Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.
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ao matar a família que o acolheu, como se atuasse possuído por uma<br />
entidade estranha ao seu corpo, como se por fim se abandonasse à<br />
predestinação.<br />
O estilo minimalista de atuação em <strong>Bresson</strong> carrega uma<br />
essencialidade de movimentos que alude à essencialidade espiritual<br />
que os origina. Porém, se isto não fosse suficiente para remeter ao<br />
espírito, ali está o corpo inanimado para fazê-lo. A interrupção destes<br />
movimentos supõe a ausência da alma. O corpo inanimado é o corpo<br />
sem alma, no entanto, revela que a alma esteve ali. Se não fomos<br />
conscientes de sua existência ao ver o corpo se mover, somos quando<br />
o corpo deixa de se mover. Os cavaleiros de Lancelot do lago, cobertos<br />
por suas armaduras, eram seres humanos enquanto eram animados;<br />
quando Lancelot morre e cai sobre a pilha de companheiros mortos,<br />
só resta um monte de sucata. O que lhes falta? A força que lhes dava<br />
movimento, que os preenchia, ou seja, a alma (ou a graça). Pareceria<br />
que <strong>Bresson</strong> houvesse realizado esse filme somente para tornar mais<br />
evidente a distinção entre o envoltório material dos homens e o inefável<br />
que lhes dá vida. Mas também cabe o mistério: o desaparecimento do<br />
corpo e da alma, que converge com a ressurreição de Cristo, e que<br />
se observa nos casos de Mouchette, Marie, em Ao azar, Balthazar, e<br />
Joana em Processo de Joana d’Arc. Onde eles vão parar?<br />
Fora de quadro: o além<br />
O inefável também é aludido por outro recurso: o espaço fora<br />
de campo, e por figuras retóricas como a sinédoque e a metonímia. A<br />
sinédoque é a figura em que a parte se refere ao todo; o fragmento ao<br />
universo. Por meio dela, <strong>Bresson</strong> em seus filmes nos faz acreditar no<br />
que não vemos. Ainda mais: nos faz temer a certeza de que existe o<br />
que não vemos. Por exemplo, em Um condenado à morte escapou não<br />
há planos de localização, no entanto, sabemos que existe uma prisão,<br />
guardas, ferrovias, etc. Muitas vezes o contra-plano nos filmes de<br />
<strong>Bresson</strong> é intencionalmente demorado para fixar a atenção no olhar<br />
da personagem antes daquilo que o motiva. Aliás, Bordwell destaca<br />
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