong> suicídioadolescente <strong>de</strong>ve ser realizada consoante o nível <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ação suicida.Segundo estes autores, ninguém po<strong>de</strong> predizer o suicídio com precisão, por isso mesmoos especialistas apenas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar quem está em maior risco. Exemplos <strong>de</strong> adolescentesem situação <strong>de</strong> alto risco <strong>de</strong> suicídio incluem aqueles que têm um plano outentativa <strong>de</strong> suicídio recente, com adoção <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong> altamente letais. Associada a um
isco acrescido <strong>de</strong> suicídio está também a presença <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida ou comportamentosuicidário recente acompanhada por alterações <strong>de</strong> comportamento com <strong>de</strong>sesperançagrave, impulsivida<strong>de</strong>, humor disfórico associado com transtorno bipolar, <strong>de</strong>pressão,psicose ou um transtorno por uso <strong>de</strong> substâncias. Por outro lado, a ausência <strong>de</strong> fatoresque indiquem alto risco, especialmente quando evi<strong>de</strong>nciado <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> receber ajuda eapoio familiar, sugere um menor risco, mas não necessariamente um baixo risco.Na presença <strong>de</strong> uma recente tentativa <strong>de</strong> suicídio, a ausência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida atualpo<strong>de</strong> também ser enganosa se nenhum <strong>dos</strong> fatores que levaram à tentativa forem altera<strong>dos</strong>ou não se enten<strong>de</strong>rem as razões <strong>para</strong> a tentativa. A atuação <strong>de</strong>verá passar semprepela segurança na gestão do adolescente suicida. Um histórico <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> suicídio ea presença <strong>de</strong> transtorno mental são os maiores indicadores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio.Waldrop et al. (2007) estudaram fatores associa<strong>dos</strong> à i<strong>de</strong>ação suicida e à tentativa <strong>de</strong>suicídio entre adolescentes. A i<strong>de</strong>ação suicida foi positivamente associada ao sexo feminino,ida<strong>de</strong>, consumos <strong>de</strong> álcool e drogas na família, exposição à violência, <strong>de</strong>pressão etranstorno <strong>de</strong> stresse pós-traumático. As tentativas <strong>de</strong> suicídio foram associadas ao sexofeminino, ida<strong>de</strong>, abuso sexual e físico, abuso ou <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> substâncias, transtorno<strong>de</strong> stresse pós-traumático e <strong>de</strong>pressão.Joe e Bryant (2007) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a triagem <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio é um importante problema<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. A escola, enquanto lugar on<strong>de</strong> os adolescentes passam um consi<strong>de</strong>rávelnúmero <strong>de</strong> horas do seu dia, assume-se como um local importante <strong>para</strong> triagem<strong>de</strong> adolescentes em risco <strong>de</strong> adotar comportamentos suicidas. É também um localimportante <strong>para</strong> implementar programas <strong>de</strong> educação preventiva e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> risco.Muitas escolas optam por não implementar estas estratégias com receio <strong>de</strong> aumentarpensamentos e comportamentos suicidas em adolescentes. No entanto, <strong>para</strong> estes autores,a pesquisa crescente sobre estas questões permite afirmar que a exposição atemas relaciona<strong>dos</strong> com o suicídio não incentiva as pessoas a consi<strong>de</strong>rar a tentativa <strong>de</strong>suicídio. Reforçando estas afirmações, Gould et al. (2005) conduziram um estudo controladorandomizado <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> rastreio <strong>de</strong> suicídio, com adolescentes <strong>dos</strong> 13aos 19 anos <strong>de</strong> seis escolas do ensino secundário <strong>de</strong> Nova Iorque, <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar se osadolescentes expostos a temas sobre comportamentos suicidários po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ari<strong>de</strong>ação suicida e / ou comportamento. Concluíram que não existem diferenças significativasentre o grupo experimental (alvo <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> triagem contendo questõesrelativas ao comportamento e à i<strong>de</strong>ação suicidas) e o grupo <strong>de</strong> controlo (alvo <strong>de</strong> umapesquisa <strong>de</strong> triagem sem questões relacionadas com a i<strong>de</strong>ação suicida).Apesar das inúmeras referências à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> prevençãonas escolas, po<strong>de</strong>mos constatar que muitos programas <strong>de</strong> rastreio <strong>de</strong> prevenção <strong>dos</strong>uicídio não foram avalia<strong>dos</strong> cientificamente e existem alguns com resulta<strong>dos</strong> contraditórios(Joe e Bryant, 2007).Aseltine e De Martino (2004) <strong>de</strong>senvolveram um programa <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> suicídio<strong>para</strong> adolescentes que se baseia no rastreio <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> suicídio, intitulado SOS. Esteprograma <strong>de</strong> prevenção inclui formação <strong>para</strong> aumentar a consciência acerca do suicídioe triagem <strong>para</strong> a <strong>de</strong>pressão e outros fatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio. Os alunos são instruí<strong>dos</strong>35GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABREU,
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