27.02.2017 Views

Dezembro2016

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O que é então esta janela de que vos falo? É um<br />

modelo para descrever a capacidade de pensar o<br />

que está dentro e fora de nós. Um pensar aberto<br />

a ver e mostrar-se ao outro. A possibilidade de<br />

podermos pensar, perceber e representar a nossa<br />

realidade interna, aquilo que sentimos<br />

por alguém, o que esperamos do outro, o<br />

que nos assusta, o que nos satisfaz, os<br />

nossos desejos e o que nos faz sonhar.<br />

Da mesma forma, é importante poder<br />

olhar para fora e ver quem é o outro e, se<br />

nos pode ou quer dar o que precisamos,<br />

mas sobretudo o que queremos dar,<br />

cuidar, apoiar e alimentar. O resultado é<br />

uma alegre e íntima partilha, se o outro<br />

estiver em sintonia connosco. Só assim<br />

podemos encarar o compromisso, a<br />

cumplicidade e o respeito que uma<br />

relação adulta implica. Quando a janela<br />

só faz de espelho, queremos receber<br />

aquilo por que ansiamos, e não<br />

conseguimos ver o outro, depois surgem<br />

surpresas desagradáveis. O retorno do<br />

lado de lá também é essencial, senão<br />

corremos o risco de ficar vazios, tristes,<br />

deixarmos de nos apreciar, não pedindo ou<br />

exigindo aquilo de que precisamos. Na comédia<br />

romântica What Women Want, o ator Mel<br />

Gibson faz o papel de um engatatão que vive sob<br />

a forma desta escolha de amor narcísico, na<br />

busca do prazer sem se importar com os outros,<br />

alimentando-se do reflexo no espelho. Após um<br />

acidente bizarro, o personagem acaba adquirir o<br />

poder de ouvir telepaticamente o que pensam as<br />

mulheres de quem está perto fisicamente, sem<br />

estas saberem. Usa este poder para manipular e<br />

roubar as ideias da sua nova chefe,<br />

protagonizada por Helen Hunt, que tinha ficado<br />

com o lugar que ambicionava. O que o<br />

personagem não esperava é começar a perceber o<br />

lugar do outro, e sobretudo a ver esta e outas<br />

mulheres como ela são, para além do que ele<br />

podia anteriormente saber ou imaginar. É<br />

evidente que a história à boa maneira americana<br />

se desenrola até um happy end, mas o que este<br />

filme ilustra de forma muito divertida, é<br />

justamente a passagem de um amor egoísta para<br />

um amor altruísta. O amor por outra pessoa não<br />

serve apenas para que ela desempenhe um papel<br />

junto de nós, mas é um fim em si mesmo. É dar<br />

sem pensar no que se recebe. Contudo, não<br />

queremos menosprezar a importância de ser<br />

amado de volta, senão seriamos nós os<br />

explorados. Se quer escolher bem o seu amor,<br />

não se procure nele, arrisque descobrir o que é<br />

diferente de si, mas que a queira a si, partilhando<br />

o mesmo caminho. Na vida como no amor<br />

saudável, é na ligação com o diferente que se<br />

fecunda, dando nascimento aos bebés, aos<br />

pensamentos criadores, à novidade e à<br />

esperança, à cultura e à civilização!<br />

Dezembro CONSCIENTE 77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!