42GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAtégias do tratamento também se po<strong>de</strong>m aplicar aos adolescentes que evi<strong>de</strong>nciem episódios<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida aguda (como oposição à i<strong>de</strong>ação crónica incessante), em quefatores precipitantes possam ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>dos</strong>.Os principais objetivos <strong>de</strong>sta intervenção passam pela redução <strong>dos</strong> fatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>suicídio, pela melhoria da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar os problemas e pela redução das taxas<strong>de</strong> repetição do comportamento suicida. Para estes autores é consensual admitir queadolescentes que realizem tentativas <strong>de</strong> suicídio, ou que tenham i<strong>de</strong>ação suicida agudaou persistente, normalmente têm múltiplos problemas psiquiátricos e ambientais, peloque, os adolescentes po<strong>de</strong>rão necessitar <strong>de</strong> tratamento adicional, nomeadamente psicofarmacológico.O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvido por Stanley et al. (2009) está <strong>de</strong>senhado <strong>para</strong><strong>de</strong>senvolver competências cognitivas, comportamentais e <strong>de</strong> interação que permitirãoao adolescente uma melhor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas e <strong>de</strong> enfrentar osfatores que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam o comportamento suicida.O Estudo Multicêntrico <strong>de</strong> Intervenção no Comportamento Suicida da OrganizaçãoMundial da Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>signado por SUPRE-MISS (Fleischmann et al., 2008) visou diminuira escassez <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> acerca do comportamento suicida em países em <strong>de</strong>senvolvimento etestar uma estratégia <strong>de</strong> prevenção dirigida a indivíduos que tentaram o suicídio, em culturasdistintas. Oito países partici<strong>para</strong>m do estudo (África do Sul, Brasil, China, Estónia,Índia, Irão, Sri Lanka e Vietname) com a supervisão científica do Australian Institute forSuici<strong>de</strong> Research and Prevention e do National Centre for Suici<strong>de</strong> Research and Prevention ofMental Health do Instituto Karolinska, na Suécia. O projeto abrangeu dois componentes:um estudo randomizado, longitudinal, que com<strong>para</strong>va uma «intervenção breve» com otratamento usual em indivíduos admiti<strong>dos</strong> nos serviços <strong>de</strong> urgência participantes, <strong>de</strong>vidoa uma tentativa <strong>de</strong> suicídio; e um inquérito nas comunida<strong>de</strong>s das cida<strong>de</strong>s participantes,inferindo comportamento suicida na população geral.Na «intervenção breve», além do encaminhamento habitual, o indivíduo era submetido auma entrevista motivacional <strong>de</strong> aproximadamente 60 minutos e a contactos posteriores(telefonemas ou visitas domiciliares) na 1ª, 2ª, 4ª, 7ª e 11ª semanas e no 4º, 6º, 12º e18º mês após a tentativa <strong>de</strong> suicídio. O principal objetivo <strong>de</strong>sta intervenção foi favorecera a<strong>de</strong>são ao tratamento e evitar comportamento suicida futuro. O grupo <strong>de</strong> indivíduossubmeti<strong>dos</strong> à «intervenção breve» teve uma incidência <strong>de</strong> suicídios 4,4 vezes menor queo grupo <strong>de</strong> controlo. Isto é ainda mais relevante por se tratar <strong>de</strong> uma intervenção relativamentebarata e <strong>de</strong> fácil replicação.Uma das justificações encontradas <strong>para</strong> a ausência <strong>de</strong> psicoterapias com base empíricabaseia-se nas elevadas taxas <strong>de</strong> recusa e abandono do tratamento por parte <strong>dos</strong> adolescentes.Pelos da<strong>dos</strong> encontra<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>mos concluir que existe uma gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver e testar a efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> psicoterapias individuais dirigidas a adolescentescom adoção <strong>de</strong> comportamentos da esfera suicidária, <strong>para</strong> evitar a repetição <strong>de</strong>sse mesmocomportamento. Falamos sobretudo <strong>de</strong> intervenções que visem reduzir a gravida<strong>de</strong><strong>dos</strong> fatores <strong>de</strong> risco estabeleci<strong>dos</strong> <strong>para</strong> o comportamento da esfera suicidária (perturbação<strong>de</strong>pressiva, i<strong>de</strong>ação suicida, impulsivida<strong>de</strong>, etc.) e potenciar os fatores protetores(apoio familiar, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas, auto-conceito, …).
Na abordagem psicofarmacológica, vários anti<strong>de</strong>pressivos têm mostrado eficácia com<strong>para</strong>tivamenteà utilização <strong>de</strong> placebo. No entanto, mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> quecom<strong>para</strong>m tratamento anti<strong>de</strong>pressivo com placebo em crianças e adolescentes com<strong>de</strong>pressão não mostraram nenhum benefício <strong>dos</strong> compostos ativos relativamente aoplacebo.Segundo a RNAO (2009), a sedação aguda com medicação po<strong>de</strong> ser necessária se apessoa se mostra violenta, com comportamento agitado ou com sintomas <strong>de</strong> psicose.Quadro nº 5 – Estratégias <strong>de</strong> Intervenção em CriseCom evidência<strong>de</strong> nível 1BA necessitar <strong>de</strong>melhor evidência· Terapia cognitivo-comportamental eTerapia dialético-comportamental.· Terapia interpessoal;· Terapia sistémica;· Terapia <strong>de</strong> grupo.Fonte: Adaptado <strong>de</strong> RNAO (2009)43GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA6.7 - PROMOVER A ESPERANÇA E COMPORTAMENTOS DE PROCURA DE AJUDAOs comportamentos <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> ajuda e <strong>de</strong> esperança parecem ter uma vital importância,coexistindo em inter-relação e influindo positivamente na prevenção do suicídiona população em geral, especialmente entre os jovens (Roswarski e Dunn, 2009).O tema central das comemorações do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio <strong>de</strong> 2012,promovido pela OMS e IASP (2012), é «Fortalecer fatores protetores, promovendo aesperança». Este aspeto reforça a importância da esperança e do foco das intervençõesnas potencialida<strong>de</strong>s do indivíduo.A esperança parece ser um conceito difícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir, mas que a maioria das pessoas enten<strong>de</strong>como sendo algo que tem uma po<strong>de</strong>rosa influência <strong>para</strong> a vida. A esperança po<strong>de</strong>ser a «força» que move as pessoas <strong>para</strong> procurar ajuda (E<strong>de</strong>y e Jevne, 2003; Moore,2005), servindo <strong>de</strong> âncora e proporcionando a segurança necessária <strong>para</strong> enfrentar algumascircunstâncias difíceis da vida.A esperança é relativa à confiança que a pessoa tem em si e nas suas capacida<strong>de</strong>s <strong>para</strong> encontrarum futuro melhor, estando associada às habilida<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> indivíduos em se adaptareme enfrentarem a vida e os problemas que se lhes colocam.Moore (2005) menciona Hall (1990) quando este <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a esperança representauma orientação <strong>para</strong> o futuro que <strong>de</strong>ve ser mantida a cada momento, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementedo grau <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> riscos potenciais que a pessoa vivencia.Na sua investigação, Moore (2005) analisou vários testemunhos que <strong>de</strong>monstraram oimpacto da esperança em cenários diferentes na prática <strong>de</strong> Enfermagem, revelando a
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