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Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

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de acontecimentos. É um traço constitutivo de todos os personagens<br />

do filme. Quando eles falam é para afirmar, com enorme parcimônia,<br />

suas exigências ou convicções, nunca para negociar ou transigir.<br />

As frases que saem de suas bocas são como blocos mostrando<br />

imediatamente para o outro que não há espaço para nenhuma<br />

negociação. Tão incorruptíveis quanto uma nota de 100 francos que<br />

sai de um caixa eletrônico. Lucien se deixa perseguir por seu chefe<br />

sem discutir. Yvon recusa secamente a proposta de sua mulher para se<br />

explicar com seu chefe a fim de manter seu emprego: é através de atos<br />

que eles irão responder – como a repetição de um refrão – à injustiça<br />

que lhes foi feita. Na moral bressoniana (da qual derivam todos os<br />

personagens de O dinheiro, que <strong>Bresson</strong> visivelmente respeita com<br />

igualdade: os fúteis, os cínicos, os traidores, assim como o homem<br />

ferido e a mulher generosa) é preferível trair o outro, roubá-lo, até<br />

mesmo matá-lo, do que trair a si mesmo numa barganha ou numa<br />

negociação na qual seria inevitavelmente necessário ceder um pouco<br />

aos desejos do outro em nome de um vínculo social. Se, nesse ponto,<br />

<strong>Bresson</strong> se mostra fascinado pela circulação casual do dinheiro, é<br />

porque, para ele, isso representa a forma mais pura, na sua abstração<br />

incorruptível, da circulação de um desejo que não teria tempo de se<br />

apegar a um pedido. Essa é sem dúvida a razão pela qual cada vez<br />

menos ele filma a troca de olhares entre dois personagens e cada vez<br />

mais se concentra nos gestos e nos objetos existentes entre eles. É o<br />

imprevisível dos verdadeiros encontros e o indizível do puro desejo<br />

(que não poderia ater-se a nenhum pedido e condena o personagem<br />

à repetição e ao trabalho de morte 1 ) que brilham em O dinheiro,<br />

enquanto tantos outros roteiros se contentam em tecer o velho fio<br />

usado das condutas e exigências.<br />

O <strong>Bresson</strong> cineasta se recusa igualmente a todas essas<br />

negociações com o espectador, que são essenciais para o savoir-faire<br />

dos criadores de cinema. Ele sempre demonstrou ter um horror<br />

instintivo aos que partilham a ideia de que “uma mão lava a outra” 2 ,<br />

formando o pacto habitual entre o cineasta e o espectador: eu lhe dou<br />

um pouco de psicologia, alguns indícios, você aceita minhas pequenas<br />

investidas e minha pequena explicação. Em <strong>Bresson</strong>, cada plano, cada<br />

frase do diálogo, cada entonação é literalmente para pegar ou largar. O<br />

1<br />

NT: Oeuvre de mort no original.<br />

3<br />

NT: Donnant-donnant no original.<br />

195

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