NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte
NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte
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possam ser mal utilizados levando ao agravamento<br />
de outros problemas.<br />
É curioso verificar que neste momento a<br />
biotecnologia está a substituir a informática no<br />
centro das expectativas e receios da sociedade.<br />
Mesmo no cinema começam a ser mais frequentes<br />
as am<strong>ea</strong>ças em forma de virus, clones, ou seres<br />
vivos geneticamente modificados. Enquanto que<br />
cada vez é mais raro as am<strong>ea</strong>ças serem robots,<br />
computadores ou outras máqui<strong>na</strong>s [11].<br />
Naturalmente, os artistas começaram a utilizar<br />
referências à biologia <strong>na</strong>s suas obras [12] . Para além<br />
disso, tem sido comum <strong>na</strong> história da arte a<br />
incorporação de novas tecnologias para criação<br />
artística. A biologia e biotecnologia não parecem ser<br />
diferente. Do mesmo modo que desenvolvimentos<br />
tecnológicos passados como a fotografia, o cinema,<br />
ou a informática foram adaptados para a práctica<br />
artística, também a biologia terá semelhante<br />
evolução. O maior obstáculo parece ser a menor<br />
acessibilidade de equipamento de biotecnologia em<br />
comparação com outras tecnologias. Ao contrário de<br />
fotografia, video ou equipamento informático, não é<br />
habitual encontrar equipamento biológico fora de<br />
laboratórios de investigação. Como consequência,<br />
artistas que desejem explorar o uso de biologia<br />
como medium necessitam de colaborar com<br />
cientistas e com as instituições onde estes trabalham.<br />
Também é ainda pouco comum (mas não inédito) a<br />
inclusão de temas científicos, em particular a<br />
biologia, no ensino artístico. Por esta razão os<br />
artistas que pretendem trabalhar nesta ár<strong>ea</strong> têm de<br />
investir um esforço adicio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> aprendizagem<br />
destes assuntos.<br />
III. A BIOLOGIA COMO NOVO “ART<br />
MEDIUM”<br />
No entanto existem correntemente vários artistas a<br />
explorar o uso da biologia como medium, embora<br />
utilizando estratégias diversas. O diferente número<br />
de opções adoptadas é bem ilustrativo das muitas<br />
oportunidades que a biologia oferece para criação<br />
artistica. Sem procurar ser exaustiva <strong>na</strong> inumeração<br />
de artistas a trabalhar com biologia, refiro ape<strong>na</strong>s<br />
alguns exemplos da diversidade que se encontra<br />
neste campo nos dias de hoje. Alguns artistas têm<br />
mostrado que é possivel trabalhar com biologia sem<br />
utilizar laboratórios científicos. George Gessert (São<br />
Francisco, EUA), por exemplo, tem procurado criar<br />
plantas or<strong>na</strong>mentais com características novas<br />
fazendo cruzamentos selectivos de plantas no jardim<br />
de sua casa [13]. Este processo não é diferente<br />
daquele utilizado pelos nossos antepassados para<br />
gerar as diferentes espécies de plantas que<br />
actualmente cultivamos. Gessert refere que existem<br />
conceitos estéticos que não é possível transmitir a<br />
não ser através de plantas vivas.<br />
Outros dois artistas americanos – Joe Davis<br />
(Boston) e Eduardo Kac (Chicago) – têm utilizado<br />
métodos de engenharia genética para introduzir<br />
ADN contendo informação criada pelos artistas em<br />
organismos vivos. Davis, provavelmente o pioneiro<br />
no uso de genética em arte, tem trabalhado em<br />
laboratórios criando ele mesmo moléculas de ADN<br />
contendo imagens ou frases codificadas [14]. O seu<br />
primeiro trabalho “Microvenus”, em m<strong>ea</strong>dos dos<br />
anos 80, consistiu em codificar em ADN a imagem<br />
dos genitais femininos e introduzir essa molécula de<br />
ADN em bactérias. Nas suas palavras, ao permitir<br />
que<br />
Fig. 2. Nature?, Marta de Menezes, 2000. Instalação<br />
<strong>na</strong> Ars Electronica 2000, Linz, Austria. Borboletas vivas<br />
com o padrão das asas modificado foram exibidas no<br />
interior da estufa.<br />
essas bactérias se reproduzissem tornou-se o<br />
artista da história com maior número de cópias do<br />
seu trabalho. Alguns anos mais tarde, em “The<br />
Riddle of Life” (o enigma da vida) codificou uma<br />
molécula de ADN contendo a frase “Isto é o enigma<br />
da vida. Conhece-me e conhecer-te-ás a ti mesmo”<br />
que também introduziu em bactérias. Estes trabalhos<br />
gerara m grande polémica quando <strong>na</strong> altura da sua<br />
primeira apresentação pública foram impedidos de<br />
ser exibidos. Estes dois trabalhos deste artista<br />
estiveram em Portugal em 2002, no Lugar Comum,<br />
em Oeiras, <strong>na</strong> exposição “A Biologia como<br />
ArtMedium”. Mais recentemente, Davis codificou<br />
um mapa da Via Láct<strong>ea</strong>, a galáxia onde habitamos,<br />
como um bitmap, e codificou este bitmap em ADN.<br />
O seu objectivo consistia em introduzir a molécula<br />
de ADN no genoma de um rato de laboratório, no<br />
entanto até este momento não teve autoriza ção para<br />
fazê -lo. Davis também desenvolveu projectos não<br />
relacio<strong>na</strong>dos com a genética. Por exemplo, criou um<br />
105<br />
Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL