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A hermenêutica do sujeito - OUSE SABER!

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232<br />

A HERMENtUTICA DO SUJEITO<br />

_ Em certo senti<strong>do</strong>, sim. Só que minha resposta não<br />

pode ser a mesma em um caso ou no outro. Pois, em um<br />

caso, a resposta a ser dada deveria ocupar-se comigo. Quero<br />

dizer: eu deveria interrogar-me sobre o que faço. No outro,<br />

deveria interrogar Lacan e saber o que, efetivamente, na prática,<br />

em um campo conceitual como o da psicanálise, e da<br />

psicanálise lacaniana, conceme, de um mo<strong>do</strong> ou outro, a esta<br />

problemática <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong>, à relação <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> consigo mesmo,<br />

à relação <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> com a verdade, etc., tal como foi historicamente<br />

constituída nesta longa genealogia que tento recompor,<br />

desde o Alcibíades até Santo Agostinho. Assim,<br />

gostaria que ...<br />

_ Excluamos o <strong>sujeito</strong>. E tenhamos em conta simplesmente<br />

os conceitos lacanianos. Consideremos a função <strong>do</strong>s conceitos lacaníanos<br />

...<br />

- No meu discurso?<br />

- Sim.<br />

_ Se é assim, então lhe responderia que cabe a você<br />

dizê-lo. As idéias que estão naquilo que exponho, nem posso<br />

dizer por trás <strong>do</strong> que digo, de tal mo<strong>do</strong> estão à frente, mostram,<br />

a despeito de tu<strong>do</strong>, da maneira mais manifesta, o que<br />

quero fazer. Ou seja: tentar recolocar, no interior de um campo<br />

histórico tão precisamente articula<strong>do</strong> quanto possível, o<br />

conjunto daquelas práticas <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> que se desenvolveram<br />

desde a época helenística e romana até hoje. E acredito que,<br />

se não retomarmos a história das relações entre <strong>sujeito</strong> e<br />

verdade <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> que chamo, de mo<strong>do</strong> geral, as<br />

técnicas, tecnologias, práticas, etc., que as compuseram e regrafam,<br />

compreenderemos mal o que se passa com as ciências<br />

humanas e, se quisermos usar este termo, com a psicanálise<br />

em particular. Em certo senti<strong>do</strong>, pois, é disto que falo.<br />

Agora, o que há de Lacan no meu mo<strong>do</strong> de abordar, sem<br />

dúvida, repito, não me cabe dizer. Não saberia dizê-lo.<br />

_ Quan<strong>do</strong> o senhor diz, por exemplo, "isto é verdadeiro" e<br />

"isto não é verdadeiro ao mesmo tempo", este "não verdadeiro"<br />

não teria, afinal, uma função econômica?<br />

-Você quer dizer o quê? [risos]<br />

-1<br />

AULA DE 3 DE FEVEREIRO DE 1982<br />

233<br />

- Que, como pressuposto disto (que: o que é dito não é verdadeiro,<br />

como há pouco), não haveria a função implícita de conceitos<br />

lacanianos que vêm, precisamente, trazer esta espécie de<br />

distância entre o que é dito e o que não é ainda, ou talvez, não é<br />

jamais dito?<br />

- Pode-se chamar de lacaniano, pode-se chamar de<br />

nietzscheano também. Enfim, toda problemática da verdade<br />

como jogo, digamos, conduz, com efeito, a este gênero de discurso.<br />

Bem, tomemos as coisas de outro mo<strong>do</strong>. Digamos o<br />

seguinte: não foram tantas as pessoas que, nos últimos anos<br />

- diria, no século XX -, colocaram a questão da verdade. Não<br />

foram tantas as pessoas que perguntaram: o que se passa<br />

com o <strong>sujeito</strong> e com a verdade? E: qual é a relação <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong><br />

com a verdade? O que é o <strong>sujeito</strong> da verdade, o que é o<br />

<strong>sujeito</strong> que diz a verdade, etc.? Quanto a mim, só vejo duas:<br />

Heidegger e Lacan. Pessoalmente, como vocês devem ter<br />

percebi<strong>do</strong>, é antes <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de Heidegger e a partir de Heidegger<br />

que tentei refletir a respeito. Mas é certo que não se<br />

pode deixar de cruzar com Lacan quan<strong>do</strong> se coloca este gênero<br />

de questões. Outras questões talvez?<br />

[Passam-lhe um bilhete.]<br />

A questão é a seguinte: Na primeira aula, o senhor colocou<br />

em rivalidade o cuida<strong>do</strong> de si e o modelo cartesiano. Nas aulas<br />

seguintes, parece-me, esta rivalidade não foi mais evocada.<br />

Por quê?<br />

É curioso que você me coloque hoje esta questão, pois,<br />

de fato, havia pensa<strong>do</strong> em retomá-la um pouco, precisamente<br />

hoje, a propósito <strong>do</strong> catártico, etc. É certo que não é a questão<br />

fundamental que quero colocar. Esta, que é uma questão<br />

histórica e, ao mesmo tempo, a questão de nossa relação<br />

com a verdade, é a que, parece-me, desde Platão, desde<br />

este Alcibíades inicia<strong>do</strong>r, aos olhos da tradição platônica,<br />

de toda a filosofia, é assim colocada: a que preço posso ter<br />

acesso à verdade? Este preço é posto no próprio <strong>sujeito</strong> sob<br />

a seguinte forma: qual trabalho devo operar em mim mesmo,<br />

qual a elaboração que devo fazer de mim mesmo, qual<br />

modificação de ser devo efetuar para poder ter acesso à ver-

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