07.02.2017 Views

Volume 1 - Robert Bresson - Via: Ed. Alápis

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

O Cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP “Paulo Emílio”), órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e o Centro Cultural São Paulo apresentam retrospectiva integral dos longas-metragens de Robert Bresson, cineasta francês entre os mais importantes nomes do cinema. Juntamente à mostra de filmes, editamos este presente catálogo, o primeiro volume da Coleção CINUSP, que visa aprofundar a temática das mostras colaborando para a formação da cinefilia do público jovem.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mos mais falando dos tambores implacáveis da Inquisição, estamos<br />

falando de músicas populares, um violão com rimas. E é ainda mais<br />

surpreendente que haja músicas cantadas em “brasileiro”!, MPB sensual.<br />

Porém, <strong>Bresson</strong> também escrevera: Forjar leis de ferro para você<br />

mesmo, nem que seja para obedecer ou desobedecê-las com dificuldade<br />

4 . Portanto, a quebra de nossa expectativa dogmática, apesar de<br />

surpreender, faz todo o sentido, como veremos.<br />

Em todos os momentos em que surge música no filme, sempre<br />

com fonte justificada, nunca over, há um encantamento (quase no<br />

sentido mágico) ao presenciarmos a execução da canção. Tudo para,<br />

o tempo se suspende, passamos a uma espécie de senso de comunhão<br />

misterioso que leva os olhares para longe, e esse “longe” parece interessar<br />

<strong>Bresson</strong>. As músicas parecem ter o valor de colocar os corpos<br />

em relação, como um incenso que os rodeia e conduz. O barco que<br />

surge atravessando a ponte, todo reluzente como uma aparição, traz<br />

o grupo de brasileiros que canta uma canção que aponta para uma<br />

potência adormecida, seus primeiros versos: eu sou um porto aberto<br />

pra canção / sou como a flor ainda em botão / que quer crescer /<br />

mas não encontra uma razão. E lá estão, em cima da ponte, Marthe e<br />

Jacques observando mudos como se nada mais existisse além daquela<br />

arca dourada. Não é difícil entender que para estas personagens não<br />

há canção que não seja sensual, que não envolva seus corpos. Isso é<br />

belamente afirmado quando Marthe observa seu corpo nu diante do<br />

espelho, quase em faíscas. A harmonia musical é exigência das personagens,<br />

existe para encantar esses encontros nos quais se permite<br />

penetrar e absorver. Portanto, existe um corpo rítmico necessário que<br />

comove a narrativa do começo ao fim, seja com o gravador, seja com<br />

as canções.<br />

O movimento amoroso que se impõe nos revela a natureza<br />

dos encontros, dos corpos que se abrem um ao outro: essa abertura é<br />

uma contaminação afetiva que não tem volta. Como diz Franz Kafka,<br />

só há interesse quando se chega ao ponto exato em que não há mais<br />

volta, quando se ultrapassa o limite. A relação de Jacques e Marthe<br />

é desse tipo em que não há como remediar um encontro que já se<br />

iniciou. Essa mistura nos remete à ideia de neutralidade em <strong>Bresson</strong>,<br />

muito bela, que funda seus filmes como imagens neutras colocadas<br />

168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!