13.07.2015 Views

Luiz Guilherme Marinoni - Tribunal Regional Federal da 4ª Região

Luiz Guilherme Marinoni - Tribunal Regional Federal da 4ª Região

Luiz Guilherme Marinoni - Tribunal Regional Federal da 4ª Região

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ao se pensar em decisão com eficácia vinculante, surge naturalmente a curiosi<strong>da</strong>de de se saber oque, diante do precedente, realmente vincula, assim como quem tem autori<strong>da</strong>de para identificar a porçãodo precedente hábil a produzir o efeito vinculante. Isso se torna fun<strong>da</strong>mental quando o precedente não éclaro ou há dificul<strong>da</strong>de em identificar a tese que efetivamente foi proclama<strong>da</strong> pelo tribunal para a solução<strong>da</strong> questão constitucional.A ratio decidendi nem sempre é imediata e facilmente extraível de um precedente, e, em outrassituações, pode exigir a consideração de várias decisões para poder ser precisa<strong>da</strong>. Nestas hipóteses éimprescindível uma decisão que, sobrepondo-se às decisões já toma<strong>da</strong>s a respeito do caso, individualize aratio decidendi, até então obscura e indecifrável. Foi para tais situações que o constituinte derivadoestabeleceu, no art. 103-A <strong>da</strong> CF, o procedimento para a criação de súmula com efeito vinculante.Quando a ratio decidendi ressai de forma cristalina <strong>da</strong> decisão, a súmula é absolutamente desnecessária.Mas, quando existem decisões de natureza complexa e obscura, deve-se editar súmula para restarprecisa<strong>da</strong> a ratio decidendi. 119Não obstante, decide-se muitas vezes pela edição de súmula vinculante para não pairar dúvi<strong>da</strong> acerca<strong>da</strong> eficácia vinculante que deflui de ratio decidendi claramente delinea<strong>da</strong> em recurso extraordinário.Reprise-se: a súmula vinculante não seria necessária, mas, porque não há pleno consenso de que asdecisões toma<strong>da</strong>s em recurso extraordinário têm eficácia vinculante, encaminha-se a questão para aedição de súmula vinculante para não sobrar dúvi<strong>da</strong> acerca <strong>da</strong> obrigação de respeito à clara ratiodecidendi elabora<strong>da</strong> no recurso extraordinário.17. O juiz diante dos conceitos indeterminados e <strong>da</strong>s regras abertasConsiderando-se o juiz <strong>da</strong> tradição do civil law, isto é, aquele desejado pela Revolução Francesa,torna-se inevitável afastá-lo do julgador que decide com base em conceitos indeterminados e em regrasabertas. Não há dúvi<strong>da</strong> que o juiz que deve decidir pronunciando as palavras <strong>da</strong> lei – como queriaMontesquieu – não pode se confundir com aquele que pode <strong>da</strong>r significado a conceito indeterminado ouconcretizar regra aberta, adotando a solução que lhe parecer oportuna e adequa<strong>da</strong> ao caso concreto.Como advertem Merrymann e Pérez-Perdomo, não se exige muita imaginação para perceber quecláusulas como a <strong>da</strong> boa-fé dão ao juiz grande porção de poder equitativo indefinido, deixando-o quaseque sem responsabili<strong>da</strong>de diante <strong>da</strong> formulação legislativa. 120É interessante verificar, nesta dimensão, o que se passa no processo civil contemporâneo. Na épocado Estado liberal clássico, vigorava no processo civil o princípio <strong>da</strong> tipici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas processuais.Tratava-se, nas palavras de Giuseppe Chioven<strong>da</strong>, de uma garantia de liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s partes contra a119. Sobre o conceito de ratio decidendi, ver MARSHALL, Geoffrey. What is binding in a precedent. In:MACCORMICK, Neil; SUMMERS, Robert S. Interpreting precedents: a comparative study. London: Dartmouth,1997. p. 503 e ss.; STONE, Julius. Precedent and law: the dynamics of common law growth. Sydney:Butterworths, 1985. p. 123 e ss.120. “É ver<strong>da</strong>de que o legislador agiu e que sua ação é expressa como uma regra de direito material, mas os termossão tão amplos (‘boa-fé’, que não é defini<strong>da</strong> no código, possui uma área quase ilimita<strong>da</strong> de potencialaplicação) que o juiz quase não é condicionado pela formulação legislativa. O que aquela norma significadepende do uso que o juiz dela faz no caso concreto. O que os juízes fazem com ela nos casos concretos setorna o direito factual [law in fact], apesar de não teórico [law in theory]” (No original: “It is true that thelegislature has acted and that its action is expressed as a substantive rule of law, but the terms are so broad(‘good faith’, which is not defined in the code, has an almost unlimited area of potential application) that thejudge is hardly constrained by the legislative formulation. What that stature means depends on what judges dowith it in concrete cases. What they do with it in concrete cases becomes the law in fact, although not intheory”) (MERRYMAN, John Henry; PÉREZ-PERDOMO, Rogelio. Op. cit., p. 53).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!