NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte
NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte
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As imagens passam a ser utilizadas de uma<br />
forma racio<strong>na</strong>l e pragmática, uma verdadeira<br />
economia. Para os autores clássicos, Aristóteles<br />
e Xénocles, o substantivo, economia, tor<strong>na</strong> os<br />
objectos em tratados, fazendo com que o seu<br />
dis curso seja inseparável de uma reflexão sobre<br />
o lucro e a utilidade da imagem, segundo<br />
Mondzain, de um modo geral esta visão implica<br />
uma organização de uma ordem tendo em vista<br />
um lucro, material ou não, situação que gover<strong>na</strong><br />
o nosso mundo sócio-cultural.<br />
É provável que <strong>na</strong>da possa explicar como as<br />
ima gens aparecem e desaparecem e porque é<br />
que são elementos carregados de significado.<br />
Existe quase como que uma religiosidade<br />
fanática desta «civilização da imagem» em<br />
possuir imagens que estão associadas<br />
sobremaneira à ideia de desejo – aquilo a que se<br />
aspira ou de que se tem vontade. Este modo de<br />
estar perante a imagem trás consigo uma<br />
“cegueira” própria, um advento da falta de<br />
lógica, que se explica porque as imagens <strong>na</strong><br />
r<strong>ea</strong>lidade não são para “ler”, se não para<br />
consumir. A Marilyn Monroe, assim como os<br />
acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, são<br />
em si o ícone desta r<strong>ea</strong>lidade.<br />
A imagem constituiu-se/afirmou-se no<br />
universo da era tecnológica, que é o suporte de<br />
massificação mais desenvolvido das sociedades<br />
capitalistas. Ao conhecermos o mundo através<br />
das suas imagens, conhecemos o r<strong>ea</strong>l através<br />
das suas representações icónicas. A imagem<br />
encarrega-se de cobrir as distâncias, as ausências<br />
e os desconhecimentos. De facto, a partir<br />
do sec. XX, acelera-se a automatização das<br />
técnicas de figuração. Cada uma das grandes<br />
inovações tecnológicas no domínio da imagem<br />
confisca aos artistas um pouco mais de<br />
privilégios. A imagem deixa de ter necessidade<br />
deles. Coagidos a abando<strong>na</strong>r um território sobre<br />
o qual haviam rei<strong>na</strong>do durante meio milénio,<br />
procuram agora um outro que lhes seja próprio,<br />
em que a sua subjectividade possa desabrochar<br />
livremente. É por isso que, mais do que nunca,<br />
continua a expansão sem limites da<br />
reivindicação da subjectividade (razão pela qual<br />
as escolas de arte são em si um logro, ou por<br />
outro lado, devíamos criar, não escolas no<br />
sentido formal do termo, mas centros de<br />
exploração de linguagens artísticas).<br />
Com certeza que neste discurso da imagem<br />
não poderia deixar de referenciar, e de fazer<br />
aqui o ponto de charneira do advento numérico<br />
<strong>na</strong> imagem ou a imagem digital – vulgo<br />
desig<strong>na</strong>ção. A imagem numé rica, em parte, não<br />
se afasta da saga imemorial da busca da<br />
reconstrução do r<strong>ea</strong>l. No entanto o sujeito<br />
aparelha-se doravante de um tipo de máqui<strong>na</strong><br />
comple tamente novo, o computador, que já não<br />
visa, no seu princípio, representar o mundo mas<br />
simulá-lo. Além disso, imagem e sujeito têm<br />
agora a capacidade de interagir – ou de dialogar<br />
– quase, instantan<strong>ea</strong>mente, em tempo r<strong>ea</strong>l. Esta<br />
imediatez é bastante relevante, porque trás para<br />
dentro do conceito da produção da imagem<br />
artística o improviso, instantâneo, a decisão <strong>na</strong><br />
hora sem responsabilidades do contínuo. Deixase<br />
de lado as anteriores questões da causa e<br />
efeito e passamos a ser espectadores de um<br />
tempo descolado da r<strong>ea</strong>lidade, somos produto,<br />
enquanto participadores, de simulacros e de<br />
alegorias, passamos de espaços contemplativos<br />
para espaços imersivos. Já não nos importamos<br />
com o que está representado mas com o que é<br />
que representa (as campanhas da Benneton são<br />
o exemplo). Estamos perante toda uma atitude<br />
ideológica, onde as consequências não são<br />
verdadeiras consequências mas resultados.<br />
O tempo deixa de ser vertical e passa a ser<br />
horizontal, transversal, o artista não vê num<br />
sentido mas a sua visão passa a ser pluridireccio<strong>na</strong>l,<br />
as suas referências deixam de<br />
acreditar <strong>na</strong> linha do tempo e passam a acreditar<br />
no plano do tempo.<br />
Como diz Edmond Couchot, “A maioria<br />
destas reflexões sobre as relações do sujeito e<br />
da técnica foi suscitada pelas tecnologias das<br />
telecomunicações e pelo funcio<strong>na</strong>mento das<br />
redes numéricas que modificam mais<br />
explicitamente a posição do sujeito, colocandoo<br />
numa situação de conexão em que os efeitos<br />
de distribuição são muito acentuados. Mas a<br />
aparelhagem do sujeito não se limita ape<strong>na</strong>s ao<br />
domínio das telecomunicações, produz-se<br />
sempre que o sujeito se encontra numa situação<br />
dialógica com a máqui<strong>na</strong>. Logo que é<br />
aparelhado a um dispositivo numérico, on-line<br />
ou off-Iine, o sujeito vê as suas possibilidades<br />
sensíveis e operacio<strong>na</strong>is serem desmultiplicadas<br />
através das interfaces.” [26].<br />
A simulação numérica não afecta ape<strong>na</strong>s o<br />
sujeito, afecta também a imagem e o objecto.<br />
No mundo virtual, o sujeito partilha com o<br />
objecto e a imagem propriedades idênticas, que<br />
são próprias da simulação. Objecto, sujeito e<br />
imagem desalinham-se e deshierarquizam-se.<br />
Entre cada um deles, introduzem-se as<br />
interfaces e as linguagens de programação que<br />
religam, ao mesmo tempo que separam o mundo<br />
r<strong>ea</strong>l do mundo virtual, forçando-os a comutar.<br />
Objecto, sujeito e imagem derivam então uns<br />
em relação aos outros, interpenetram-se e<br />
hibridam-se. Daí o fim da posição epistémica<br />
tradicio<strong>na</strong>l do sujeito. Já não se mantém mais à<br />
distância da imagem, no face a face dramático<br />
da representação, converte-se nele; desfocaliza-<br />
24<br />
Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL