Saberes Necessarios para uma Educação Inclusiva

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A partir da elaboração da Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o Brasil assume uma nova postura com o intuito de “constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos”, passando a escola a ser concebida como uma instituição de educação formal fundamentada na concepção de direitos humanos, buscando a construção de um sistema educacional inclusivo, promovendo acesso a todos os alunos à escola comum; e, na Educação Especial, a inclusão desses alunos público-alvo no ensino comum, conforme regulamentado na Meta 4 do Plano Nacional de Educação – PNE, conforme lei 13.005/14 (BRASIL, 2014). A proposta da construção de um sistema educacional inclusivo é uma modificação intencional das políticas públicas que se encontram amparadas legalmente em princípios teóricos fundamentados na valorização da igualdade e das diferenças presentes no ambiente escolar. Embora os conceitos “inclusão”, “diferença” e “respeito” figurem nessa perspectiva, o que percebemos na prática nos distancia muito desse ideal. Diante desse contexto, resolvi propor o diálogo com alguns segmentos da Educação Especial, no caso dessa experiência, com as professoras das Salas de Recursos Multifuncionais, para identificar sua percepção sobre a realidade do Atendimento Educacional Especializado na Rede Municipal de Ensino. No primeiro momento, foi possível verificar inúmeras queixas, reclamações, indagações, mas indicações de possibilidade de mudança, cristalizando a realidade. Segundo Paulo Freire: Enquanto a mudança implica, em si mesma, uma constante ruptura, ora lenta, ora brusca, da inércia, a estabilidade encarna a tendência dessa pela cristalização da criação. Enquanto a estrutura social se renova através da mudança de suas formas, da mudança de instituições econômicas, políticas, sociais, culturais, a estabilidade representa a tendência de normalização da estrutura. (FREIRE, 1999, p. 47). Nesse sentido, verifiquei que, em todas as exposições de descontentamento do grupo, não existia espaço para comprometimento com a mudança e esforços necessários à modificação que qualquer realidade exige. Diante dessas situações, resolvi buscar subsídios teóricos e metodológicos que possibilitassem uma proposta de intervenção baseada no diálogo. Assim, nasceu a primeira descoberta, como ação para “Construir uma prática pedagógica de valorização das diferenças, pautada na experimentação, criação, para construção de práticas mais humanitárias e inclusivas”. E, nesse sentido, melhorar os serviços de atendimento das crianças e dos adolescentes como público-alvo do AEE, atendidas na Rede de Ensino de Itajaí. Foram principais motivadoras dessa ação as seguintes indagações: Como podemos favorecer a comunicação como instrumento de humanização das relações entre os profissionais do AEE? Como podemos facilitar o processo de reflexão, mudança a partir de problemáticas do cotidiano com apoio de um grupo de referência? Como podemos auxiliar o professor de educação especial a estruturar seu processo de criação e registro? Como podemos divulgar o resultado desse trabalho? Imersão A partir dessa demanda de ação, e de todas as indagações geradas pelo diálogo com as professoras de Educação Especial, das Salas de Recursos Multifuncionais da Rede Municipal de Ensino de Itajaí, iniciei um processo de estruturação de uma proposta. Inicialmente, elaborei um instrumental intitulado “Caderno de atividades” com o intuito de favorecer o processo de registro e estruturação dos planos do professor de educação especial. O primeiro encontro do grupo, intitulado “Primeira fase”, aconteceu no auditório da Biblioteca Pública Municipal, no dia 18 de março. Ele contou com a apresentação do conceito geral do projeto, apresentação do vídeo “Quem se Importa?” (que retrata ações efetivadas em diferentes partes do mundo, como resposta a uma problemática local). Foram apresentados conceitos importantes do projeto, e, na sequência, houve a divisão dos profissionais em grupos conforme sua localidade. Eles foram assim distribuídos: 82 Descoberta
Central, Cidade Nova, Cordeiros, Fazenda, Itaipava, Salseiros e São Vicente. Cada grupo deveria identificar as problemáticas de sua localidade, por meio de uma discussão. Na sequência, eles deveriam compor um quadro respondendo as seguintes questões: “O que você quer para o AEE?” e “Quais a limitações para essa efetivação?”. Após discussões e produções, o encontro foi encerrado, sendo, posteriormente, cada participante incluído em um grupo (no aplicativo WhatsApp), de acordo com o grupo que compunha, para favorecer as trocas locais e a comunicação entre os integrantes e o organizador do projeto. Após o primeiro encontro coletivo, aconteceram os encontros presenciais em pequenos grupos, intitulado “Segunda fase”. Nele, foram retomadas as discussões do primeiro encontro e trazidas questões de aspirações e limites para organizar coletivamente o desafio do grupo, oportunizando o encadeamento das ideias coletivas. Os encontros aconteceram nas salas de recursos multifuncionais das escolas municipais e foram confirmados previamente com os gestores e os professores, conforme contato via e-mail. Na sequência, houve a “Terceira fase”, momento que os professores tiveram a oportunidade de criar um plano para o desafio do grupo. Eles aplicaram instrumentais como o “Mapa de Empatia” para compreender a percepção de outros sujeitos sobre a educação especial. Eles definiram os objetivos de sua ação, limites, indicadores e, por fim, estabeleceram um cronograma para realização de suas metas. O Quadro 1 a seguir mostra os principais objetivos elencados pelos grupos. Quadro 1 - Principais objetivos dos grupos Grupo Nome Projeto Central Central Como podemos conseguir consultoria do MEC para o Órgão Central da Rede Municipal de Ensino de Itajaí? Cidade Nova Verde Como podemos desenvolver projetos de parceria com os professores que favoreçam a mudança de pensamento e de comportamento dos alunos na sua relação com a aprendizagem? Cordeiros Cordeiros Como podemos ter materiais Pedagógicos adaptados para crianças da Educação Infantil até Anos Finais e oficinas para produção de materiais pedagógicos? Fazenda Fazenda Como podemos oportunizar ao profissional do AEE mais autonomia quanto a sua organização de atendimento ao aluno, planejamento, orientação para professores e em seus planejamentos, elaboração de material, adaptação, formação em serviço dos demais profissionais da unidade de ensino, assim como para as demais funções exercidas de professor de educação especial? Itaipava Itaipava Como podemos permanecendo 40 horas na mesma unidade escolar? São Vicente Superação Como podemos fomentar entre os professores do ensino comum a necessidade de buscar conhecimentos específicos de estratégias diferenciadas que promovam o aprendizado da diversidade da sala de aula? Salseiros Tenacidade Como podemos ter disponibilidade de literatura infantil acessível às crianças com deficiência sensorial em parceria com a Biblioteca Pública Municipal? Fonte: Elaborado pelo autor. A produção desencadeou uma série de novos instrumentos como indicadores, questionários, reuniões, análises, que demandavam mais organização e comunicação entre os grupos. Desse modo, foi incentivado aos grupos a criação de e-mails com o nome escolhido pelo respectivo grupo, para favorecer a criação de um endereço, onde pudessem ser indicadas outras demandas comunicativas. Essa etapa foi intitulada “Quarta fase” e contou também com a criação de uma nova ação alinhada a esse projeto, intitulada “Coolab - Rede Colaborativa”. Nas diferentes redes sociais dessa ação, foi oportunizada a divulgação do que é o “Atendimento Educacional Especializado?”, “O que é Centro Municipal de Educação Especial?”, e, principalmente, foram divulgadas ações envolvendo aprendizagem e desenvol- Erickson Jones Lima 83
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