Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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que tentamos entendê-las. Todo sistema se destrói, desvendando a simplicidade<br />
de seus métodos e o vazio ao qual aspira, toda estética é eliminada<br />
e liberta a interrogação fundamental do homem sobre seu destino,<br />
sua mais antiga angústia como a fonte atual da moderna inquietude.<br />
Diante dessas noções que estão além de nós, a tentativa do artista<br />
em atingi-las e tocá-las se enche imediatamente de mistério, impossibilitando<br />
o estabelecimento de definições. Os desvios necessários da<br />
obra dão a medida da luta e do medo que existe em querer prosseguir,<br />
numa busca quase mística 4 , sempre mais longe para se perder cada vez<br />
mais. Constitui um esforço trágico e admirável o enfrentamento incessante<br />
desses limites que são menos do mundo que nossos, e tentar afastá-los<br />
sempre que nos lançamos no desconhecido (sempre nos lança no<br />
desconhecido?).<br />
Vertigem<br />
O caso é simples: a ausência de pontos de referência, sentida<br />
como algo inacabado, como a falta de algo que possamos sentir e associar<br />
à criação da obra (filme ou universo), esses sentidos que tateiam<br />
e insistem em abraçar talvez nada mais que um vazio suscitado por eles,<br />
uma matéria que eles afastam de sua obstinação para obtê-la, e que buscam<br />
para provar a si mesmos seu pleno exercício e sua capacidade de<br />
viver; esse desvario do qual todo extremo parece próximo e se confunde<br />
em nós, e tudo próximo insensivelmente imperceptível, é, exatamente<br />
– e melhor que nas obras que se querem “modernas” para melhor mascarar<br />
a superficialidade de sua proposta e os enganos de seu sistema de<br />
bracear o vento 5 (penso tanto em Buñuel quanto em Antonioni, Robbe-<br />
Grillet e Cayrol) – a situação da vertigem.<br />
Só resta confessar a vertigem e tentar curar o mal (?) pelo mal,<br />
mesmo que tudo nos leve aos limites do homem, da arte e, claro, do cinema,<br />
com <strong>Bresson</strong>.<br />
4<br />
Cf. Georges Bataille, A experiência interior, e, sobretudo, as citações de Sainte-Angèle de Foligno.<br />
5<br />
NT : Brasser le vent no original. Refere-se à atividade de controlar as velas de uma embarcação por meio<br />
de braços. (N. da T.).<br />
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