A hermenêutica do sujeito - OUSE SABER!
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il.L<br />
574 A HERMEN!UTlCA DO SUJEITO<br />
estóico: ou uma <strong>do</strong>r é tão violenta que não se pode suportá-la<br />
(morre-se logo, e portanto ela é breve), ou uma <strong>do</strong>r é<br />
suportável". E se suportável, se não nos faz morrer, é porque<br />
é leve. Conseqüentemente, ela está de to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> reduzida,<br />
senão a nada, pelo menos ao mínimo possível.<br />
Vemos pois que a praemeditatio malorum não é um pensamento<br />
imaginário sobre o porvir. É uma anulação <strong>do</strong> porvir<br />
e uma redução <strong>do</strong> imaginário à simples e despojada realidade<br />
<strong>do</strong> mal para o qual estamos volta<strong>do</strong>s. Obstruir o porvir<br />
pela simulação de sua atualidade, reduzir a realidade pelo<br />
despojamento imaginário, creio ser este o objetivo da praemeditatio<br />
malorum. E é por este meio que, quan<strong>do</strong> o acontecimento<br />
se produzir, podemos nos equipar com uma verdade<br />
que nos servirá para reduzir ao seu elemento de estrita verdade<br />
todas as representações que, se não estivéssemos assim<br />
preveni<strong>do</strong>s, poderiam comover nossa alma e perturbála.<br />
Como vemos, a praemeditatio malorum é uma paraskeué.<br />
É uma forma de paraskeué, de preparação feita pela prova da<br />
não-realidade daquilo que atualizamos neste exercício de<br />
pensamento. Isto posto, passarei logo mais a outro exercício<br />
que de certo mo<strong>do</strong> é o prolongamento deste: a meditação<br />
sobre a morte, o exercício da morte. E em seguida, rapidamente,<br />
o exame de consciência.<br />
I<br />
'-.. : .<br />
..b<br />
NOTAS<br />
1. Cf. aula de 17 de março, primeira hora.<br />
2. "Se o olho quiser ver a si mesmo (ei méllei idôn hautón), é<br />
preciso que olhe (bleptéon) um olho" (Platon, Alcibiade, 133b, trad.<br />
fr. M. Croise!, ed. citada, p. 109).<br />
3. Para esta análise <strong>do</strong> olhar, cf. aula de 13 de janeiro, segunda<br />
hora.<br />
4. Alcibiade, 124b, 129a e 132c (cf. aula de 6 de janeiro, segunda<br />
hora, e de 13 de janeiro, primeira hora).<br />
5. "Eis o que sempre deveis cantar, e cantar o hino mais solene<br />
e mais divino pela faculdade de que Deus vos <strong>do</strong>tou, a faculdade<br />
de compreender estas coisas e de usá-las com méto<strong>do</strong> (hodô<br />
khrestikén)" (Epictéte, Entretiens, I, 16, 18, ed. citada, p. 63).<br />
6. Entretiens, IlI, 13, 7 (p. 47).<br />
7. NOS animais não existem para si mesmos, mas para servir,<br />
e não seria nada vantajoso criá-los com tantas necessidades. Pensa<br />
um pouco, que incômo<strong>do</strong> para nós, se tivéssemos que velar não<br />
somente por nós mesmos, mas ainda por nossas ovelhas e jumentos"<br />
(Entretiens,!, 16, 3, p. 61; retomada deste texto em Le Souci de<br />
sai, op. cit., pp. 61-2). [O cuida<strong>do</strong> de si, op. cit., pp. 52-3. (N. <strong>do</strong>s T.)]<br />
8. Sobre o méto<strong>do</strong> (e mais precisamente o méto<strong>do</strong> cartesiano),<br />
cf. aula de 24 de fevereiro, primeira hora.<br />
9. É o próprio Husserl quem apresenta na Krisis esta visão de<br />
uma racionalidade grega que, após a refundação cartesiana das<br />
Méditations, encontra sua realização teleológica (na direção de uma<br />
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