A hermenêutica do sujeito - OUSE SABER!
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494 A HERMENtuTICA DO SUJEITO<br />
tiguidade, muito próxima, ou relativamente próxima, da relação<br />
de pedagogia. Pois, na pedagogia, o mestre [é mestre]<br />
enquanto detém a verdade, formula a verdade, formula-a<br />
como convém e segun<strong>do</strong> regras que são intrínsecas ao discurso<br />
verdadeiro que ele transmite. A verdade e as obrigações<br />
quanto à verdade estão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mestre. Isto vale em<br />
toda a pedagogia. Vale certamente na pedagogia antiga, como<br />
vale também no que poderíamos chamar de psicagogia antiga.<br />
É, neste senti<strong>do</strong>, por esta razão que a psicagogia antiga<br />
está tão próxima da pedagogia. Ela também é experimentada<br />
como uma paideía 31 • Em contrapartida, parece-me que<br />
no cristianismo, a partir de algumas mutações bastante significativas<br />
- dentre as quais, é claro, [a seguinte]: sabe-se bem<br />
que a verdade não vem daquele que guia a alma, mas está<br />
dada sob um outro mo<strong>do</strong> (Revelação, Texto, Livro, etc.) -, as<br />
coisas serão consideravelmente modificadas. E na psicagogia<br />
de tipo cristão veremos que, se é verdade que aquele que<br />
guia a consciência deve obedecer algumas regras, que ele<br />
tem alguns encargos e obrigações, o custo mais fundamental,<br />
o custo essencial da verdade e <strong>do</strong>" dizer-verdadeiro" pesará<br />
sobre aquele cuja alma deve ser guiada. E será apenas<br />
a custo desta enunciação feita por ele mesmo e sobre ele<br />
mesmo de um discurso verdadeiro, enunciação por ele mesmo<br />
de um discurso verdadeiro sobre ele, que a alma poderá<br />
ser guiada. A partir deste momento, parece-me que a psicagogia<br />
de tipo, digamos, cristão irá distinguir-se e opor-se<br />
profundamente à psicagogia de tipo filosófico greco-romano.A<br />
[psicagogia] greco-romana estava ainda muito próxima<br />
da pedagogia. Ela obedecia a mesma estrutura geral segun<strong>do</strong><br />
a qual é o mestre que mantém o discurso de verdade.<br />
O cristianismo, por sua vez, irá desvincular a psicagogia da<br />
pedagogia, solicitan<strong>do</strong> à alma - à alma que é psicagogizada,<br />
que é conduzida - que diga uma verdade; verdade que<br />
somente ela pode dizer, que somente ela detém e que não<br />
constitui o único, mas é um <strong>do</strong>s elementos fundamentais<br />
da operação pela qual seu mo<strong>do</strong> de ser será modifica<strong>do</strong>. É<br />
ni'sto que consistirá a confissão cristã 32 . Digamos que, e in-<br />
,,-':,,-<br />
AULA DE 10 DE MARÇO DE 1982 495<br />
terromperei aqui, na espiritualidade cristã é o <strong>sujeito</strong> guia<strong>do</strong><br />
que deve estar presente no interior <strong>do</strong> discurso verdadeiro<br />
como objeto de seu próprio discurso verdadeiro. No<br />
discurso daquele que é guia<strong>do</strong>, o <strong>sujeito</strong> da enunciação deve<br />
ser o referente <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>: é a definição da confissão. Na<br />
filosofia greco-romana, ao contrário, quem deve estar presente<br />
no discurso verdadeiro é aquele que dirige. E deve estar<br />
presente não sob a forma da referência <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> (ele<br />
não tem que falar de si mesmo); está presente não como<br />
aquele que diz: "Eis o que sou"; está presente em uma coincidência<br />
entre o <strong>sujeito</strong> da enunciação e o <strong>sujeito</strong> de seus<br />
próprios atos. "Esta verdade que te digo, tu a vês em mim."<br />
E isto, pois.