Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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pergunta: “Você acha que um filme seu poderia tocar as pessoas?” Ele<br />
pode, talvez, tocar algumas pessoas, mas eu não acho que só um quadro<br />
de Cézanne tenha feito compreender ou gostar de Cézanne, tenha feito<br />
sentir como Cézanne. Leva um monte de quadros!... Imagine um artista<br />
pintando um Cézanne, sob Luís XIV. Absolutamente ninguém...<br />
Enfim: teriam colocado o quadro no sótão!<br />
Precisamos de vários filmes. E conforme fazemos filmes, é bom, e é<br />
agradável, sentir que o público, de repente, tenta se colocar em nosso<br />
lugar e gostar do que gostamos. Em suma, trata-se de nos fazer gostar.<br />
Gostar, daquilo que nós gostamos, e da maneira como nós gostamos<br />
das coisas e das pessoas... Mas onde estávamos na conversa?<br />
Delahaye: Na visão que você tem das coisas, na direção que você imprime<br />
em sua visão.<br />
<strong>Bresson</strong>: Bom. Mas então, lá vamos nós...<br />
Godard: A humanidade, por que os vícios? Para mim, eu não vi apenas<br />
vícios...<br />
Delahaye: Eu retomei esse termo que você usou no início, ao descrever<br />
Balthazar, que me surpreendeu.<br />
<strong>Bresson</strong>: O filme partiu de duas ideias, de dois esquemas, se você quiser.<br />
Primeiro esquema: o burro na sua vida passa pelas mesmas etapas de<br />
um homem; isto é, a infância: as carícias; a vida adulta: o trabalho; o<br />
talento, o gênio no meio da vida; e o período místico anterior à morte.<br />
Bom. Segundo esquema – que cruza este ou que parte dele: o trajeto<br />
do burro, que encontra diferentes grupos humanos, representando os<br />
vícios da humanidade, que fazem ele sofrer e morrer.<br />
Eis os dois esquemas, e eis porque eu lhe disse sobre os vícios da humanidade.<br />
Porque o burro não pode sofrer pela bondade, nem pela<br />
caridade, nem pela inteligência... Ele é obrigado a sofrer o que sofremos,<br />
nós.<br />
Godard: E Marie, nesse sentido, é, se ouso dizer, um outro burro.<br />
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