LENHA NOVA PARA A VELHA FORNALHA – A FEBRE DOS AGROCOMBUSTÍVEIStodo o mundo. Os volumes globais de combustíveis necessários ao atendimentodestes programas fazem prever transformações radicais na agricultura mundial.A utilização do milho, da cana, da soja, do trigo, da palma e de muitos outrosvegetais como combustíveis está provocando a elevação dos preços de diversosalimentos. É discutível a longevidade do aumento de preços de produtos agrícolas,já que a queda de seus preços relativos (frente aos produtos industrializados) éuma tendência histórica. Mas é indiscutível o efeito perverso destes aumentos nestemomento: mais de dois bilhões e meio de pessoas no mundo vivem com rendainferior a dois dólares por dia.Dentre os programas de substituição de combustíveis fósseis por biomassadestaca-se, por suas dimensões, o dos Estados Unidos, de substituição de parte dagasolina pelo etanol produzido a partir do milho. Com mais de um quarto da frotaautomobilística mundial, os EUA planejam substituir 20% da gasolina automobilísticaconsumida no país pelo etanol, até 2017. Em direção a esta meta, a produçãonorte-americana de etanol deverá aumentar 110%, somente entre meados de 2007e o final de 2009. Estima-se que o país já destina, em 2008, dez por cento de todoo milho produzido no mundo <strong>para</strong> sua produção de etanol.Dado que o território norte-americano já não conta com áreas de expansãoagrícola em quantidade expressiva, o aumento da produção do milho naquele paísvem se dando à custa da redução da área plantada com outras culturas, como a dasoja e a do algodão. Com isto, o programa já vem afetando os preços não só dasoja, do milho e do algodão, mas também os de outros produtos. Como milho esoja são os principais componentes da ração animal, os preços das carnes, assimcomo o do leite e seus derivados, vêm também apresentando altas sucessivas.O crescimento da economia chinesa, da mesma forma, vem incrementando aprocura por estes componentes da ração animal, à medida que influencia os hábitosde consumo alimentar tradicionais. Com sérios problemas ambientais, a China trocouhá alguns anos a condição de exportadora pela de importadora de soja. O país exportouem 2007, menos da metade do volume de milho exportado em 2001. Em poucosanos, deverá passar também à condição de importador do produto.Além disso, não só a China, mas vários outros países vêm desenvolvendo programasque visam substituir os combustíveis à base do petróleo por outros, à basede vegetais, mesmo que seu próprio território não ofereça as condições necessárias<strong>para</strong> a produção doméstica. À semelhança do que se passa com o etanol, a adoçãodo biodiesel vem provocando a elevação dos preços internacionais de diversas oleaginosas,como o óleo de soja, o dendê, o girassol e outras.Os grandes mercados consumidores de hoje vêem o Brasil como o país quereúne o maior potencial <strong>para</strong> “alimentar o mundo”, da ração animal ao alimentohumano, passando agora também pelos agrocombustíveis. Os países da Europa, aChina, o Japão, já tendo consumido grande parte de suas reservas naturais, encaram6
INTRODUÇÃOo Brasil como o grande celeiro, onde estes recursos essenciais podem ser obtidos abaixo custo, em troca de produtos industriais de alto valor, ganhos no setor financeiro,sobre a propriedade intelectual e outros.A possibilidade de que a expansão destes cultivos venha causar problemassociais e ambientais vem sendo objeto de preocupação. O debate dos efeitos sobrea disponibilidade de alimentos e a elevação de seus preços já ocupa lugar de destaquenos meios de comunicação. Sobre a questão ambiental, em particular, os paísespotencialmente importadores do Brasil já buscam certificar-se de que não estarãocomprando uma produção que se faça à custa da destruição de florestas. A preocupação,como sempre, é focalizada apenas na Floresta Amazônica.A ameaça de destruição de vegetação nativa, no entanto, não se limita àAmazônia, nem ao Brasil. Na Malásia, por exemplo, a maior parte da florestaoriginal já foi destruída nos anos recentes, em grande parte devido ao crescimentoda demanda mundial pelo óleo de dendê, e já estão em andamento, naquele país,projetos de expansão da produção e exportação do biodiesel.Conseqüências <strong>para</strong> o BrasilO governo brasileiro enxerga nesta onda uma grande oportunidade de aumentarexpressivamente as exportações do país, a começar pelo etanol. Enquanto busca,internamente, concentrar o controle da distribuição e das exportações nas mãos daPetrobras, inscreve a venda do etanol como item prioritário na agenda de viagensinternacionais do Presidente da República.A produção do biodiesel, ao contrário, deverá estar por muitos anos voltadaprioritariamente <strong>para</strong> o mercado doméstico. O governo brasileiro tem por objetivosubstituir por óleos vegetais, a partir de 2008, parte do óleo diesel consumido noBrasil. Embora o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel busque privilegiara produção da agricultura familiar, a participação da soja cultivada em grandespropriedades na produção do biodiesel vem predominando amplamente.Os combustíveis automotivos derivados do petróleo não são, no entanto,os únicos a serem substituídos por fontes renováveis. No caso da siderurgia, ocarvão vegetal – proveniente de florestas nativas ou artificiais – também vemsendo utilizado amplamente como fonte de energia. Os planos de expansão dasusinas siderúrgicas no Brasil prevêem elevados investimentos, com expressivoacréscimo no volume de aço produzido. O carvão vegetal, que é igualmente utilizadoem outros setores produtivos, é também, importante item da pauta deexportações brasileiras.O território brasileiro é hoje ocupado por diversos monocultivos. Três deles,que figuram dentre os que ocupam as maiores superfícies, estão relacionados àprodução de agrocombustíveis e são aqui analisados: a soja, a cana-de-açúcar eas florestas artificiais, onde se destaca o plantio de eucaliptos. Somados, eles7
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