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Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

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O filme sustenta um momento após, retomando um anterior<br />

para esclarecer o inevitável. Esse movimento de retardo às avessas,<br />

onde o fim do evento já é conhecido de antemão e sua continuidade<br />

é uma maneira de alcançar o que lhe é essencial – ou seja, de assentálo<br />

–, corresponde justamente ao ponto catalisador da mudança mencionada<br />

acima. O Diabo provavelmente comporta a travessia até uma<br />

fatalidade anunciada: sabemos que Charles se suicidará desde o início.<br />

O motivo do suicídio é seu sentimento de abjeção perante um mundo<br />

programático – ilustrado pela leitura que Charles faz, no consultório<br />

do psicanalista, da listagem de etapas da vida do Homem –, em que a<br />

racionalidade se retroalimenta, demarcando os limites da existência e<br />

condicionando os corpos. A rigorosa decupagem instaura a dissolução<br />

do espaço e a fragmentação corpórea, funcionando como sistema de<br />

abstrações do qual é extremamente difícil escapar. Paris se torna uma<br />

instituição, isto é, deixa de ser Paris para ser cidade com vias de circulação<br />

e postos de serviços. E os jovens perdem suas idiossincrasias ao<br />

ganharem fisionomias idênticas, vestirem roupas em paleta de cores<br />

restrita e falarem em entonações monocórdicas.<br />

A morte então se apresenta enquanto resistência vital. Em<br />

termos biológicos, viscerais e concretos, morrer é a única certeza<br />

existente. Ser capaz de precipitar esse instante equivale a escolher efetivamente<br />

pelo que o corpo será afetado, ao invés de abandoná-lo ao<br />

acaso de determinações externas. O suicídio passa a ser compreendido<br />

como domínio sobre o próprio aparelho, uma forma de liberdade.<br />

Porém, é preciso saber da morte, conhecê-la e admiti-la para exercer<br />

tal potencialidade, para que ela se realize enquanto postura política.<br />

Talvez seja por isso que o destino de Charles é revelado de prontidão.<br />

Essa inversão, tão cara ao estilo bressoniano, impediria que a morte<br />

fosse mera consequência e reação a fatos, mas sim, ato fundante e<br />

original, possível autonomia do sujeito.<br />

O realismo de <strong>Robert</strong> <strong>Bresson</strong> é sintético, pois descreve<br />

a realidade a partir da elaboração de esquemas que modulam interferências<br />

sofridas por corpos-personagens, de maneira a condensar<br />

as dinâmicas do real, entendidas como oscilações entre situações de<br />

aprisionamento e libertação – a exemplo de Um condenado a morte<br />

escapou (1956), Pickpocket (1959), entre outros filmes do diretor.<br />

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