Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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- de um asno a Lancelot, da guerreira Joana d’Arc à garota inocente em<br />
Mouchette - o interesse parece continuar o mesmo: observar a doença<br />
do mundo em corpos jovens, e, potencialmente, encontrar neles seu<br />
próprio remédio. Se se diz que há uma dureza e pessimismo em seus<br />
filmes, esta seria uma visão mais moral do que ética: <strong>Bresson</strong>, em sua<br />
melhor forma, possui uma ética, não uma moral; faz ver o bom e o mau,<br />
não o Bem e o Mal. A morte de uma personagem seria resultado de<br />
maus encontros, não do encontro com o Mal, não haveria espaço para o<br />
valor totalizante. <strong>Bresson</strong> busca o olhar de uma besta selvagem, respeita<br />
o olhar animal, do asno Balthazar e do cão anônimo que se depara com<br />
Joana na fogueira. Admira essa espécie de olhar que se espanta com o<br />
descobrimento do mundo, a cada esquina, a cada visão. Ele não sabe os<br />
motivos, as finalidades deste mundo, lhe parece absurdo tentar usar a<br />
narração como resolução. O que ele atualiza para sua espécie humana<br />
seria um político “mas que diabos estamos fazendo?”<br />
Jacques é um desses que não sabem o que estamos fazendo,<br />
ainda tateia o mundo em busca de coerência. Vemos isso já de início<br />
quando pede carona, pra onde? / não sei, um flâneur, espécie odiada<br />
de Carlitos, e mais a frente descobrimos que é ainda pior, ó não, ele é<br />
também um artista! <strong>Bresson</strong> parece ter gosto pelo desvio, pela re-visão,<br />
por aquilo que nos desloca da inércia. Jacques se lança ao mundo neste<br />
desconcerto chapliniano, perseguindo mulheres ideais na rua entre<br />
nosso riso e desespero. O filme faz uma curva arriscada, quase um capotamento,<br />
se apoiando onde é mais frágil - na ferida romântica de suas<br />
personagens. Não é a toa que Jacques encontra forças no quase-suicídio<br />
de Marthe: uma vida salva é uma espécie de renascimento. Jacques desvia<br />
o destino de Marthe / Marthe desvia o destino de Jacques. A dança<br />
das paixões se inicia.<br />
E se alguém dissesse, em sonhos, “estou dormindo”<br />
diríamos que “tem toda a razão”? 2<br />
A relação se firma na velocidade da necessidade das personagens,<br />
portanto muito urgentemente se dão os laços. Já na segunda<br />
noite Jacques se mostra apaixonado, declama em seu gravador o<br />
nome de sua amada, Marthe!, Marthe!, enquanto segue a caminho<br />
2<br />
Aforismo de Ludwig Wittgenstein em Fichas (Zettel) (<strong>Ed</strong>ições 70, Lisboa, 1989)<br />
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