INVESTIGAÇÃO OTORRINOLARINGOLÓGICA EM PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASEVideolaringoscopia Multibacilares PaucibacilaresEpiglotegranulomatosa1 0Telangiectasias 1 0Nódulo de pregavocal0 1Total 2 1Tabela 1 – Achados, segundo exame de videolaringoscopiaÀ anamnese da cavidade nasal, houveduas pessoas com queixas obstrutivas nasais,duas com rinorreia e uma com prurido nasal.Um dos indivíduos multibacilares relatou,além de obstrução nasal, a formação decrostas, epistaxe e dor, de acordo coma Tabela 2. Nenhum relatou hiposmia ouanosmia.Sintomas nasais Multibacilares PaucibacilaresObstrução nasal 1 1Rinorria 1 1Prurido nasal 0 1Crostas nasais 1 0Epistaxe 1 0Dor 1 0Total 5 3Tabela 2 – Sintomas nasais em pacientes portadoresde hanseníaseAo exame físico da cavidade nasal,apenas um paciente multibacilar possuíadesabamento da pirâmide nasal, comdestruição de cartilagens laterais superiorese inferiores e de septo nasal.À nasofibroscopia, evidenciou-se umpaciente com palidez mucosa, um comhiperemia mucosa, ulcerações, sinéquias,perfuração septal e crostas nasais; trêscom hipertrofia de cornetos nasais; um comatrofia de cornetos nasais e três com desviode septo nasal, segundo a Tabela 3. Nenhummanifestou insuficiência velofaríngea.Nasofibroscopia Multibacilares PaucibacilaresHipertrofiacornetos nasaisde0 3Desvio de septonasalUlceraçõesmucosaem1 21 0Crostas nasais 1 0Sinéquias 1 0Hiperemia mucosa 1 0Palidez mucosa 0 1Atrofia de cornetosnasais1 0Perfuração septal 1 0Total 7 6Tabela 3 – Achados, segundo exame de nasofibroscopiaDiscussãoEmbora o Brasil tenha registradodiminuição na detecção de casos novos, ahanseníase ainda constitui um problemade saúde no país, principalmente nasRegiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que concentram 53,5% dos casosdetectados em apenas 17,5% da populaçãobrasileira. 12 Apesar da elevada casuística,o número de pacientes diagnosticadoscom hanseníase, que são encaminhadosou conseguem chegar a atendimentootorrinolaringológico complementar, éextremamente baixo. Tal realidade não é aideal, pois sabe-se que a região da mucosanasal e orofaríngea é a principal porta deentrada e de eliminação bacilar. Com isso,o exame otorrinolaringológico é importanteno diagnóstico precoce pelo acometimentofrequente das vias aérea superiores emcaráter descendente, ou seja, inicia pelasfossas nasais e, a seguir, boca e laringe.A mucosa nasal geralmente écomprometida nas fases iniciais da doença,frequentemente precedendo o aparecimentodas lesões cutâneas. 13 As manifestaçõespodem ser divididas em três grupos: asprecoces, caracterizada por infiltraçãoda mucosa e ressecamento anormal; asintermediárias, na qual a infiltração aumenta56revistahugv - <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – <strong>2011</strong>
Santana et algerando obstrução nasal e hipersecreçãomucosa originando crostas, e, por últimas,as manifestações tardias, marcadas pelocomportamento mutilante da doença comulceração, infecção secundária e reduçãodo aporte sanguíneo ao pericôndrio levandoa perfuração do septo nasal, alterações dasensibilidade e do olfato. A destruição dosepto nasal caracteriza o nariz em sela,deformidade típica da hanseníase. 14 Nessaavaliação, somente um paciente multibacilarpossuía desabamento de pirâmide nasal, comdestruição de cartilagens alares superiores einferiores e septo nasal.Nessa série de casos, todos os pacientesrelataram alguma queixa nasal, sendo asmais frequentes obstrução e rinorreia,ambos em dois pacientes cada. Um dospacientes com obstrução nasal queixava-setambém de eliminação de crostas, epistaxee dor. Apenas um paciente queixou-se deprurido nasal e nenhum referiu alteraçõesno olfato. Todos esses achados foram citadospor outros estudos, sendo a obstrução nasale a eliminação de crostas os sintomas maisdescritos em um trabalho maior realizadonum centro de referência. 15 Nesse mesmoestudo, o exame físico nasal revelou apresença de hipertrofia de conchas nasaisem 36% dos casos, atrofia de conchas nasaise hiperemia mucosa em 22% dos pacientes,cada, e palidez mucosa em 20%. Não foramrelatados casos de desvio de septo. Emnossa casuística, a hipertrofia de conchasnasais também foi o principal achado emtrês pacientes. A atrofia de conchas nasais,hiperemia e palidez mucosas só foramencontrados em um paciente, cada. Foramobservados três casos de desvio de septonasal.É comum que alguns pacientes nãotenham queixas nasais e, quando as possui,não as relacionam à hanseníase, mostrandoa importância de um acompanhamentosistemático de um otorrinolaringologista numcentro de tratamento da hanseníase.Na cavidade oral, os locais afetadosem ordem de frequência são: palato duro,palato mole, gengiva, língua, lábios emucosa jugal. Os tecidos moles afetadosapresentam-se inicialmente como pápulasfirmes, amareladas ou vermelhas, sésseis,de tamanho crescente, que ulceram enecrosam, sendo seguidas por uma tentativade cicatrização por segunda intenção. Podeocorrer a perda completa da úvula e fixaçãodo palato mole. As lesões linguais surgemprincipalmente no terço anterior e muitasvezes começam como áreas de erosão, quepodem resultar em grandes nódulos. 16,2 Nopresente estudo, não foram detectadaslesões, ao exame físico, de cavidade orale orofaringe, muitas vezes, porque ospacientes já se encontravam em tratamento,na ocasião da consulta. A menor incidênciade lesões orais observadas recentemente,comparado com os relatos mais antigos,pode ser explicada pelo fato de o tratamentopoliquimioterápico vigente ser mais efetivoe iniciado precocemente, e, provavelmente,também pelo melhoramento da higiene oral. 7A mucosa oral oferece uma resistêncianatural para o surgimento da hanseníase e aslesões orais podem estar restritas a estágiosavançados da doença. A invasão da mucosaoral pode ocorrer quando há uma bacteremiade M. leprae. Entretanto, a mucosa oralpode ser um local para a localização do M.leprae, até mesmo sem sinais macroscópicose isso precisa ser confirmado usando técnicashistológicas e biologia molecular. 17Em pesquisas realizadas pela PCR, combiópsias em mucosa, aparentemente normalde palato duro e mole em sete pacientesmultibacilares, em tratamento, obteve-sepositividade em seis dos sete casos (85,7%)para detecção molecular do M. leprae. 18Dentre os nervos cranianos, o maisafetado pela hanseníase é o trigêmeo (V par)responsável pela sensibilidade da face, dos2/3 anteriores da língua e do palato duro emole, e, em seguida, o nervo facial (VII par)57revistahugv - <strong>Revista</strong> do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – <strong>2011</strong>