28GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAQuanto à interpretação do fenómeno <strong>para</strong>-suicida por parte <strong>dos</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,po<strong>de</strong>mos verificar pelos estu<strong>dos</strong> existentes que haverá uma abordagem ina<strong>de</strong>quada dasituação, facto este, que acreditamos se refletirá no atendimento hospitalar e consequenteencaminhamento (Botega et al., 2005). A falta <strong>de</strong> informação <strong>dos</strong> profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> relativamente aos comportamentos suicidários é um <strong>dos</strong> aspetos aponta<strong>dos</strong> e quecondicionará as atitu<strong>de</strong>s perante o <strong>para</strong>-suicida. Santos (2000) concluiu pela existência danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação específica no âmbito das competências técnico-sociais, particularmente<strong>para</strong> os enfermeiros <strong>dos</strong> serviços <strong>de</strong> urgência.6.2 - ESTABELECER UMA RELAÇÃO TERAPÊUTICA COM BASE NUMA RELAÇÃOINTERPESSOALA relação terapêutica assume-se hoje como fulcral no domínio da atuação autónoma<strong>dos</strong> enfermeiros, tendo vindo a tornar-se num meio po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> intervenção e numelemento <strong>de</strong>cisivo e inquestionável no cuidar em Enfermagem.Os enfermeiros, ao valorizarem a perceção e comportamento do indivíduo, avaliando aexistência <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> comportamento suicidário, têm obrigação <strong>de</strong> intervir. Uma estratégiafundamental da prevenção do suicídio passa por estabelecer com a pessoa emrisco uma relação <strong>de</strong> confiança e empatia que permita a verbalização e exteriorização <strong>dos</strong>ofrimento psicológico, <strong>para</strong> posteriormente promover uma intervenção especializadae eficaz.Segundo a RNAO (2009), a relação terapêutica <strong>de</strong>screve um processo interpessoal queocorre entre o enfermeiro e o(s) cliente(s), que é intencional e dirigido aos objetivos eresulta<strong>dos</strong> traça<strong>dos</strong> pelo indivíduo em risco <strong>de</strong> adotar comportamento da esfera suicidária.O estabelecimento <strong>de</strong> uma relação terapêutica é consi<strong>de</strong>rado essencial <strong>para</strong> acriação <strong>de</strong> um contexto no qual o enfermeiro po<strong>de</strong> ativamente interagir com o clientee explorar as suas necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>senvolvendo estratégias <strong>para</strong> reduzir o risco <strong>de</strong> suicídio,servindo como fator <strong>de</strong> proteção e incentivando um sentimento <strong>de</strong> esperança eunião (NZGG, 2003).As referências à relação enfermeiro – doente são variadas na literatura <strong>de</strong> Enfermagem,sendo reconhecida a sua importância nos diversos mo<strong>de</strong>los teóricos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementeda escola <strong>de</strong> pensamento em que se inserem, sendo a sua existência essencial aoprocesso <strong>de</strong> cuida<strong>dos</strong>.Pela proximida<strong>de</strong> que este tipo <strong>de</strong> relação proporciona, os enfermeiros ficarão numaposição favorável <strong>para</strong> que possam conhecer a condição do indivíduo. A intensida<strong>de</strong>e continuida<strong>de</strong> da relação facilitam a partilha <strong>de</strong> experiências, a revelação <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhese significa<strong>dos</strong> que permitem um conhecimento do enfermeiro mais contextualizado e,portanto, mais compreensível, sobre a resposta do doente e família aos processos <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e doença (Meleis, 2005).A relação terapêutica com base numa relação interpessoal assume-se como uma ativida<strong>de</strong>autónoma, em que o enfermeiro <strong>de</strong>tentor da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar complexo, <strong>de</strong>
integrar e perceber os contextos, avalia os indivíduos em situação <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> comportamentoda esfera suicidária, assumindo-os enquanto seres únicos e <strong>de</strong>senvolvendo acompreensão global do risco <strong>de</strong> suicídio (Nunes, 2001, Peplau, 1987).Para Phaneuf (2005) existe uma questão importante que tem que ser clarificada e quejustifica a intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar um encontro terapêutico. O enfermeiro nem semprese encontra em contexto <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> ajuda. Po<strong>de</strong>rá respon<strong>de</strong>r com benevolênciaao doente, querer ser-lhe útil, conferir um carácter humanista através da escuta e compreensão,mas estas ações, ainda que úteis e necessárias, não passam <strong>de</strong> boa prática <strong>de</strong>cuida<strong>dos</strong>. Nenhuma <strong>de</strong>ssas ações respon<strong>de</strong> a uma situação <strong>de</strong> sofrimento, in<strong>de</strong>cisãoou carga emocional, características próprias <strong>de</strong> situações que necessitam <strong>de</strong> relação <strong>de</strong>ajuda, ou seja, trata-se da principal diferença entre boa prática e intervenção terapêuticaatravés da relação interpessoal.A relação <strong>de</strong> ajuda visa dar ao doente a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, sentir, saber escolhere <strong>de</strong>cidir se <strong>de</strong>ve mudar. Para Phaneuf (2005) é complexo explorar a relação <strong>de</strong> ajudae <strong>para</strong> que isso possa acontecer têm que estar presentes algumas condições prévias. Aprimeira condição consi<strong>de</strong>rada fundamental <strong>para</strong> implementar a técnica da relação <strong>de</strong>ajuda passa pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um conhecimento <strong>de</strong> si próprio enquanto pessoae enquanto profissional, <strong>de</strong> forma a ser capaz <strong>de</strong> fazer uma utilização terapêutica<strong>de</strong> si mesmo. As outras condições po<strong>de</strong>m ser relativas às atitu<strong>de</strong>s da pessoa que ajuda(presença e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> não julgar), relativas à relação a implementar (não diretivida<strong>de</strong>da entrevista e centralida<strong>de</strong> na pessoa a ajudar) ou relativas aos elementos do conteúdo<strong>de</strong>sta relação (escuta e consi<strong>de</strong>ração positiva).Tal como refere a NZGG (2003), o indivíduo com comportamento da esfera suicidárianão vai confiar as suas sensíveis informações a um profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> se não tiver aperceção <strong>de</strong> se sentir ouvido, respeitado e compreendido. O profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> precisa<strong>de</strong> transmitir uma sensação <strong>de</strong> aceitação, calor, ausência <strong>de</strong> julgamento e um forteinteresse em compreen<strong>de</strong>r a natureza e a causa do comportamento adotado.Os enfermeiros <strong>de</strong>vem ainda avaliar as circunstâncias específicas do contexto que po<strong>de</strong>mrepresentar <strong>de</strong>safios <strong>para</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> uma relação terapêutica com indivíduoscom comportamentos da esfera suicidária. Circunstâncias relativas ao indivíduo,tais como esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> agitação, po<strong>de</strong>m comprometer a participação <strong>de</strong>ste na relaçãoterapêutica. Circunstâncias relativas aos enfermeiros, tais como sentimentos negativosassocia<strong>dos</strong> à morte e ao suicídio, também po<strong>de</strong>m representar um obstáculo em si elevar a respostas <strong>de</strong>fensivas por parte <strong>dos</strong> enfermeiros, influenciando a habilida<strong>de</strong> <strong>para</strong>estabelecer uma relação terapêutica (RNAO, 2009).29GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA6.3 - IDENTIFICAR FATORES PROTETORES E DE RISCOFatores ProtetoresDe acordo com vários estu<strong>dos</strong>, existem características e circunstâncias individuais e coletivasque, quando presentes e / ou reforçadas, estão associadas à prevenção <strong>de</strong> com-
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