LENHA NOVA PARA A VELHA FORNALHA – A FEBRE DOS AGROCOMBUSTÍVEISAlgumas conclusõesEm setembro de 2007, na abertura da Assembléia Geral das nações Unidas, emNova Iorque, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que “a experiência brasileirade três décadas mostra que a produção de agrocombustíveis não afeta a segurançaalimentar. O problema da fome no planeta não decorre da falta de alimentos,mas da falta de renda que golpeia quase um bilhão de homens, mulheres e crianças.É plenamente possível combinar biocombustíveis, preservação ambiental e produçãode alimentos”. 11Certamente, a disponibilidade global de alimentos seria suficiente <strong>para</strong> provercomida a toda a humanidade. No entanto, a análise dos fatos recentes relacionadosao crescimento do cultivo dos agrocombustíveis demonstra que estes, sob diversosaspectos, contribuem, juntamente com outros fatores (alta do petróleo, mudançasclimáticas, aumento do consumo de carnes, especulação), <strong>para</strong> comprometer a segurançaalimentar de vários segmentos da população. Vivemos um novo <strong>para</strong>digma, emque a atividade agrícola não é mais inteiramente dedicada à produção de alimentos.Até aqui, podemos visualizar os seguintes impactos negativos:• A elevação generalizada dos preços dos alimentos, em nível global, tem emsua origem, em boa parte, a utilização do milho, do trigo, de óleos vegetais ede alguns outros produtos agrícolas como combustíveis. Se é verdade, comoafirma o presidente Lula, que o problema da fome está relacionado ao darenda, o aumento do preço dos alimentos é fatal <strong>para</strong> uma grande parcela dahumanidade, que, vivendo com menos dois dólares diários, não pode esperarpelo dia em que os preços voltariam a seus níveis históricos.• É possível que, em médio prazo, os preços dos alimentos retornem aos níveisanteriores, pois a tendência observada historicamente é a de queda dos preçosrelativos dos produtos primários frente aos demais preços da economia.No entanto, a crescente utilização de produtos vegetais como combustíveis éum fato novo. Acrescente-se a ele os impactos sobre a produção agrícola quedecorrem das mudanças climáticas, e temos como resultado um panorama deincertezas sobre o futuro dos preços dos alimentos. Pela primeira vez, parecehaver uma relação direta entre os preços do petróleo e os dos alimentos.• A expansão das monoculturas voltadas à produção de agrocombustíveis reduztambém a segurança alimentar da agricultura familiar à medida que provocaa valorização das terras. Com isto, o agricultor enfrenta dificuldades crescentes<strong>para</strong> produzir seus próprios alimentos. A segurança alimentar vê-seprejudicada, ainda, em regiões distantes ou isoladas dos grandes centros de11 Marília Martins. Lula anuncia plano ambiental. O Globo, 26/09/07.102
SÍNTESE E CONCLUSÕESprodução de alimentos, já que estes têm seus preços aumentados pelos custosde transporte e sua qualidade deteriorada pelo tempo e pelas condições precáriasde transporte.• As monoculturas, de modo geral, reduzem a disponibilidade de água, secandosuas fontes, além de contaminarem com agrotóxicos o volume remanescente.Seus impactos sobre a produção de alimentos tradicionais não se limitam,portanto, às <strong>nova</strong>s áreas ocupadas pelo monocultivo, mas atingem tambémos territórios circunvizinhos.• Além de causarem desemprego, as monoculturas alteram o padrão de circulaçãoda renda local, já que se utilizam de insumos e equipamentos produzidosem centros distantes. As economias locais e regionais vêem-se, assim,duplamente empobrecidas. É por este motivo que já despontam em algunsestados e municípios iniciativas governamentais no sentido de frear o crescimentoda cana-de-açúcar, <strong>para</strong> evitar o desemprego e o aumento dos preçosdos alimentos.• O crescimento das monoculturas relacionadas à produção de agrocombustíveisestá causando a destruição de biomas no Brasil, de forma indiretatambém. Neste particular, o deslocamento da criação do gado bovino <strong>para</strong><strong>nova</strong>s áreas de fronteira agropecuária é o principal fator de destruição de biomascomo a Floresta Amazônica, o Cerrado e o Pantanal.Agrocombustíveis, aquecimento global,pastagens e áreas degradadasSem dúvida, é necessário encontrar fontes alternativas de energia que venham asubstituir os combustíveis derivados do petróleo. Mas a simples troca da gasolinapelo etanol e do óleo diesel pelo biodiesel, da maneira que vem se desenvolvendo,pode vir a causar mais problemas do que benefícios, seja do ponto de vista econômico,social ou ambiental. Mesmo <strong>para</strong> o enfrentamento do aquecimento global, osestudos mais recentes indicam que os agrocombustíveis, produzidos em regimesmonoculturais, podem na verdade agravar o problema, ainda que isto não se dê àcusta da destruição de florestas.Segundo pesquisa realizada por Paul J. Crutzen, Prêmio Nobel de Química,o óleo de canola produzido na Europa resultaria em liberação de 70% mais gasesresponsáveis pelo efeito estufa do que o óleo diesel. Já o etanol de cana gera“apenas” entre 50 e 90 por cento dos gases do efeito estufa que seriam emitidospela gasolina. 1212 Emma Graham-Harrison. Muitos biocombustíveis seriam mais nocivos que petróleo. Reuters/BrasilOnline, 27/09/07.103
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