30GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAportamentos suicidários – sendo <strong>de</strong>signadas como fatores protetores.Segundo Suominen et al. (2004) a presença <strong>de</strong> bons vínculos afetivos, a sensação <strong>de</strong>estar integrado num grupo ou comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> estar casado ou com companheiro fixo eter filhos pequenos são fatores protetores. Ainda segundo o mesmo autor, a uma maiorproximida<strong>de</strong> religiosa estão associadas menores taxas <strong>de</strong> suicídio, sendo os muçulmanosos que apresentam taxas mais baixas quando com<strong>para</strong>das com outras religiões.A resiliência e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar / respon<strong>de</strong>r positivamente a eventos <strong>de</strong> vidapotencialmente adversos foram i<strong>de</strong>ntificadas como fatores centrais na proteção <strong>para</strong> osuicídio (Lifeline Australia et al., 2010). A nível individual po<strong>de</strong>m ser aponta<strong>dos</strong> comofatores protetores a saú<strong>de</strong> mental, a não utilização <strong>de</strong> substâncias nocivas, a adoção <strong>de</strong>atitu<strong>de</strong>s positivas <strong>para</strong> com a vida, a utilização <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> coping, ter um propósitoou um sentido <strong>para</strong> a vida e ter controlo sobre os comportamentos. Relativamenteaos eventos <strong>de</strong> vida ou circunstâncias protetoras, são referenciadas a segurança físicae emocional, a harmonia familiar, a existência <strong>de</strong> conexões sociais, a não existência <strong>de</strong>história <strong>de</strong> suicídio ou doença mental, ter um emprego estável e ter habitação segura eacessível.Segundo Botega (2006), a nível cultural existem alguns fatores que influenciam as taxas<strong>de</strong> suicídio, atuando como fatores protetores nomeadamente nas socieda<strong>de</strong>s que valorizama inter<strong>de</strong>pendência, em que os indivíduos são estimula<strong>dos</strong> a falar sobre os seusproblemas e on<strong>de</strong> existe uma abertura à alteração da forma <strong>de</strong> pensar e agir, sendoconsi<strong>de</strong>rado um sinal positivo o pedido <strong>de</strong> ajuda.Ao analisarmos os fatores protetores <strong>de</strong> acordo com o sexo, observa-se que no sexofeminino a gravi<strong>de</strong>z e a maternida<strong>de</strong> parecem contribuir positivamente <strong>para</strong> que asmulheres tenham menores taxas <strong>de</strong> suicídio, em especial nos anos próximos da gestação.Relativamente ao sexo masculino o facto <strong>de</strong> ter uma ocupação, estar empregado, sentindo-seprodutivo e socialmente mais integrado através do seu trabalho, possuir umstatus socioeconómico médio-alto, ter acesso a serviços <strong>de</strong> suporte e a exposição limitadaa fatores stressantes ambientais são consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> como fatores sociais e ambientaisprotetores <strong>de</strong> comportamentos suicidários (Lifeline Australia et al., 2010).Na perspetiva da OMS (2002), entre os fatores <strong>de</strong> proteção <strong>para</strong> o suicídio encontramse:o bom relacionamento familiar, os cuida<strong>dos</strong> parentais preserva<strong>dos</strong>, o apoio familiar,relações <strong>de</strong> confiança (fatores familiares); boas habilida<strong>de</strong>s sociais, iniciativa no pedido<strong>de</strong> ajuda e conselhos, noção <strong>de</strong> valor pessoal, abertura <strong>para</strong> novas experiências eaprendizagens, estratégias comunicacionais <strong>de</strong>senvolvidas, recetivida<strong>de</strong> à ajuda <strong>de</strong> terceiros,noção e empenho em projetos <strong>de</strong> vida (estilo cognitivo e personalida<strong>de</strong>); valoresculturais, lazer, prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física, pertença a uma religião, boas relações comamigos e colegas, boas relações com professores e outros adultos, apoio <strong>de</strong> pessoasrelevantes e amigos que não apresentem comportamentos aditivos (fatores culturais esocio<strong>de</strong>mográficos); uma dieta saudável e boa qualida<strong>de</strong> do sono (fatores ambientais).Uma perceção mais otimista da vida, com razões <strong>para</strong> se continuar a viver, opondo-se aosentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperança, protege contra o suicídio. Por exemplo, o apego aos filhospequenos e o sentimento <strong>de</strong> importância na vida <strong>de</strong> outras pessoas. De forma geral, o
sentimento <strong>de</strong> «pertença» – no sentido <strong>de</strong> possuir forte ligação, seja a uma comunida<strong>de</strong>,a um grupo religioso ou étnico, a uma família ou a algumas instituições – protegem oindivíduo do suicídio (Botega, 2006).Fatores <strong>de</strong> riscoExiste consenso entre suicidologistas <strong>de</strong> que o suicídio é um fenómeno multifacetado,complexo e universal que atinge todas as culturas, classes sociais, ida<strong>de</strong>s e possui umaetiologia multivariada, englobando elementos biológicos (neurológicos), genéticos, sociaispsicológicos (conscientes e inconscientes), culturais e ambientais (Falconi, 2003;Shneidman, 2001). Também Cruz (2006) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a conduta suicida po<strong>de</strong> ser precipitadapor múltiplos e complexos fatores, tendo a investigação i<strong>de</strong>ntificado como influentesno seu <strong>de</strong>terminismo fatores hereditários, bioquímicos, culturais, sociológicos,psiquiátricos e epi<strong>de</strong>miológicos, entre outros.Neste sentido, os atos auto<strong>de</strong>strutivos <strong>de</strong>vem ser entendi<strong>dos</strong> pelos enfermeiros comoum sinal <strong>de</strong> perturbação e como o culminar <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> crise e sofrimento queatingem proporções <strong>de</strong>scontroladas. Assim, a conduta suicidária, tanto letal (suicídio)como não letal (tentativa <strong>de</strong> suicídio e <strong>para</strong>-suicídio), representa um verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safio<strong>para</strong> os serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental, nomeadamente no que respeita à compreensão <strong>dos</strong>fatores que a ela predispõem e a precipitam, <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>linear programas e / ou intervençõeseficazes e atempadas <strong>de</strong> prevenção <strong>dos</strong> comportamentos suicidários.Mesmo na ausência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida expressa, o conhecimento <strong>dos</strong> fatores <strong>de</strong> riscopo<strong>de</strong>m ajudar a i<strong>de</strong>ntificar indivíduos com i<strong>de</strong>ação suicida e comportamento suicidários.Os fatores <strong>de</strong> risco incluem as características que foram estudadas em gran<strong>de</strong>s populaçõese que permitem o seu estudo <strong>de</strong> forma isolada, estando associa<strong>dos</strong> a um aumentoda probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suicídio (NZGG, 2003).Os fatores <strong>de</strong> risco po<strong>de</strong>m ser classifica<strong>dos</strong> como sendo dinâmicos ou estáticos, modificáveisou não modificáveis.Fatores <strong>de</strong> risco dinâmicos / modificáveis são aqueles que são passíveis <strong>de</strong> sofrerem alteração.A i<strong>de</strong>ntificação <strong>dos</strong> fatores <strong>de</strong> risco modificáveis <strong>de</strong>ve ser usada <strong>para</strong> direcionara tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões sobre a intervenção e planeamento (APA, 2003). A <strong>de</strong>pressão,ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sesperança, o uso <strong>de</strong> substâncias, a intoxicação e o acesso a meios letaissão exemplos <strong>de</strong> alguns fatores <strong>de</strong> risco modificáveis.Contrariamente, os fatores <strong>de</strong> risco estáticos / não modificáveis são aqueles que não po<strong>de</strong>mser modifica<strong>dos</strong>, como a ida<strong>de</strong>, o género, a história <strong>de</strong> tentativas <strong>de</strong> suicídio prévias.Embora o conhecimento <strong>dos</strong> fatores <strong>de</strong> risco não permita ao profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> preverse, ou quando, um doente vai cometer um ato fatal (APA, 2003), o reconhecimentodo risco é um componente importante da promoção da segurança <strong>de</strong>stes doentes (APA,2003; Mann et al., 2005).Segundo a Socieda<strong>de</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Suicidologia (2009), os fatores <strong>de</strong> risco ou facilitadoresdo suicídio po<strong>de</strong>m ser classifica<strong>dos</strong> resumidamente em quatro «categorias» que seencontram representadas no quadro 2.31GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA
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