Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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aramente identificados de maneira clara – com exceção do Bosque<br />
de Boulogne (em As Damas...), da cidade de Ambricourt (através<br />
da placa no início de Diário de um Padre), ou ainda da Ponte Neuf<br />
(através da placa luminosa em Quatro Noites de um Sonhador). E<br />
mesmo quando ele o faz, isso não nos impede de continuar tendo dificuldade<br />
em reconhecer esses lugares: pois eles adquirem uma aparência nova,<br />
estranha, “original”, típica de lugares jamais vistos antes, exceto num<br />
filme de <strong>Bresson</strong>.<br />
Isso talvez se deva, em grande parte, justamente à extrema<br />
particularidade de seu ponto de vista, singular em vários sentidos,<br />
pois é sempre o mesmo tipo de imagem que vemos, devido à distância<br />
focal proporcionada pela objetiva 50 mm (média), a única empregada<br />
por <strong>Bresson</strong> em todos os planos de seus filmes 15 . Cobrindo um campo<br />
de 47 o , a objetiva 50 mm é aquela que corresponde melhor à visão<br />
humana, já que não deforma a distância entre a câmera e o objeto –<br />
ao contrário dos efeitos de distorção da perspectiva provocados pelo<br />
emprego de uma teleobjetiva (por exemplo, a 100 mm) ou de uma<br />
grande-angular (como a 18 mm). Por outro lado, o uso sistemático<br />
da 50 mm define uma posição “respeitosa” em relação ao objeto, pois<br />
não podendo “trapacear” com efeitos de aproximações ou distanciamentos<br />
ilusórios, a câmera deve sempre guardar mais ou menos a mesma<br />
“boa” distância – e no caso de <strong>Bresson</strong>, uma distância bastante próxima<br />
do objeto, já que ele aprecia particularmente os planos detalhe e os<br />
planos próximos.<br />
Além disso, ao contrário de um psicologismo naturalista que<br />
busca, num cinema mais convencional e através de muito controle, dar<br />
aos personagens uma aparência de espontaneidade, <strong>Bresson</strong> chega, a<br />
partir de uma exacerbação do controle – uma automatização, de certo<br />
modo, mais condizente com a “máquina” cinematográfica –, a algo<br />
(uma fagulha muitas vezes sutil e que muitos aproximam da “graça”<br />
divina) que escapa ao modelo e, logo, ao personagem. Como se somente<br />
ao aparentar-se a uma máquina – ou a um animal, respondendo antes<br />
aos instintos que à razão –, o homem pudesse exprimir aquilo que<br />
possui de mais autêntico, de mais precioso, de mais sagrado. É justamente<br />
essa “concretude” – poderíamos dizer bruta, fotográfica – das<br />
imagens e dos seres, ao mesmo tempo realista e elíptica, que torna as<br />
imagens de <strong>Bresson</strong> tão únicas e sedutoras. E a simples beleza do cotidiano<br />
– ainda que estilizado – aliada à força da presença dos seres e<br />
dos objetos nelas revelados continuam a nos fascinar.<br />
15<br />
Como o próprio <strong>Bresson</strong> esclarece, p. 55: “trocar a todo instante de lente é como trocar a todo instante<br />
de óculos”.<br />
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