LENHA NOVA PARA A VELHA FORNALHA – A FEBRE DOS AGROCOMBUSTÍVEISÀ semelhança do que vem ocorrendo com outros alimentos, o consumo mundialde açúcar vem se ampliando de forma mais acelerada nos últimos anos, em funçãodas elevadas taxas de crescimento econômico apresentadas por países asiáticos,particularmente China e Índia. A comercialização do açúcar proveniente da canaplantada no Brasil beneficiou-se também de decisão tomada pela Organização Mundialdo Comércio (OMC), no sentido do corte dos subsídios ao açúcar, a partir de açãopromovida pelo Brasil, Austrália e Tailândia contra a União Européia (UE).Com a derrota na OMC, a UE será obrigada, até 2009, a reduzir fortemente opreço garantido através de subsídios aos agricultores europeus que produzem açúcara partir da beterraba. Com isto, o Brasil pretende elevar consideravelmente suas exportações<strong>para</strong> a Europa e outras regiões tradicionalmente supridas pela produção européia.No Brasil, que já é o maior exportador mundial dos derivados da cana, estesfatos têm resultado em aumento expressivo na expansão do plantio e beneficiamento.Tradicionalmente em mãos do empresariado brasileiro, estas atividades contam agoratambém com forte impulso do ingresso do capital estrangeiro.A expansão acelerada destas atividades vem despertando, por outro lado,preocupações no Brasil e no mundo, por diversas razões. A primeira delas é o impactoque o crescimento do plantio de agrocombustíveis pode, seguramente, estar causandosobre os preços dos alimentos. As possíveis conseqüências sobre a agriculturafamiliar e o meio ambiente, decorrentes da expansão territorial do cultivo, assim comoas condições de trabalho degradantes dos cortadores de cana, são também questõesque vêm mobilizando a opinião pública nacional, com reflexos no plano internacional,à medida que o álcool da cana começa a se tornar importante artigo de exportação.O governo brasileiro vem afirmando repetidamente que a expansão dos canaviaisnão afetará a Amazônia ou o Pantanal, e que a produção de alimentos também nãoserá prejudicada. Ao mesmo tempo, diversas obras de infra-estrutura, como os alcooldutos,já contam com projetos em andamento.É preciso, no entanto, levar em conta outros impactos indiretos decorrentesdesta <strong>nova</strong> onda da cana-de-açúcar. Nos anos recentes, em todo o País, a valorizaçãoda terra vem produzindo importantes efeitos sobre as atividades rurais. Outros cultivos,assim como a criação de gado, parecem deslocar-se justamente <strong>para</strong> aquelas regiõesque o governo afirma que não serão ocupadas pela cana-de-açúcar. Buscamos apresentarneste capítulo os principais efeitos sociais e ambientais do atual ciclo de expansãoda cana-de-açúcar no Brasil.ProduçãoO Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar – cerca de 30% do totalcolhido em todo o mundo – e seus derivados, seguido por Índia, China, Tailândia eMéxico (Gráfico 2). Segundo estimativas da FAO divulgadas em maio de 2008, aprodução mundial de açúcar na safra 2007/2008 deverá atingir 168 milhões de10
CANA-DE-AÇÚCARtoneladas, com crescimento de cerca de 1,1%, ante a produção de 166,1 milhõesde toneladas verificada em 2006/2007. O consumo global foi estimado em 158,2milhões de toneladas em 2008. (FAO, 2008)Três quartos da produção mundial de açúcar se dão a partir da cana-de-açúcar,em zonas tropicais localizadas no hemisfério Sul. Os cinco principais países produtoresde açúcar, que também são os maiores consumidores do produto, foramresponsáveis por cerca de 59% da produção mundial na safra 2006/2007. Nesta,o Brasil produziu 29,7 milhões de toneladas de açúcar. Em segundo lugar vem aÍndia, com produção de 25 milhões, seguida da China, com 10 milhões, comoilustra o Gráfico 2. (Guarani, 2007)GRÁFICO 2Principais produtores de açúcarCana-de-açúcar (safra 2006/2007)Fonte: F. O. LichtEstes números sobre a produção em 2007 significaram um excesso de ofertano mercado internacional, resultante da recomposição da safra nos países tradicionalmentegrandes produtores, como Índia e Austrália. Após duas safras prejudicadaspor problemas climáticos, estes países recuperaram, no ano de 2007, índicesde produção e produtividade observados historicamente.A produção mundial de etanol tem crescido, nos últimos anos, mais rapidamentedo que a de açúcar. Desde 2000, cresce à taxa média de 10,5% ao ano, o queresultou em uma produção de cerca de 53 bilhões de litros em 2007. No mesmoperíodo, a produção de açúcar cresceu apenas 3% ao ano.11
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