62GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAFatores <strong>de</strong> Proteção•Recursos pessoaisDa literatura consultada po<strong>de</strong>mos colocar em <strong>de</strong>staque dois importantes recursos pessoaisprotetores no que se refere aos comportamentos suicidários – a autoestima e acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas, estreitamente relacionada com as estratégias <strong>de</strong>coping.Para Vaz Serra (1986), a autoestima é a faceta mais importante do autoconceito, encontra-seassociada aos aspetos avaliativos que o sujeito elabora a seu respeito, baseado nassuas capacida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sempenhos. A autoestima é uma orientação positiva ou negativaem direção a si, uma avaliação global do seu próprio valor (Rosenberg, 1979). Aliada àautoestima, a autoeficácia ou autodomínio e a autoi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> também são componentesimportantes do autoconceito.A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como processo cognitivo--comportamental autodirigido, através do qual as pessoas tentam i<strong>de</strong>ntificar ou <strong>de</strong>scobrirformas adaptativas <strong>de</strong> lidar com os problemas da vida <strong>para</strong> os quais não estão disponíveisrespostas adaptativas imediatas (Lazarus e Folkman, 1984 cita<strong>dos</strong> por Vaz Serra,1999). Esse conceito encontra-se estritamente relacionado com os comportamentos <strong>de</strong>coping que a pessoa manifesta. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como o conjunto <strong>de</strong> esforços realiza<strong>dos</strong><strong>para</strong> lidar com uma situação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu resultado (Vaz Serra, 1999).Reforçando estas noções, no estudo <strong>de</strong> Walsh e Eggert (2007) que envolveu 730 jovensforam i<strong>de</strong>ntifica<strong>dos</strong>, enquanto recursos pessoais protetores, a autoestima conservada, oautocontrolo e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas. Fergunsson et al. (2003), numestudo longitudinal, salientam que o aumento da autoestima está associado a respostasresilientes em relação ao suicídio. As estratégias <strong>de</strong> coping e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução<strong>de</strong> problemas são também eficazes enquanto fatores <strong>de</strong> proteção (Portzky et al., 2008).Alexan<strong>de</strong>r et al. (2009), num grupo <strong>de</strong> 198 pessoas com diagnóstico <strong>de</strong> doença mental ehistória <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> suicídio, realça as estratégias <strong>de</strong> coping mais utilizadas <strong>para</strong> lidarcom a i<strong>de</strong>ação suicida. As estratégias <strong>de</strong> coping mais utilizadas foram a espiritualida<strong>de</strong>, oconversar com alguém, ter pensamentos positivos, recorrer aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>raras consequências do suicídio na família e amigos, recorrer ao apoio <strong>de</strong> pessoassignificativas e fazer alguma ativida<strong>de</strong> prazerosa.Possuir esperança e ter atitu<strong>de</strong>s positivas face aos problemas parecem ser fatores <strong>de</strong>proteção importantes em relação ao suicídio (Roswarski e Dunn, 2009).•Recursos familiaresO apoio familiar, a comunicação entre família e a vivência <strong>de</strong> relacionamentos estáveise <strong>de</strong> confiança assumem-se como importantes fatores <strong>de</strong> proteção (Walsh e Eggert,2007; Thompson et al., 2005; Fortune et al., 2008). Nos jovens, a perceção do envolvimentofamiliar e apoio familiar na escola são também menciona<strong>dos</strong> (Ran<strong>de</strong>ll et al. , 2 0 0 6 ;Kuhlberg et al., 2010; Cheng et al. 2009; Wyman et al., 2010). Walsh e Eggert (2007)
eferem o estudo <strong>de</strong> Perkins e Hartless (2002) que envolveu cerca <strong>de</strong> 15.000 alunos emque o apoio familiar se revelou essencial enquanto fator <strong>de</strong> proteção <strong>para</strong> os comportamentossuicidários.• Recursos sociais e comunitáriosA existência <strong>de</strong> apoio social e a perceção <strong>de</strong> integração são referi<strong>dos</strong> como fatores <strong>de</strong>proteção (Taliaferro et al., 2008; Walsh e Eggert, 2007; Thompson et al., 2005). Osjovens salientam ainda fatores como o envolvimento em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas ou emativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> grupo estruturadas, assim como a elevada importância atribuída à escola(Fortune, 2008).Inúmeros autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que o fácil acesso a cuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que proporcioneminformação acerca <strong>dos</strong> serviços disponíveis, bem como a existência <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>sinformadas e sensibilizadas <strong>para</strong> as questões envoltas na saú<strong>de</strong> mental e suicídio, sãofatores protetores do suicídio.O Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>dos</strong> do Suicídio (2008) aponta algumas medidas preventivas, entre asquais constam a criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> apoio e promoção da sua utilização, o aumento<strong>de</strong> conhecimento e consciencialização das pessoas <strong>para</strong> a problemática do suicídio. Preten<strong>de</strong>-se,<strong>de</strong>sta forma, contribuir <strong>para</strong> uma maior acessibilida<strong>de</strong> aos cuida<strong>dos</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,bem como <strong>para</strong> a redução do estigma da doença mental e, especificamente, em relaçãoao suicídio. No entanto, existem evidências que apontam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser pru<strong>de</strong>nteno que toca à prevenção do suicídio em adolescentes, dado que estas medidas po<strong>de</strong>mser muito <strong>de</strong>licadas, obrigando a que os programas <strong>de</strong> prevenção tenham que ser cuida<strong>dos</strong>amenteelabora<strong>dos</strong> (Kutcher e Chehil, 2007).Garlow et al. (2008) reforçam que <strong>de</strong>ve haver um maior investimento na divulgaçãoeficaz acerca <strong>dos</strong> serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental e <strong>dos</strong> serviços disponíveis na comunida<strong>de</strong> –concretamente <strong>para</strong> os jovens com comportamentos suicidários.A nível nacional <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se que sejam <strong>de</strong>lineadas, <strong>de</strong> forma sistemática, estratégias culturaise educativas que visem eliminar o estigma e a discriminação das pessoas comdoença mental junto <strong>dos</strong> diferentes grupos populacionais, salientando-se a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> intervir junto da população escolar (Plano Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental, 2008). ParaPenn e Couture (2002) e Corrigan (2004), pessoas mais informadas sobre as perturbaçõesmentais e do comportamento são menos estigmatizantes. Além disso, o contactocom pessoas portadoras <strong>de</strong> perturbações mentais e do comportamento está associadoà diminuição do estigma.Tal como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Corrigan (2004), e também Loureiro et al. (2008), perante os resulta<strong>dos</strong>obti<strong>dos</strong> num estudo sobre as crenças e atitu<strong>de</strong>s acerca das doenças e <strong>dos</strong> doentesmentais, conclui-se que medidas com intuito <strong>de</strong> promoção da Saú<strong>de</strong> Mental <strong>de</strong>vem incidirno modo como a socieda<strong>de</strong> interage com os doentes mentais. E isso passará por:a) estratégias <strong>de</strong> protest (<strong>de</strong>núncia) conducentes à redução do estigma e discriminação;b) aumento da frequência <strong>de</strong> contacto com os doentes, <strong>de</strong>safiando representações socialmenteconstruídas; c) planos educativos que procuram reformular os mitos sobre a63GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA
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