Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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primeiro registro em cores, articula uma relação entre cor, experiência<br />
visual e narrativa para refletir sobre as condições sociais de sua protagonista,<br />
a adolescente sem nome. Ao contrário de seus contemporâneos,<br />
porém, optou por uma concordância visual pálida e recatada,<br />
que mais se aproxima de um registro realista na composição da paleta<br />
de cores do que por uma busca visual efusiva. Essa assertiva estética<br />
de <strong>Bresson</strong> se enquadra como um registro realista, pois a realidade tal<br />
como a apreendemos é mediada mais por variantes de cinzas do que<br />
por cores saturadas ou reluzentes 3 , como se a princípio a cor de Uma<br />
criatura dócil fosse um dado irrelevante da imagem, sem qualquer<br />
tipo de filiação sensória ou simbólica.<br />
Esse descompasso entre <strong>Bresson</strong> e os cineastas europeus citados<br />
é mais aparente do que verdadeiro, a súmula cromática de Uma<br />
criatura dócil propõe uma mediação entre cor e relações de gênero<br />
que procura traduzir os acontecimentos sociais da França do final dos<br />
anos 60. Sendo assim, o cineasta também integra esse movimento especial<br />
do moderno cinema europeu no que diz respeito a uma correspondência<br />
estética e política da cor.<br />
O cineasta opera de acordo com a ruptura evidente proporcionada<br />
por seu primeiro filme em cores. Da França interiorana para<br />
a cidade de Paris é como o cineasta desloca o drama da adolescente<br />
de Uma criatura dócil, cujo nome nunca é citado durante a narrativa.<br />
Sozinha e sem dinheiro, ela vende seus pertences numa loja de penhores,<br />
cujo dono (Luc) é um homem que tem o dobro de sua idade.<br />
Durante as sucessivas vendas de seus pertences, a jovem garota aceita<br />
o pedido de casamento de Luc, apesar de deixar evidente sua rejeição<br />
ao matrimônio.<br />
<strong>Bresson</strong> de Mouchette e Ao azar, Balthazar é sensível aos<br />
planos gerais por onde desfilam suas personagens adolescentes no<br />
contexto da França provinciana e retrógrada. Em Uma criatura dócil,<br />
na paisagem outonal da Paris esmaecida e cinza, o cineasta descreve<br />
os pequenos prazeres citadinos do casal pequeno-burguês: a fachada<br />
de um cinema e seus neons, os passeios no parque, a cidade revelada<br />
em poucos planos fechados e cujos sons reverberam na casa do jovem<br />
casal, onde se concentra a maior parte das cenas. O diretor não é avesso<br />
à paisagem citadina, ao contrário, atribui um comentário à cidade<br />
3<br />
BATCHELOR, David. Cromofobia. São Paulo: Senac, 2008.<br />
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