Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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palhou ao redor do mundo), explorando a sua vida, percebemos que<br />
ela foi feita para isso, mas tudo, em seus passos até a fundação dessa<br />
ordem, era composto de acasos, coincidências, encontros, através dos<br />
quais percebemos pouco a pouco o que ele deveria fazer.<br />
Também é um pouco verdade no caso do fugitivo em Um condenado<br />
à morte escapou: ele vai até um certo ponto. Ele não tem ideia do que<br />
vai acontecer lá. Ele chega. E então, ele tem que escolher. Ele escolhe.<br />
E ele chega a outro lugar. E, novamente, o acaso o faz escolher outra<br />
coisa.<br />
No caso de Santo Inácio, ele passa por exatamente o mesmo. Tudo o<br />
que ele fez, ele não fez por si mesmo, ele fez através de seus encontros.<br />
Delahaye: Em Um condenado, a jornada do herói também faz pensar<br />
na jornada espiritual de São João da Cruz.<br />
<strong>Bresson</strong>: Sim, sim. Porque no fundo, se quisermos prestar atenção:<br />
tudo se parece na vida. Mesmo a mais simples e chata das vidas parece<br />
com uma outra vida, de um outro homem. Mas com acidentes, acasos<br />
diferentes...<br />
Na vida dos grandes homens, isso se vê, porque se fala a respeito,<br />
porque sabemos os detalhes, mas estou convencido de que todas as<br />
nossas vidas são feitas da mesma maneira, isto é, feitas de predestinação<br />
e de acasos.<br />
Sabemos que somos feitos aos cinco ou seis anos. Nessa idade, acabou.<br />
Aos doze ou treze anos, já dá pra ver. E depois, continuamos a ser<br />
o que éramos, utilizando diferentes acasos. Usamos esses acasos para<br />
cultivar o que já estava em nós, e que se talvez não tivesse sido cultivado,<br />
nunca ninguém teria visto o que havia de promissor.<br />
Delahaye: É o problema da vocação. Seria então feita de tudo o que<br />
somos – digamos, aos onze anos, uma espécie de fundo imutável que<br />
usa mais ou menos bem essa soma de acasos que você menciona.<br />
<strong>Bresson</strong> Sim. Isso quer dizer que você chega a uma encruzilhada, onde<br />
encontrará acasos. Mas você nem mesmo tem que escolher. O acaso<br />
lhe fará escolher virar à direita em vez de à esquerda. Então chega em<br />
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