07.02.2017 Views

Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

aramente identificados de maneira clara – com exceção do Bosque<br />

de Boulogne (em As Damas...), da cidade de Ambricourt (através<br />

da placa no início de Diário de um Padre), ou ainda da Ponte Neuf<br />

(através da placa luminosa em Quatro Noites de um Sonhador). E<br />

mesmo quando ele o faz, isso não nos impede de continuar tendo dificuldade<br />

em reconhecer esses lugares: pois eles adquirem uma aparência nova,<br />

estranha, “original”, típica de lugares jamais vistos antes, exceto num<br />

filme de <strong>Bresson</strong>.<br />

Isso talvez se deva, em grande parte, justamente à extrema<br />

particularidade de seu ponto de vista, singular em vários sentidos,<br />

pois é sempre o mesmo tipo de imagem que vemos, devido à distância<br />

focal proporcionada pela objetiva 50 mm (média), a única empregada<br />

por <strong>Bresson</strong> em todos os planos de seus filmes 15 . Cobrindo um campo<br />

de 47 o , a objetiva 50 mm é aquela que corresponde melhor à visão<br />

humana, já que não deforma a distância entre a câmera e o objeto –<br />

ao contrário dos efeitos de distorção da perspectiva provocados pelo<br />

emprego de uma teleobjetiva (por exemplo, a 100 mm) ou de uma<br />

grande-angular (como a 18 mm). Por outro lado, o uso sistemático<br />

da 50 mm define uma posição “respeitosa” em relação ao objeto, pois<br />

não podendo “trapacear” com efeitos de aproximações ou distanciamentos<br />

ilusórios, a câmera deve sempre guardar mais ou menos a mesma<br />

“boa” distância – e no caso de <strong>Bresson</strong>, uma distância bastante próxima<br />

do objeto, já que ele aprecia particularmente os planos detalhe e os<br />

planos próximos.<br />

Além disso, ao contrário de um psicologismo naturalista que<br />

busca, num cinema mais convencional e através de muito controle, dar<br />

aos personagens uma aparência de espontaneidade, <strong>Bresson</strong> chega, a<br />

partir de uma exacerbação do controle – uma automatização, de certo<br />

modo, mais condizente com a “máquina” cinematográfica –, a algo<br />

(uma fagulha muitas vezes sutil e que muitos aproximam da “graça”<br />

divina) que escapa ao modelo e, logo, ao personagem. Como se somente<br />

ao aparentar-se a uma máquina – ou a um animal, respondendo antes<br />

aos instintos que à razão –, o homem pudesse exprimir aquilo que<br />

possui de mais autêntico, de mais precioso, de mais sagrado. É justamente<br />

essa “concretude” – poderíamos dizer bruta, fotográfica – das<br />

imagens e dos seres, ao mesmo tempo realista e elíptica, que torna as<br />

imagens de <strong>Bresson</strong> tão únicas e sedutoras. E a simples beleza do cotidiano<br />

– ainda que estilizado – aliada à força da presença dos seres e<br />

dos objetos nelas revelados continuam a nos fascinar.<br />

15<br />

Como o próprio <strong>Bresson</strong> esclarece, p. 55: “trocar a todo instante de lente é como trocar a todo instante<br />

de óculos”.<br />

018

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!