58GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIAtentativa <strong>de</strong> suicídio no passado. A ansieda<strong>de</strong> foi encontrada em ambos os grupos.Wyeth (2008) refere que a vivência <strong>de</strong> stresse intenso ou evento negativo gerador <strong>de</strong>crise po<strong>de</strong>m conduzir à adoção <strong>de</strong> condutas suicidas.Beautrais (2003) concluiu que o risco <strong>de</strong> suicídio estava relacionado com recentes acontecimentos<strong>de</strong> vida geradores <strong>de</strong> stresse (conflitos interpessoais, problemas no trabalhoou financeiros, problemas com a justiça), quando com<strong>para</strong>ndo grupo <strong>de</strong> suicidas e nãosuicidas. Gould et al. (2005), King et al. (2006) e Donald et al. (2006) salientam comoexemplo <strong>de</strong> eventos negativos a perda ou luto <strong>de</strong> pessoa significativa, rutura amorosa,divórcio <strong>dos</strong> pais, discussões familiares persistentes, entre outros.Vários estu<strong>dos</strong> apontam a elevada importância <strong>dos</strong> eventos negativos na história <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,em que a vivência <strong>de</strong> maus tratos durante a infância, violência física oupsicológica e a existência <strong>de</strong> abusos sexuais po<strong>de</strong>m conduzir os jovens à <strong>de</strong>pressão e àadoção <strong>de</strong> comportamentos suicidários. Walsh e Eggert (2007) e Prieto (2002) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mque ser vítima <strong>de</strong> violência ou testemunhar atos <strong>de</strong> violência apresentam-se comofatores acresci<strong>dos</strong> <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> suicídio. Num outro estudo, Ruchkin et al. (2003) evi<strong>de</strong>nciaramque a exposição à violência é um fator importante na adoção <strong>de</strong> comportamentossuicidários, acrescentando que o risco <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> tentativas <strong>de</strong> suicídio é oitovezes maior nos jovens com história <strong>de</strong> abusos sexuais. A imitação ou contágio, também<strong>de</strong>signa<strong>dos</strong> por «Efeito Werther» é outro fator <strong>de</strong> risco que po<strong>de</strong> levar ao aumento <strong>de</strong>comportamentos da esfera suicidária, com repercussões nas taxas <strong>de</strong> suicídio, particularmenteem pessoas «famosas» ou próximas.• Sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperançaA <strong>de</strong>sesperança traduz uma distorção cognitiva caracterizada pela perceção <strong>de</strong> ausência<strong>de</strong> controlo pessoal sobre acontecimentos futuros, pelo sentimento <strong>de</strong> falhanço e pelaperceção <strong>de</strong> si mesmo como incapaz <strong>de</strong> resolver os problemas. Essa forma <strong>de</strong> perceçãomostra-se altamente associada com a autocrítica excessiva e negativamente correlacionadacom a autoestima e o autoconceito (Walsh e Eggert, 2007).As evidências científicas apontam a <strong>de</strong>sesperança como um preditor significativo <strong>para</strong> oscomportamentos suicidários. Beck et al. (1985) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a intensida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> sentimentos<strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperança como um <strong>dos</strong> mais importantes indicadores <strong>de</strong> risco nas pessoascom i<strong>de</strong>ação suicida. Ela é apontada como uma característica central da <strong>de</strong>pressãoe serve <strong>de</strong> ligação entre <strong>de</strong>pressão e suicídio.Num estudo que envolveu uma amostra com 1.287 alunos foi encontrada relação entrea <strong>de</strong>sesperança e o comportamento suicida (Thompson et al, 2005). Esta relação é tambémconfirmada por outros autores como King et al. (2006), Wyeth (2008), Viana et al.(2008), Tsai et al. (2010) e Abreu et al. (2010).• Suporte familiar e socialA ausência <strong>de</strong> suporte familiar e social po<strong>de</strong> representar um fator acrescido <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>suicídio, em que os conflitos familiares e a dificulda<strong>de</strong> nos relacionamentos familiares e
amorosos são menciona<strong>dos</strong> por inúmeros autores (Walsh e Eggert, 2007; Ran<strong>de</strong>ll et al.,2006; Portzky et al., 2008; Fortune et al., 2008; Kuhlberg et al., 2010).Gould et al. (2003), num estudo com<strong>para</strong>tivo entre adolescentes que cometeram suicídioe um grupo <strong>de</strong> controlo, concluíram que os adolescentes suicidas mostraram indícios<strong>de</strong> uma comunicação pouco frequente e pouco satisfatória com seus pais.Walsh e Eggert (2007) referem um estudo <strong>de</strong> King et al. (2001) com jovens, em que osconflitos familiares e cuida<strong>dos</strong> parentais <strong>de</strong>ficitários revelaram-se associa<strong>dos</strong> à presença<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ação suicida e à tentativa <strong>de</strong> suicídio. Num outro estudo, os jovens com tentativa<strong>de</strong> suicídio prévia relataram mais frequentemente ter conflitos com os pais e em cerca<strong>de</strong> 70% <strong>dos</strong> casos uma discussão com familiares foi fator precipitante do comportamentosuicida (Beautrais, 2001).Wyeth (2008) e De Leo et al. (2003) salientam também que padrões <strong>de</strong> vinculação inseguros,violência familiar, pais com autorida<strong>de</strong> excessiva, conflitos familiares, divórcio,famílias adotivas e condições sociais e educacionais <strong>de</strong>sfavoráveis po<strong>de</strong>m conduzir àadoção <strong>de</strong> comportamento suicidários. Donald et al. (2006) e King et al. (2006) evi<strong>de</strong>nciamtambém a vivência <strong>de</strong> uma infância problemática, relações conflituosas com pais eamigos e o isolamento social.O consumo <strong>de</strong> álcool e droga na família foi associado a um maior risco <strong>de</strong> suicídio (Parket al., 2006; Waldrop et al., 2007; Mittendorfer-Rutz et al., 2008), bem como a presença<strong>de</strong> doença mental nos pais (Shain and the Committee on Adolescence, 2007; Stenager eQin, 2008; Mittendorfer-Rutz et al., 2008; Ran<strong>de</strong>ll et al., 2006) e história <strong>de</strong> suicídio nafamília (Saraiva, 2006; Walsh e Eggert, 2007; Wyeth, 2008).59GUIA ORIENTADOR DE BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃODE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E COMPORTAMENTOS DA ESFERA SUICIDÁRIA• Baixa autoestima e diminuição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemasA análise <strong>de</strong> vários estu<strong>dos</strong> experimentais permite concluir que existe consistente relaçãoentre baixa autoestima e a conduta suicida. Baixa autoestima leva as pessoas a avaliarem-secomo incapazes <strong>de</strong> solucionar os problemas coloca<strong>dos</strong> pela vida e a antecipar ofuturo <strong>de</strong> forma negativa (Cruz, 2006). Por outro lado, as evidências científicas apontam<strong>para</strong> que as pessoas com comportamentos suicidas, mais especificamente tentativas <strong>de</strong>suicídio, ten<strong>de</strong>m a apresentar maiores dificulda<strong>de</strong>s na resolução <strong>dos</strong> problemas pessoaiscoloca<strong>dos</strong> pela vida diária, por apresentarem rigi<strong>de</strong>z cognitiva e disporem <strong>de</strong> baixo nível<strong>de</strong> competências sociais (Pollock e Williams, 1998; Rudd et al., 1994; Wilson et al., 1995cita<strong>dos</strong> por Cruz, 2006).Fergunsson et al. (2003), num estudo longitudinal, evi<strong>de</strong>nciaram a existência <strong>de</strong> relaçãoentre a i<strong>de</strong>ação suicida e tentativas <strong>de</strong> suicídio com a baixa autoestima. Num outro estudo(Wichstrom e Rossow, 2002), os estudantes que relataram ter tentado o suicídioapresentavam níveis <strong>de</strong> autoestima mais baixos. No estudo <strong>de</strong> Walsh e Eggert (2007), osjovens em risco <strong>de</strong> suicídio reportaram níveis mais baixos <strong>de</strong> autoestima, autocontrolo ecapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas, entre outros.
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