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Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

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este efeito de naturalismo e de documento que é tão importante no<br />

cinema de <strong>Bresson</strong> para fazer aflorar convincentemente o invisível:<br />

a fidelidade dos ruídos e as vozes testemunhais das personagens<br />

cumprem um papel destacado. Para <strong>Bresson</strong>: “esquece-se muito da<br />

diferença entre um homem e a sua imagem, e o fato de que não há<br />

nenhuma entre o som e sua voz na tela e na vida real”. Portanto, sendo<br />

a voz mais fiel que a imagem, ela dá o “caráter íntimo da personagem<br />

melhor que seu aspecto físico”. As vozes, vale recordar, são tratadas<br />

de maneira similar ao corpo dos atores ou “modelos”: submetidas a<br />

repetições constantes até a obtenção de uma atonalidade que sugere<br />

a presença do inefável.<br />

Mas o som, ainda, nos informa da existência de um fora de<br />

quadro, de um acontecer invisível. O cinema de <strong>Bresson</strong> é abundante<br />

nestes exemplos, bastando alguns: em Pickpocket o ruído dos cavalos<br />

em plena competição que se escuta enquanto Michel realiza o<br />

primeiro roubo no hipódromo; sua intensidade crescente sugere a<br />

subtração: não vemos as mãos do ladrão, mas sabemos, pelo ruído,<br />

o que está acontecendo; e quando o ruído se distancia, já aconteceu.<br />

Em Ao azar, Balthazar o grupo de amigos joga óleo na pista; não<br />

vemos os carros baterem, porém escutamos. Em Um condenado à<br />

morte escapou, o som em off é constante, e como assinala Bordwell<br />

com razão, sua importância cresce ainda mais na última parte do<br />

filme, quando se converte em principal guia para o preso Fontaine,<br />

durante a noite escura de sua fuga.<br />

Tal função de guia também abarca as palavras. As vozes são<br />

guia em Diário de um padre (onde o padre de Ambricourt confessa<br />

que Deus lhe revelou, pela voz de seu mestre, que é prisioneiro<br />

de Santa Agonia), e permanecem ainda depois da personagem<br />

fisicamente desaparecida: sobre o ícone da cruz só se escuta a voz<br />

do padre, como se esta transcendesse o corpo. Em Processo de Joana<br />

d’Arc as menções às vozes que orientam a conduta da personagem são<br />

várias, mas <strong>Bresson</strong> se cuida de representá-las; nós não as escutamos.<br />

O que escutamos em alguns casos como indicativo do sobrenatural é<br />

a música de fundo.<br />

Embora <strong>Bresson</strong> prescreva evitar a música de fundo em suas<br />

Notas sobre o cinematógrafo, não cumpre totalmente tal preceito. Em<br />

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